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NICOLAU SAIÃO |
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DETRÁS DA CORTINA – A Contra Informação
Subsídios para um conhecimento
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“ - A questão –
disse Alice – está em saber se tu podes fazer com que as palavras tenham
o sentido que tu desejas que tenham.
- A questão está em saber quem é que manda – retorquiu Humpty Dumpty”.
Lewis Carrol
“A contra-ínformação consiste na arte de fazer do preto branco e do
branco preto…e vice-versa”. Jacques Bergier
“Uma imaginação muito viva reduz tudo a uma brincadeira de crianças”.
Sir Charles Belfrage |
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DETRÁS da Cortina (2)
PEQUENO MANUAL DE CONTRA-INFORMAÇÃO |
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Ao elaborar este pequeno
e resumido manual para uso prático, contendo apenas as linhas gerais mas
que permitem, se necessário, praticar contra-informação com conhecimento
de causa e, ao mesmo tempo, ficar-se habilitado a ver claro a do
oponente, devo dizer antes de mais que quem quiser entrar e sentar-se
nele como um educado cavalheiro, ou educada dama, se continuar a ler é
melhor perder as ilusões …
Efectivamente, os
leitores – geralmente pequeno número de confrades de confiança ou
eventuais futuros membros de task force, ainda que apenas suposta para
efeitos de léxico comum – devem perceber que acabaram de entrar como
espectadores/visitantes no continente dos golpes baixos, do trabalho
sujo, da deliberada simulação operacional.
Em contra-informação a
moral não rende nem paga a pena, a não ser que, por hipótese, ela
permita afivelar uma maior eficácia. Ou uso democrático, leia-se
anti-regime totalitário.
Um manual praticado de
contra-informação é a assumpção da fille-d’autre mère bem sucedida, que
deve obviamente creditar-se como a “maior moralidade”, a “maior ética”,
o mais justo desempenho. O que conta, nela, é aniquilar o adversário, de
preferência ao primeiro golpe. O segundo golpe só é de desejar se,
mediante o mesmo, se conseguir destroçar um punhado mais de adversários
ou preparar o campo para mais eficazes futuras hecatombes. Em
contra-informação os fins justificam os meios, a não ser que esses meios
corram o risco de ficar excessivamente expostos.
Como consolação, haja em
vista que mediante o estudo prático deste assunto se incrementa a
liberdade democrática, que é filha do conhecimento, que os membros do
poder usam geralmente, pelo contrário, para destroçar o bem comum.
Tal como no famoso tomo
de Machiavelli, aqui ao fim e ao cabo alerta-se o cidadão para as
realidades, permitindo-lhe entender as ciladas.
Os operacionais, é claro,
não precisam de as ler.
Nunca esquecer que, como
disse Salazar (um excelente e talentoso hipócrita), “em política o que
parece, é”. Será necessário dizer que em contra-informação é exactamente
a mesma coisa?
Não esquecer também que
uma contra-informação eficaz pode ajustar-se preferencisalmente se
apoiada em meios societários favoráveis: sistema judicial parcialmente
corrompido ou corruptível dum ponto de vista ético, forças de segurança
lábeis ou venais, operadores mídias passíveis de estipêndio, etc…
Os objectivos – bem como
as acções sequentes - devem pois trabalhar-se caso a caso e com índices
seguros. Nunca contar com as chamadas “expectativas de milagre”.
Isso irá evitar tropeções
aos operacionais. |
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Nicolau Saião:
Honni soit / Qui mal y pense... |
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Primeira parte |
1. As Técnicas
contra-informativas temporais
São elas: imediatas, a curto, a médio e a longo prazo.
As imediatas visam responder quando o objecto de protecção ou operador
de topo fica subitamente exposto, ou quando uma situação emergente é
despoletada.
a) o desmentido (deve usar-se com rapidez, haja ou não razões para
desmentir). O seu objectivo é, primeiro que tudo, ganhar tempo.
b) A declaração de próxima emissão de comunicado. Permite gerar uma
certa expectativa, além de que os factos posteriores podem contorná-la.
E só se emitirá o comunicado se esses factos não o tornarem
desnecessário por entretanto as condições terem mudado.
c) A remissão de declarações para um outro emissor, de preferência
ausente do núcleo duro. Cria confusão nos receptores.
d) A postura frontal. Se for pedido ao protagonista um número, tentando
confundi-lo pela incapacidade de o ter à mão, aventar um qualquer que
possa parecer minimamente credível, visto haver sempre a possibilidade
de rectificar posteriormente ou alegar má-fé na transcrição, além de que
o grande público é desatento e mal formado (o que lhe interessa é a
aparência palpitante, não a verdade dos factos).
e) A resposta paralela. Exemplificando: “Por agora, o meu comentário é
que só falta que me acusem de que também fiz o Benfica perder em
Alvalade ou que afundei o Titanic”. Não diz nada e o povo usa capear-se
pela referência a um clube popular ou um caso histórico mediático
primário. Como se sabe, a incapacidade de apreensão não é muito grande e
liga preferencialmente ao acessório espectacular. (O falar-se por
exemplo em robalos, detalhe risível aventado para possibilitar um tom
anedótico no meio dum facto grave).
A curto prazo:
a) a técnica do porco com óculos ou do primo fino. Declaração,
usualmente infirmativa, lida ou prestada por um assecla com boa imagem
ou com autoridade moral (sic). Nunca ir ao fundo da questão, mas
recortar generalidades entremeadas de vagas e dissimuladas ameaças.
