Todas as pessoas têm as suas armas de defesa – instintivas ou artilhadas
mais ou menos adequadamente. Assim como aqueles animais que, carentes de
genica ou de ferocidade, encenam truques de camuflagem, digamos, como
sejam mudanças de cor, ruídos ou berros mais ou menos intempestivos,
etc.
Tudo para afastarem, ou manterem ao largo, os vigorosos sinais de perigo
ou os actos expressos que os podem deixar em palpos de aranha.
Também tenho tido, pela vida fora, os meus truques à semelhança desses
referidos…
Na esperança, muitas vezes perfurada, de manter adversários potenciais
ou inimigos provados à distância conveniente. Uns têm pegado, outros nem
tanto.
Mas, como diria Mateus Pippebarem, “o que se há-de fazer, rai’s vos
estrafeguem?”.
E
tinha razão o talentoso musicólogo e pensador.
Como hoje, o que me vem já de há coisa duma semana, me sinto muito farto
desta jiga-joga (refiro-me ao ambiente social, ao habitat que nos
rodeia transversalmente, digamos assim com crueldade), bastante
amarrotado em matéria de vivacidade varonil, baixo um pouco a guarda
e vou ser sincero por uns minutos. E deus praza que nenhum proto-sacana,
nesse ínterim, aproveite para me lixar ainda mais qu’ó que já estou.
(Assim como assim, é uma vez sem exemplo e como se calhar ninguém vai
reparar…alma até Almeida).
Pois um dos meus truques é encenar que sou muito corajoso.
Como fui dotado duma constituição robusta e duma expressão façanhuda, o
que deu para ter andado no pugilismo com relativamente bons resultados
(fui, como alguns de excepcional memória estarão lembrados, vice-campeão
militar de meios-médios ligeiros, nos bons velhos tempos em que também
havia bola, atletismo, equitação e esgrima), a coisa tem pegado…Muitos
criaram-me um certo…medo – quando, se me têm batido o pé com temeridade,
eu teria metido o rabo entre as pernas e batido em retirada!
E
o mesmo se diga no plano da escrita: tenho espingardeado certos
verbos-de-encher, do Soares a operadores públicos do mesmo jaez, do
antigo premier a certos poetinhas e escrevicadores da capital e
da província, de protagonistas do pervertido sistema judicial a
padralhada e afins…
Tem ido tudo a eito!
Mas mal os visados sabem que durante dias me torço todo por dentro.
Chego a ter suores frios. E noites mal dormidas!
Ou seja: temo e não é pouco que – apesar de eu não ter importância
nenhuma, ser portanto fraco pitéu para os seus deles dentes acerados –
haja o perigo dalgum dos ditos manguelas num dia de cólera eventual me
tomar de ponta e, à guisa de dar o exemplo, me meter em
trabalhos.
Até que um tempinho passe, todo eu sou tremeliques.
Este é um dos meus aspectos secretos.
O outro é este: simular – mas nisto não serei original, dezenas para não
dizer centenas de confrades publicistas, para além naturalmente dos
manos da classe política, sofrerão da mesma circunstância – que me
interesso muito pela coisa pública, pelo bem comum como usa dizer-se.
Quando a verdade é que me estou urinando para o meu semelhante,
para o vulgar cidadão que anda por cá a receber as benesses dos que nos
têm, vão e continuarão a governar.
(Eu sei que estou a desiludir um pouco a meia-dúzia que tinha por mim
algum, digamos, apreço ou mesmo até admiração, mas hoje o dia – e um dia
não são dias, pôça – é de total franqueza e frontalidade, ainda que isso
fira para sempre a minha efígie).
Aquilatem por estes exemplos: como consta que eu não gosto de hipócritas
e de pachelgas, de falsos-irmãos demagogos e de pirretes, seria de
esperar que eu tivesse ficado triste com a vitória do politicamente
correcto Hollande, que soube ter a habilidade de fingir que vai pôr a
França no caminho certo e ser uma lufada de ar fresco ante o já
desbotado e cheio de tiques Sarkozy.
Pois sim…
E
a verdade é que fiquei sadicamente contentíssimo!
O
parceiro e os seus parceiros vão, a meu ver, dar cabo da nação dos
comedores de rãs (como os ingleses, tradicionais inimigos ontem como
hoje, dizem com certeiro humor) num aninho ou coisa. Vai uma apostinha?
Basta ver-se o gosto com que uma das câmaras de TV se deteve, por um
largo instante, sobre um negro e duas moçoilas com o toutiço tapado e
sorrindo com esmero, no meio de tanta gente. Não foi por acaso, acho eu.
É
uma indicação clara de que os amigalhaços de turbante e a futura larga
onda de bem-vindos imigrantes terá da nova gerência fraternal
acolhimento.
O que mais tarde ou mais cedo dará nos boulevards grossa
bernarda. Até já lambo os beiços…
Também fiquei contente pela alegria do nosso estimado A.J.Seguro, pela
outra do extenso grupo de como se costuma dizer adeptos de Sócrates e
pela do excelso pai Soares, que mal deram os resultados foi de
pronto filmado a colocar o punho no ar soltando ao mesmo tempo esta
frase inspirada e reveladora: “E agora, à Bastilha!”.
(Têm de concordar: para alguém com os pés para a cova - lagarto, lagarto
– é ter-se muita coragem e espírito de combate, carago!).
Já gostei menos do que houve na Grécia: fiquei triste porque ali os
pasokas e outros papandreus ficaram de rabo ao léu. Mais uns meses e
eles vingariam, escaqueirando definitivamente a Arcádia, os bárbaros que
se fartaram de levar na tromba em Salamina, Termópilas, etc…Mas mesmo
assim talvez não leve muito tempo.
E, com a maldade que hoje me deixarão ter, uma pergunta sádica mas terna
aqui deixo a pairar: será isto o princípio do fim em rota de encontro
para o 2012 dos sacerdotes Maias?
Olhem que eu não disse nada! Não me queiram mal!
Fica com estima (tá bem, deixa…) o vosso et nunc et semper
ns |