NICOLAU SAIÃO

À rasca?

Caros/as confrades  
 
 Não tenho grande admiração pelos eventuais próceres-intervenientes da chamada manifestação da Geração à Rasca. Não porque seja impermeável aos seus problemas, mas porque penso que este protesto de agora, com algum figurino de moda habitual em Portugal, de alfacinhismo crítico típico (interactividades, etc, sempre com um tom de provincianismo disfarçado de capital e paisagem...) finge ignorar que essa mesma juventude andou muito tempo a fazer orelhas moucas aos avisos que lhes chegavam de muitos lados - porque claramente pensavam que as barbas nunca lhes chegariam a arder.
 Como usa dizer-se, agora é que lhes chegaram os quereres...
 
 Dito isto, tenho no entanto de dizer que o que nos chega pelos mídias, badalado de maneira tão típica em regimes para-autoritários e que só surpreende quem não tenha nehuns conhecimentos mesmo de contra-informação, deixa entender-se que o País está cada vez mais a mergulhar no cinismo incompetente que, a breve trecho, deverá descambar na repressão pura e simples.
 
 O cavaquismo ficou manchado pela repressão contra os buzinadores da Ponte (lembram-se?) o socratismo que agora ergue no ar a cabecinha de exdrúxula centopeia fica-lo-á, decerto, pela atitude para com a manifestação em causa - enquanto não chegam quiçá piores dias e mais bravas acções.
 
 É de uma sordidez muito considerável vir trombetar-se nos mídias (e nenhuns serviços de segurança secreta, realmente competentes, deixaria que isto se badalasse assim, excepto se a intenção for mesmo intimidar e não os presuntivos grupelhos de extremas esquerdas ou direitas, meros fantasminhas entre nós, mas sim os propugnadores pacíficos et pour cause da dita Geração.
 
 Com efeito, num Estado verdadeiramente bem policiado e sem vezos autoritários, nunca seria necessário porem-se em erecção serviços secretos. A simples actuação, firme e democrática, da Polícia de Segurança Pública bastaria!
 
 Os serviços secretos devem, sim, ser lançados contra associações terroristas, fideístas ou não, nunca contra rapaziada à rasca.
 
De contrário, podemos de facto pensar, e espero que ainda escrever sem ameaças ou novas típicas intimidações, que como o mouro recém-convertido estão a fazer muito barilho por pouco toucinho.
 
 Mas talvez a intenção seja essa. E isso é que é democraticamente de lamentar.
 
 O abrqs e o bjh do
 n.
 

Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.  

Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc.   

Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).    

No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).       

Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).  

Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”. 

Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas” (Brasil), “Revista Decires” (Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...  

Prefaciou os livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e “Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora). 

Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003. 

Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).  

Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.  

Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.  

É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.