NICOLAU SAIÃO

CARTA A UM CONFRADE

“O terrorismo é a acção de imprimir, mediante métodos cruentos ou outros o medo,
o desespero e o abandono da decisão de resistência no adversário ou oponente”
-
General Belisário

Caro Xis

Como lhe prometi, apanho uns minutos para lhe enviar estas breves reflexões, que são efectuadas com estima e, também, muita preocupação, uma vez que como referiu num seu escrito Jacques Bergier, que foi membro da Resistencia Francesa e um resistente importante, "o terrorismo pode ganhar, caso aqueles que o enfrentam não o façam com determinação e lucidez".

No caso do terrorismo actual, verbi gratia o mais perigoso e actuante, o terrorismo muçulmano, infelizmente e depois de análises profundas e preocupadas a que tenho procedido, verifico que ele está a ganhar a batalha. E isto é assustador.  Passo a explicar-me:

a) Talvez no terreno operacional a sociedade democrática e as forças oficiais que têm o dever de a proteger, tenham conseguido vitórias pontuais. Mas noutro plano, o plano da propaganda e da conquista interior, pela manha e aproveitando o laxismo que vai grassando nessas sociedades, eles estão a conseguir inegáveis vitórias, cujas causas e efeitos devem ser ponderados para se poder efectivar uma defesa eficaz. Caso contrário, a médio prazo - e já nem falo em longo prazo - eles vencerão.

b) O terrorismo, como é óbvio, não actua só no plano imediato, que se contrabalança mediante a preparação de boas e experientes, bem organizadas e bem equipadas forças de segurança. Ele actua num outro, que se diria secundário mas que é fundamental: na preparação do terreno, através de uma prática insidiosa levada a cabo por partidários seus que escavam a determinação do adversário: e eis que aparecem, com grande insistência, exigências absurdas - "direitos" que eles exigem nas universidades, na profissão, nos costumes quotidianos, mesmo já nos hábitos dos países que recebem a sua emigração por exemplo. E às quais a sociedade (onde buscam formar verdadeiros ghettos de privilégio) ou por cegueira produzida por uma falsa concepção de direitos democráticos, ou por laxismo proveniente de um "politicamente correcto" e um "multiculturalismo" mal entendidos, dá cobertura sem verificar que está, paulatinamente, a colocar a corda ao próprio pescoço.

Ou seja: numa sociedade democrática, saudável e real, deve haver CIDADÃOS que podem ser cristãos, judeus, budistas ou muçulmanos; e não cristãos, judeus, budistas ou muçulmanos que, se lhes apetecer, podem ser cidadãos...

Aqui reside o fulcro do problema. Esta é que é a fraqueza de base da nossa sociedade. E por isso ela está a perder a batalha.

Que dizer, por exemplo, ao deixar-se que (e neste caso falo dos muçulmanos, que são o perigo real e mais urgente) sempre sob a ameaça velada de que podem ser seduzidos pelos "extremistas", ou no mínimo ficar ofendidos (e daí?), se consente que em inúmeros casos eles reivindiquem ofender os Direitos Humanos mais elementares, com o pretexto que a sua religião lhes dá cobertura e acolhimento?

Esta é, por exemplo, a forma "pacífica" e realmente insidiosa, porque ardilosa, de criar pouco a pouco um terreno favorável a um domínio inegável e que NÃO DEVE CONSENTIR-SE. Pois, no fundo, o terrorismo não é mais que a fórmula violenta e expressa que assume o desejo de domínio mundial do Islão, QUE É COMUM E MESMO INSCRITA NO LIVRO SAGRADO, assim dito.

 Não é democrática, porque visa suprimir e ultrapassar os direitos dos outros.

É assim que já se censuram, de forma ainda "cordata" de momento, mas bem real e efectiva, por exemplo as palavras de um cardeal, que no seu múnus tem o direito de alertar os cidadãos para os problemas que o islamismo está a pouco e pouco a INCREMENTAR (é disto que se trata). Claro, por enquanto mostram-se apenas magoados...Têm pouca força. Se fôsse por exemplo em França ou Inglaterra, basta ler-se a grande imprensa, haveríamos de ver...! (Vê-se a cada passo!).

E neste quadro não podemos esquecer (se o fizéssemos não passaríamos de simples tolos ou, no limite, pior que isso) o papel importantíssimo que têm tido as chamadas "quintas-colunas", em geral integradas por antigos partidários do Leste implodido, que levados pelo seu ódio ao Ocidente democrático transferiram a sua fidelidade para os Estados ou grupos islâmicos que, a seu ver, vão liquidar o "mundo burguês"...

 c) Para se compreender o fenómeno crescente do terrorismo islâmico, tem de compreender-se o facto histórico que lhe está subjacente: a imposição do Califado.

Este é o cerne da questão. O terrorismo expresso, para o qual há ainda Leis, pode combater-se e está a combater-se, mais acertada ou inábilmente. Mas como combater a avançada insidiosa e que, bem vistas as coisas, consegue de maneira "pacífica" o que os outros buscam de forma mais brutal?

Mediante leis equilibradas, o Mundo Democrático e livre, sem ceder a chantagens, tem de dizer firmemente: "Pratiquem a vossa religião. Há liberdade para isso. Mas a sua prática não vos dá o direito de ultrapassarem os direitos humanos que tanto custaram a conquistar. A prática da vossa religião não pode consistir, nem consentiremos que se sobreponha, numa forma de obviar à prática da cidadania democrática. De contrário, é apenas um instrumento de pressão e subversão inadmissível!".

Caso não haja - e o tempo começa a esgotar-se - esta determinação inscrita em Leis sensatas, é só uma questão de tempo até ao domínio do Islão, de forma total e totalitária. Que é o que o terrorismo visa.

Pensar-se que vamos ser depois "suavemente tratados" pelos "moderados", é pura ilusão. Veja-se o que realmente sucedeu historicamente -  e não através de contos de fadas - no domínio muçulmano...A bibliografia é abundante.

E porque - não me dirão? - haveremos nós de ter existir sob o calcanhar (que já se desenha em certos lugares) do ímpeto e leis islamitas?

Com que direito nos querem obrigar a viver no Império de Mafoma? Com o mesmo "direito" que, cá, lhes permite todo o proselitismo e, lá, condena praticantes da fé cristã a mortes ignominiosas?

Caso o Ocidente democrático não abra os olhos com sensatez, acabará mal. Em Byzancio sucedeu isso. Não queiramos repetir o erro. Pois é disto que se trata.

Confio em que leve a quem o puder ouvir a sua palavra clara e profícua. Lúcida e democrática.

Remeto-lhe o velho abraço do seu, de sempre

ns

Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.

  Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc. 

   Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).  

  No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).     

  Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).

  Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”.

  Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz),  “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas”(Brasil)...

 Prefaciou os livros “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras) e “Estravagários” de Nuno Rebocho (Apenas Livros Editora).

   Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Com João Garção e Ruy Ventura coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003.

  Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).

   Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.

  Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.

     É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.