Permite, nos casos mais eficazes, encolerizar o oponente e fazer-lhe
perder tempo a recolocar os dados do assunto em apreço.
b) a técnica dos tenores. Duas ou três personalidades próximas referirem
o assunto ou como um absurdo ou como um dado adquirido, conforme os
casos, seguindo-se imediatamente declaração corroborando, mas feita como
se não tivesse directa ligação.
c) a técnica do bilhete amoroso, comunicado enviado aos jornais, que
evidentemente só na próxima edição o farão sair e no qual os factos são
apresentados como se tudo fosse evidente. Aqui, nunca dar indicativos
falsos, mas apontar as falsidades (reais ou presuntivas) do oponente.
Assim se lança a dúvida, que posteriormente pode ser aproveitada para
tripudiar ou macerar.
d) a técnica do tiro ao lado. Chama-se à colação um detalhe ou caso
realçado que desvie as atenções do fundamental. (Falar-se em eventuais
escutas ao próprio eventual alto magistrado, desviando assim as atenções
da crítica justificada de haver compadrio ou desleixo em delegações de
promotoria).
A médio prazo:
a) a técnica do bom gigante. Artigo presumivelmente ou preferentemente
da autoria de especialista respeitável, mostrando com soma de pormenores
a razão que assiste ao objecto exposto. Daí que devam sempre ter-se
alguns operadores com notoriedade pré-fabricada (ou vedetas com bom
paladar) para dar credibilidade ao tema. O populacho, mesmo
aparentemente culto ou não provinciano, é muito sensível a esses áulicos.
(O defunto EPC foi um dos mais notórios, assinalado pelo professor da
Sorbonne e da Univ. de Abidjan André Coyné, ensaísta e companheiro de
André Breton, num livro editado por Lima de Freitas).
b) a técnica do engate ou do sr. prior. Convidar-se um idiota útil do
campo neutro ou mesmo contrário e, com o pretexto da d emocraticidade,
conseguir ou um artigo ou uma entrevista em que, sem dizer mal, é
capciosamente objecto de uma ou duas perguntas dissimuladas que, depois,
permitem estabelecer uma tese no mínimo dubidativa. (As chamadas
personalidades ou famosos do sector artístico ou desportivo são
geralmente um campo fértil para o operacional trabalhar.).
c) a técnica da tourada ou da puta espanhola. Mesa redonda ou debate,
onde um idiota útil e um assecla fazem as despesas da defesa e
simultaneamente do ataque. Nunca hostilizar e muito menos ofender o
adversário, mas sim ajudar o público a reflectir (pois o público
reflecte pouco, ajudado reflecte melhor…).
d) a técnica do fardo de palha, baseada no ditado de que todo o burro
come palha, o que é preciso é saber-se dar-lha. Entrevista ou programa
género um dia com o objecto. Humaniza o dito, possibilita-lhe boa
performance, tanto mais que a matéria é editada e tratada. Responde à
curiosidade latente no poviléu. (O actual premier é perito na utilização
desta técnica).
e) a técnica do tio da América ou da herança milionária. Momento
presuntivo de apresentação de assuntos efectuada por áulico (de ataque
ou de defesa) mas sendo no entanto matéria contra-informativa clássica
propiciada por um comparsa que simula interrogar mas apenas serve de
introdutor. (O notório MRS é um dos mais capazes neste género de
manipulação, a que chamam análise ou comentarismo. As suas intervenções
são caracterizadas por um eficacíssimo cinismo).
A longo prazo:
a) técnica do bom irmão. Livro ou opúsculo com boa soma de informações
sobre as razões do objecto. Visa em geral ser um detalhe de propaganda.
b) técnica do santo venerável. Geralmente biografia, em livro ou
opúsculo, apontando para as qualidades com esbatimento de defeitos, do
objecto. (Exemplos: “Sócrates., o menino de oiro do PS”, “Força, força,
companheiro Vasco”, título a partir duma canção militante. As
hagiografias da ICAR, geralmente controladas ou revistas por
operacionais competentes da hierarquia ou agentes da Sod. Pian.).
(Em continuação iremos esclarecer alguns pontos do léxico, não só para
podermos seguir em frente como para se entenderem melhor certas
sequências posteriores).
(continua)
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Nicolau
Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista,
actor-declamador e artista plástico.
Participou
em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália,
Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter
exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris,
Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi,
Sevilha, etc.
Em 1992 a
Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio
Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor
ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro
(1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O
desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a
sair).
No Brasil
foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e
plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a
Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique
(2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro
cantos”(antologia).
Fez para a
“Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os
fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e
ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato
Suttana “Bichos” (2005).
Organizou,
coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na
surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na
Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”.
Tem
colaborado em espaços culturais de vários países: “DiVersos”
(Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”,
“Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil),
Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz),
“Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”,
“Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”,
“Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista
365”, “Laboratório de poéticas” (Brasil), “Revista Decires”
(Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...
Prefaciou
os livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de
portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do
Carmo Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno
Rebocho e “Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros
Editora).
Nos anos 90
orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no
“Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural
publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de
Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003.
Organizou,
com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o
Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O
futebol” (1995).
Concebeu,
realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na
Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de
poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no
álbum “Canciones lusitanas”.
Até se
aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de
Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.
É membro
honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município
da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e,
em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de
actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de
Mérito Municipal. |
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