Trinta anos é quase nada na história de um país.
Estamos já distantes da injustiça colonial. Mas estamos ainda longe de
cumprir o sonho que nos fez cantar e dançar na noite de 25 de Junho. Uma
parte dessa expectativa ficou por realizar. Hoje já não acorreríamos com
a mesma fé para celebrar uma nova anunciação. Mas isso não quer dizer
que estamos menos disponíveis para a crença. Estaremos, sim, mais
conscientes que tudo pede um caminho e um tempo.
Poderemos recorrer a explicações, apontar dedos acusadores. Tudo isso
será pouco produtivo. Não se pode esperar que um país saído do atraso da
dominação colonial possa realizar aquilo que velhas nações independentes
estão ainda construindo. Moçambique está aprendendo a ser soberano num
mundo que aceita muito pouco a soberania dos outros. O céu que parecia
infinito foi ficando estreito para as chamadas pequenas bandeiras.
No mesmo ano em que se desintegrava o império colonial português, em
1975, os Estados Unidos da América eram derrotados no Vietname. O tempo
parecia correr a favor dos povos “pequenos”, capazes de enfrentar a
arrogância dos poderosos. Essas vitórias criaram a ilusão de que um
mundo mais justo estava despontando.
Mas o sistema mundial cedo se reajustou desses revezes. A Independência
de Moçambique teve que enfrentar uma dualidade: representou uma ruptura
com o colonialismo mas, ao mesmo tempo, funcionou como um passo para uma
maior integração num sistema capitalista que se globalizava. A essa
condição ambivalente não poderíamos escapar.
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