Dar aos pobres a mesma chance de experimentar
Os países pobres necessitam ter espaço para realizar os seus próprios
debates e ensaios, experimentarem soluções ao seu próprio ritmo.
Queremos ter a liberdade de, por exemplo, poder decidir qual o melhor
momento para privatizar os serviços públicos. Essa liberdade foi,
afinal, conferida aos europeus.
Instituições financeiras internacionais testaram nos países pobres
fórmulas que se revelaram desastrosas. Parecia simples: tal como na
receita socialista, uma mudança no sistema de propriedade mudaria toda a
estrutura da economia. Produziram em embalagens de aplicação fácil os
pacotes de reajustamento estrutural, formulas miraculosas que nos
permitiriam evoluir queimando etapas.
A Moçambique também foi aplicada a mesma receita. Todos esses programas
obrigaram a elevar preços pelos serviços públicos, a cortar subsídios e
reduzir orçamentos para serviços sociais: toda esta receita resultou em
crescente pobreza e desemprego. Hoje, é generalizado aceitar que esses
programas não correram bem. Quem paga para recompensar os pobres dessa
falhada experiência?
O caso da castanha de caju de Moçambique é hoje tida como uma ilustração
desses falhanços com efeitos catastróficos. Moçambique tinha e tem na
castanha de caju um dos seus pilares de exportação. Em poucos anos o
sector ficou arruinado, 80 por cento das fábricas fecharam e milhares de
operários ficaram sem emprego.
De um modo geral, a intervenção na agricultura pautou por uma
ingenuidade crassa: a ideia de que intervindo nos preços se acabaria
resolvendo tudo o resto.
Os actuais pacotes de redução da pobreza absoluta poderão ser a simples
continuação, com outro vestuário, dos Programas de Reajustamento
anteriormente falhados.
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