NICOLAU SAIÃO

Presentinhos de Natal

"A finalidade de uma obra de arte é a de tornar sensível o mistério dos elementos que esta põe em jogo" disse um dia Michel Leiris. Dizendo de outra forma, é uma comunicação especializada que, contudo, possui em si uma mistério frequentemente intraduzível e, daí, incomunicante no largo mundo em que se transformou (em que transformaram) o universo societário. A comunicação por extenso ficou assim transmutada em algo de quase secreto, de imarcescível e que, para que haja apreensão dos seus ritmos mais solenes, carece de chaves, de pistas - que no entanto estão ao alcance de quem se disponha a prescrutá-las, a inquiri-las mediante um profundo apego à inteligencia dos afectos que se têm da Arte e da Humanidade encaradas como dois continentes de consciencialização e de ética das vivências.

Como se usa dizer em linguagem do dia-a-dia, "há males que vêm por bem" e, se esta "incomunicação comunicante" coloca aos menos avisados obstáculos de entendimento, no fundo é ela que garante que os "objectos artísticos" criados não são meras matérias filhas do lugar-comum, da facilidade primária e da vulgaridade manipulatória.

Ao oferecer a todos esta meia-dúzia de obrinhas que congeminei nas minhas horas, presentinhos de Natal modestos de quem não é grão-fino, saliento que as dificuldades - tal como na Arte - podem ser matéria de adequação para um mais lúcido viver futuro, afastadas que foram as "facilidades" burlonas que buscaram nos capturassem e afinal mais não eram que ouro de pechisbeque. Com coragem, brio e determinação, apesar dos tempos negros que já estão sobre a nossa cabeça, busque-se que os tempos a vir tenham um vigor mais fecundo.

  O natalício proverbial abraqson do vosso

  ns 

A escrita

 

A lenda

 

Campos reais do sonho

 

Parábola

 

Recordação

 

Teatri mundum

Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.  

Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc.   

Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).    

No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).       

Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).  

Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”. 

Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas” (Brasil), “Revista Decires” (Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...  

Prefaciou os livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e “Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora). 

Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003. 

Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).  

Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.  

Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.  

É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.