AS MÚTUAS ATRIBUIÇÕES DE CULPAS
O embaixador da Suiça em Moçambique, o meu amigo Dr. Adrian Hadorn, é
testemunha da minha insistente intervenção em Moçambique para combater a
tendência de vitimização por parte dos africanos. Enquanto continuarmos
culpando os europeus pelos nossos próprios falhanços não seremos capazes
de olharmos
para nós próprios como principal motor da mudança. Assumir a condição de
sujeito histórico: esse era o maior e mais instigante desafio da
Independência Nacional.
É infindável a soma de argumentos para justificar a cleptocracia e a
corrupção dentro de continente africano. Alguns intelectuais africanos
vêem na importação de modelos externos a origem de todos os males. Esta
justificação encontra espaço em alguns doadores. Na linguagem moderna
dos relatórios dos consultores este problema seria assim reportado:
“falta de ownership das reformas estruturais”.
Impostas de fora, essas reformas não poderiam ser implementadas. Mas
tudo indica que, ao contrário, parte dessas reformas foram rápida e
profundamente apropriadas por elites nacionais que as usaram a favor do
seu próprio enriquecimento. O problema não parece estar na origem dos
modelos mas na sua natureza política. Os africanos africanizaram a
mandioca. As elites fizeram o mesmo com as reformas estruturais.
Se alguns africanos acham que a culpa é apenas dos europeus, no sentido
inverso, europeus há que acreditam que a culta cabe apenas aos
africanos. Uma relação mais saudável entre uns e outros obrigaria a
rupturas profundas, implicava poder começar de novo.
Mas esse retorno ao grau zero não existe na História. Compete-nos
questionar os pressupostos do nosso relacionamento recíproco.
Elegi para este pequeno texto alguns tópicos soltos. Não sou economista,
sou um escritor cuja paixão reside num mundo que não existe. Mas não
posso focar indiferente perante alguns assuntos que determinam o nosso
destino comum. Eis algumas das interrogações que gostaria de partilhar
convosco.
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