NICOLAU SAIÃO

Não

Para a memória das gerações seguintes

“NÃO. NESTA TERRA DE POBRES E DE CANALHAS
AINDA HÁ HOMENS HONRADOS”

(Palavras endereçadas por João António Venâncio*, preso depois durante 6 anos nos calabouços de Peniche, aos Pides que o ameaçavam, depois de perpetrado espancamento, de que não voltaria a casa se não se desdissesse do que escrevera num panfleto).

 

“Em 2005, foi eleito pela promessa de 150.000 empregos sem que ninguém lhe perguntasse como surgiriam eles, para de imediato fazer exactamente o oposto do que prometera. Em 2008, três anos decorridos de submissão a uma autocracia autista e arrogante, com uma economia em queda, já poucos se preocupavam ou sequer se recordavam dessa promessa, mais ocupados em manter o que tinham a qualquer custo, no meio de um país crispado pela divisão criada entre os portugueses a pretexto de aparentes reformas, de modo a melhor serem manobrados. Em 2009, surgida a crise internacional, essa queda acentua-se rapidamente, passando a ser a "conjuntura externa" o justificativo com que procurava branquear o que vinha a ferir de morte o país, numa operação de propaganda sem paralelo desde os tempos do Estado Novo, a que nem sequer faltava a referência à Pátria traída por uma tenebrosa e inconsciente Oposição.

De então para cá, num Portugal desorientado, onde o desrespeito pela palavra dada, a mentira, o expediente económico, a agressividade, o conluio, o golpe baixo, a descrença, a corrupção e o cinismo se firmaram e generalizaram como reflexo das acções de quem deveria constituir o exemplo, nesse Portugal anémico, azedo, animicamente exangue, nesse Portugal quase moribundo, um primeiro-ministro, com a ferocidade ridícula de um fantoche de feira, agita-se, golpeia até a sua própria sombra, num espectáculo abjecto de vale-tudo, próprio de alguém que perdeu, definitivamente, o pé. De alguém que, tal como a sua escolha primeira para a Educação, se situa, aparentemente, à beira da perda do equilíbrio psíquico. De alguém cuja credibilidade tem por único fundamento a propaganda com base no culto da personalidade.

O governo viu-se, hoje, obrigado a pedir "assistência financeira" à Europa. O país, humilhado e ofendido, que ele destruiu a um ponto que nem mesmo Salazar conseguiu, está de luto em trajes de pedinte”.

(Ao fim da noite de dia 6 de Abril de 11, quarta-feira)

(Textos como este têm ultimamente valido ameaças ao seu autor, Joaquim Simões, que sustenta e dirige o Blog “Portugal e outras Touradas”.

A certos energúmenos, pelos vistos, até a existência de um blogue com a leitura diária de 400 visitas incomoda.

Pela minha parte, aqui lhes fica endossada a maior repulsa e desprezo, como em tempos passados dei aos pides e seus donos manteúdos.

* O preso em causa, contra o que os sabujos pensavam, voltou a casa. Doente, mas voltou. E ainda durou mais 20 anos…

Foi depois sogro do signatário. E aqui lhe deixo a minha homenagem.
ns
 

Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.  

Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc.   

Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).    

No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).       

Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).  

Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”. 

Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas” (Brasil), “Revista Decires” (Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...  

Prefaciou os livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e “Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora). 

Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003. 

Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).  

Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.  

Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.  

É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.