Le Figueiró (LF) – Doutor Jagodes, que me diz do actual momento
português?
José Jagodes (JJ) – Digo que me agrada muitíssimo. Como deve intuir, já
sou meio gaulês e, portanto, adepto do famoso conceito que um meu antigo
condiscípulo divulgou por aí: “A imaginação ao poder!”. Durante
anos os sociólogos tentaram apoucá-lo com o pretexto de que era uma
utopia. Pois sim... Rejubilo por ter sido na minha pátria que ela cobrou
foros de realidade: basta ver as magníficas frases com que o sr.
conselheiro Diaz Louceiro se desentranha, bem como aquelas em que o dr.
V.T. Constança se desenreda...e está feita a constatação de que
Portugal, se já não tem continentes para descobrir, tem mundos de
oratória para deslindar!
LF – Já vejo... Ora bem, corresponde à verdade, que tem sido aflorada em
certos mentideros políticos, de que o Dr. Jagodes esteve para ser
candidato pelo PSS às Europeias?
JJ –
Desminto formalmente. Fui, isso sim, sondado numa fase muito remota. Mas
ao saber que aquele que você sabe se inclinava para o Senhor da Cana
Verde, retirei a sonda de imediato!
LF –
Como? O que me diz?! Mas...quem está como candidato não é o Senhor da
Cana Verde, é o Avô Cantigas como diz um articulista no 28 Horas!
JJ – É a
mesma coisa.
LF – A
mesma coisa?!
JJ – A
mesmíssima coisa! Embora não sejam parecidos fisicamente, o impacto é
semelhante.
LF – O
impacto... Fico ciente... Com essa é que o doutor me fulmina... Mas
adiante! Leu as declarações sobre a unidade nacional proferidas,
respeitavelmente, pelo Sr. Presidente de Belém?
JJ – Por
acaso não li, mas li as do Liedson sobre o que fez perder o Campeonato
ao Sporting. Substitui-as com vantagem. Não o iria jurar, mas são muito
mais ecológicas.
LF –
Ecológicas? Como assim?
JJ –
Então não está a ver? São verdes... Logo, cheias de ecologia. Fazem
contraste com as do senhor de Belém, que ou são cinzentas ou em maré de
azul azarado como o actual Belenenses! (risos)
LF – Aqui
no Le Figueiró percebemos pouco de bola... Somos mais da política, dos
grandes factos políticos...
JJ –
Portanto, bola! É o que eu dizia... Aliás que diferença é que o meu
amigo encontra entre o Quique e a Dra. Manuela ou o Dr. Portas? Hein?
LF – Eu
não os acho extremamente parecidos, mas o doutor dirá o que se lhe
oferece...
JJ – Não
são parecidos, não, o Quique vê-se que apesar de algumas parecenças é
claramente andaluz...! Mas a postura tem muitas semelhanças: onde um
perde contrataques pelos extremos, os outros perdem ocasiões de ataque
pelos avançados. É o mesmo!
LF –
Talvez... Outro assunto, se não se importar de responder: confirma que
endereçou uma carta ao Dr. Alcazar Barzon – aliás seu correlegionário na
prática do golfe...
JJ -
...do golfe nas pradarias de Almeria...
LF -
...na qual refere, entre uma que outra fina graçola, que a seu ver o
estado a que o sistema judicial chegou se deve principalmente à
magistratura?
JJ –
Confirmo inteiramente. Aliás, se bem notar, chegará à conclusão de que
os grandes e os pequenos processos, que aliás se entremeiam sem que
percebamos muito bem o que são uns e o que são outros, são sempre
presididos por uma pessoa da magistratura. Repare que não o são por um
calceteiro, terrestre ou marítimo, uma florista, uma cozinheira de
restaurante ou, mesmo, um bailarino da antiga companhia do Balet
Gulbenkian...Ou mesmo por um farmacêutico! Até aquele senhor, que
aparece de vez em quando na TV a dizer que há por aí uns duques, uns
condes e uns marqueses nas promotorias distritais, terá decerto esta
convicção.
LF – E
quanto ao senhor ministro da Justiça?
JJ –
Continua a ter a postura serena de um sacristão.
LF – Não,
doutor, não era isso que eu queria abordar...A minha pergunta dirigia-se
à actuação. Ao trabalho intenso desenvolvido!
JJ – Ah!
Percebo. Pois bem, acho que poderá, sem desdouro, ir aos próximos Jogos
Olímpicos!
LF – Aos
Jogos Olím...Não estou a entender bem o que quer dizer...
JJ – Ó
homem, não seja titaúcha! Então não está a perceber? Levantamento de
pesos, salto à vara...
LF - ???
JJ – Para
erguer a balança da equidade sem que, falhando-lhe o músculo, lhe caia
em cima da cabeça... Salto à vara para se safar dos que o comprometem
com pressões de que um titular de um cargo só se safa pulando com
energia...!
LF – Ah!
Sim, já lá cheguei... E uma última pergunta: qual a sua sincera opinião
sobre o homem que tem ainda neste momento o nosso destino nas mãos?
JJ – Não
quero pronunciar-me sobre o estimado presidente do Benfica.
LF – Não!
Interpretou-me mal, referia-me ao senhor primeiro-ministro!
JJ –
Tenho por ele franca simpatia, pois é um homem de consensos e que
provoca unanimidade. E segundo sei é, como eu, um apreciador de papas de
Maizena! Como sabe, este salutar produto é ultimamente muito recomendado
a quem quer ter uma boa performance governativa/ministerial.
LF -
Está bem... Mas consensos? Unanimidade? Nunca me apercebera, mas
enfim...
JJ – É o
que lhe digo. Então não vê que ele gerou um consenso alargado sobre a
necessidade de desconfiarmos de tipos que vistam incessantemente fatos
de cor azul ferrete? E criou a unanimidade junto de professores,
funcionários públicos, forças militares e militarizadas, barbeiros e
gerentes de orquestra, etc, sobre a necessidade de o devolvermos com
rapidez para o Peloponeso? Não me diga que não tem reparado...
LF – A
minha função é apenas de repórter, não me cabe opinar! Bom, obrigado
pelo tempo que lhe tomámos e.. até sempre Doutor Jagodes! |