NICOLAU SAIÃO

Três comentários

  Como os confrades se têm dado conta, os espaços de liberdade na imprensa de topo ou nos lugares interactivos de referencia têm estado a restringir-se.

  Tal estado de coisas começou sensivelmente a meio do primeiro consulado socratista e, daí para cá, devido a circunstancias que me dizem ser especiais (por mor da crise, repontam alguns), tem-se agravado.

  Há, no entanto, órgãos que permanecem íntegros e dignos, nesta democracia tendencial. O TriploV é disso exemplo, como tenho – e tendes, decerto – constatado através do tempo.

   Um outro é o fórum do Diário de Notícias. Tanto quanto posso avaliar, ali não se exerce censura. Essa figura, relapsa e duvidosa, não tenho visto que tenha ali guarida.

  Nele tenho comentado com toda a liberdade.

 Ao que creio, pelo que tenho sentido, apenas afastam os textotes pornográficos e as expressões rascas e baixamente acanalhadas.

 Nunca me tocaram num comentário.

 E por isso, com aprazimento,  aqui os louvo. 

 Os 3 trechos que vêm a seguir escrevi-os em comentário a notícias ali dadas a lume.

1. Breivik não irá a julgamento, foi considerado inimputável

     Sejamos sensatos. E lúcidos. O problema é apenas este: o eticamente corrupto e politicamente correcto estado norueguês não vai levar o monstro a julgamento porque, no decorrer do mesmo, ficaria patente que a acção tresloucada deste homem é uma consequencia da manipulação, do cinismo e do cripto-fascismo (na acepção cunhada por Umberto Eco) que aquela sociedade tem expandido por décadas.

  Tal como as que também se pautam por aquele tipo de “trabalhismo”.

  Não é pois por verdade científica mas por estratégia cínica, não por equilíbrio mas por manha, que os poderes noruegueses assim procedem. Ou sejam: trocam a vida dos abatidos pela sua tranquilidade presuntiva.

  Não me parece que a longo prazo o truque surta efeito!

2. Sindicato de chefes da PSP vai apresentar queixa crime contra os autores do ataque à sua página de Internet

     Acho muito bem que efectuem queixa. E, paralelamente, que exerçam acção contra díscolos e bandidos, sejam eles privados ou membros do Poder.

  Dito isto, é inegável que nos últimos tempos tem havido um esforço violento para denegrir a Polícia. E há que dizer: neste Portugal corrompido e desqualificado por um Sistema Judicial pervertido e hipócrita vendido aos poderes, só por acção desta corporação o país não entrou mesmo no abismo.

   Claro que entre os agentes sérios e pundonorosos há ovelhas negras. Punam-se sem contemplação. Mas louve-se o polícia decente, cumpridor e que faz a diferença nesta pátria.

  Os que tentam colar à PSP um labéu maldoso por vezes parecem-me ser partidários, sim, de totalitarismos que recusamos firmemente.

3. Juízes pedem aos deputados respeito pela Constituição

    Quando ouço esta expressão "Associação Sindical dos Juizes Portugueses", uma sensação de vergonha me arrepanha o estômago. Não por mim, por nós, mas por eles. E já que eles claramente não a sentem, sinto-a eu. Presto com isso, creio, um serviço ao país, à nação, à Pátria.

   Estes senhores, evidentemente, não a podem sentir. Não por velhacaria, mas porque estão cegos devido ao uso imoderado de um poder que se enrolou com os politicastros. Perderam a noção dos limites e vão, como dizia Churchill, perder a seguir também a honra.

   Deviam nobremente manter-se num nível impoluto, para terem autoridade moral para castigar os que malbaratam ou subtilizam o erário público.

   Assim, do povo, já só recebem desconfiança. O que é compreensível, convenhamos. Basta lerem-se opiniões avulsas nos jornais. Basta auscultar-se o simples transeunte.

   Algo está muito mal no reino togado do pequeno país plantado à beira-mar…

                                                                                 ns

Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.  

Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc.   

Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).    

No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).       

Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).  

Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”. 

Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas” (Brasil), “Revista Decires” (Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...  

Prefaciou os livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e “Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora). 

Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003. 

Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).  

Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.  

Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.  

É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.