NICOLAU SAIÃO

«Não sou nenhum piegas!»

  "Foi difundido ao princípio da noite pelas agencias internacionais noticiosas, estando já a extravasar para os jornais estrangeiros e nacionais de referência, a notícia inquietante e palpitante a um tempo do atentado frustrado cometido por 3 indivíduos - já detidos e recolhidos ao calabouço onde aguardarão instrução do processo - contra o Doutor José Jagodes, professor catedrático de Informação e Contra-informação no Instituto de Altos Estudos Político-Sociais de Creteil-sur-Sène e, ainda, regente plenipotenciário de Mecânica Existencial na Sourbonne. 

  O Doutor José Jagodes, que lançou recentemente - o que se tornou um "caso" apelativo na circunstancia intelectual de Lisboa e Porto e, adicionalmente, em Paris, Londres e Estrasburgo - subordinado ao titulo "Causas e Inconsequências da Decadencia nas Sociedades Franchising da Média Europa", estava de visita a Portugal na condição de visitante ocasional (ou seja, para vigiar as obras de decoração do seu novo apartamento em Carcavelos, para onde se transferiu nas férias do Natal acompanhado da sua actual companheira, a ex-actriz manequim venezuelana Eládia de la Paz Gonzalez e actual protagonista da telenovela da TVII "Depois do furacão/Después del huracán", a primeira e por isso inovadora telenovela bilingue). 

  Conseguímos, mediante os esforços do jornalista, actualmente freelancer Pedro Rosa Montes, um exclusivo para a nossa página primacial, onde as entrevistas do Doutor têm sido dadas a lume. E amanhã ao fim do dia, ou no dia seguinte, forneceremos então ao Leitor a peça que já perspectivamos histórica. Mas podemos desde já adiantar que o Doutor Jagodes se encontra bem, apenas com um ligeiro "galo" na parte occipital, por no decorrer da escaramuça ter dado com a cabeça num vão de porta. Recorda-se que o Doutor, grande cultor das artes marciais (foi na primeira juventude campeão ibérico de enki-do, disciplina que ao contrário do judo-savate não se pratica de pés nus mas com botas caneleiras para agravar o poder do impacto no adversário) e cinturão negro de spetnaz (disciplina praticada pelos antigos membros da armada soviética) não teve dificuldade em dominar os díscolos, que ao contrário do que se divulgou não estavam armados de caçadeiras mas sim de brownings 48 como os vulgares e cada vez mais numerosos assaltantes de joalharias nacionais.  

  Ao primeiro agente da autoridade, chegado já com a sarrafusca terminada, ao fim de 16 minutos, o Doutor Jagodes declarou-lhe tranquilizando-o: "Já resolvi o assunto, moço. Não sou nenhum piegas!", o que curiosamente fez sorrir o bom do chui. 

  O Doutor José Jagodes regressa amanhã a Paris ao princípio da noite, num dos jactos da antiga TAP, hoje com um nome chinês que ainda não conseguimos pronunciar correctamente pois foi apenas há duas semanas que a ex-transportadora lusa foi adquirida pelo capital da República Popular da China."

 

Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.  

Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc.   

Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).    

No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).       

Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).  

Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”. 

Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas” (Brasil), “Revista Decires” (Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...  

Prefaciou os livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e “Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora). 

Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003. 

Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).  

Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.  

Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.  

É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.