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Mia Couto........Mia COUTO.................MIA COUTO
MOÇAMBIQUE, 30 ANOS DE INDEPENDÊNCIA

Mia Couto numa Conferência Realizada em DEZA TRAVERSE Suíça, celebrando Moçambique, 30 anos de Independência. 16 de Junho 2005

Dar aos pobres a mesma chance de experimentar

Os países pobres necessitam ter espaço para realizar os seus próprios debates e ensaios, experimentarem soluções ao seu próprio ritmo.

Queremos ter a liberdade de, por exemplo, poder decidir qual o melhor momento para privatizar os serviços públicos. Essa liberdade foi, afinal, conferida aos europeus.

Instituições financeiras internacionais testaram nos países pobres fórmulas que se revelaram desastrosas. Parecia simples: tal como na receita socialista, uma mudança no sistema de propriedade mudaria toda a estrutura da economia. Produziram em embalagens de aplicação fácil os pacotes de reajustamento estrutural, formulas miraculosas que nos permitiriam evoluir queimando etapas.

A Moçambique também foi aplicada a mesma receita. Todos esses programas obrigaram a elevar preços pelos serviços públicos, a cortar subsídios e reduzir orçamentos para serviços sociais: toda esta receita resultou em crescente pobreza e desemprego. Hoje, é generalizado aceitar que esses programas não correram bem. Quem paga para recompensar os pobres dessa falhada experiência?

O caso da castanha de caju de Moçambique é hoje tida como uma ilustração desses falhanços com efeitos catastróficos. Moçambique tinha e tem na castanha de caju um dos seus pilares de exportação. Em poucos anos o sector ficou arruinado, 80 por cento das fábricas fecharam e milhares de operários ficaram sem emprego.

De um modo geral, a intervenção na agricultura pautou por uma ingenuidade crassa: a ideia de que intervindo nos preços se acabaria resolvendo tudo o resto.

Os actuais pacotes de redução da pobreza absoluta poderão ser a simples continuação, com outro vestuário, dos Programas de Reajustamento anteriormente falhados.

 
 

Mia Couto nasceu na cidade da Beira, Moçambique. Depois de um início de carreira na área do jornalismo, consagrou-se à literatura. As suas obras, dotadas de um estilo original, encontram-se já traduzidas em várias línguas: holandês, sueco, norueguês, italiano, francês e espanhol. Mia Couto dedica-se também teatro e à biologia.