O novo livro de
Maria Estela Guedes, Arboreto,
é uma obra poética singular e fascinante pelos diálogos
que nos oferece com a natureza, abraçando especialmente
as árvores e levando-nos por meio delas a tempos
ancestrais, a culturas intemporais, ao mesmo passo que
nos faz refletir sobre um presente de securas, todavia
sem nos dar sentenças nem moralismos de plástico.
Sendo um trabalho culto, tão próprio da brilhante
ensaísta que Maria Estela Guedes também é, este
Arboreto sensibiliza-nos ainda
pela seiva dos afetos e da memória. Em poemas como A
tília da Isaurita, Olea patrocineae ou
O Medronheiro encontramos a poesia mais tocante
deste livro, surgindo-nos uma Estela Guedes
espantosamente profunda na abordagem simples das
recordações que estabelecem a relação entre o ser humano
e o ser-natureza.
Ao ler-se Arboreto muitos de
nós irão chamar igualmente sua a tia Maria de O
Medronheiro que «(...) pegava no sacho / para regar
a Quelha da Azenha» ou a tia Patrícia em nome de quem
nos apetece plantar também uma oliveira.
Neste Arboreto, prefaciado
notavelmente por Ana Maria Haddad Baptista, a palavra,
sendo imensa na sua expressão contemplativa, somando
botânica, vivências, gerações, mitologia, signos, ela é
sobretudo desafiante ao entrelaçar as raízes da memória
(uma memória atuante), convocando-nos para um olhar
sereno ao mais fundo de nós. Vejamos, por exemplo, o
poema A Figueira e a forma como, unindo a
personagem Gravelina à de Ficus carica, a
autora nos revela o mais sensível entendimento da vida e
da morte quando duas naturezas (a humana e a terra-mater)
são um só corpo de fraternidade.
Sobre este novo livro de Estela Guedes apetece-nos,
pois, dizer com Raul Brandão:
«Tenho a certeza de que fui árvore e é por isso que
tanto as amo.»