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O discurso teológico de hoje, muito se parece com aqueles quarenta
anos, que o povo hebreu ficou rodando pelo deserto após o êxodo do
Egito. As pesquisas acadêmicas, sempre foram e continuam sendo
totalmente influenciadas pela fé e doutrinas cristãs, não permitindo
que sejam feitas análises comparativas com outras expressões e
manifestações religiosas que se encontram espalhadas pelo mundo, e
achando pontos em comum entre elas, permitindo que possamos olhar a
religião como um fenômeno arquetípico universal, onde Deus está
acima de todo mito religioso construído a partir do homem e suas
cosmogonias. São anos e anos girando em torno dos mesmos assuntos,
só variando as modalidades, mas a amostragem é sempre a mesma,
sempre direcionando a historicidade para a doutrina dominante, seja
ela mas liberal ou conservadora.
Desde o período da escolástica, como o próprio nome já fala
(escolas), na idade média, a igreja é que controlava o ensino as
fontes e métodos de pesquisas, que até então, era apenas permitido
nos mosteiros e círculos fechados eclesiásticos. Todas as matérias
tinham um enfoque doutrinário, ainda naqueles moldes agostinianos,
onde a Fé precedia a Razão. Ou seja, todo discurso
filosófico-teológico, girava apenas em torno das tradições da Igreja
e da filosofia clássica, com mais ênfase na filosofia de Aristóteles
(especialmente em Alberto Magno e Tomás de Aquino).
Hoje em dia não é muito diferente, quando ingressamos numa faculdade
ou seminário teológico, nos deparamos com a mesma problemática. A
preocupação maior dos magistrados nessa área, é tomar a maior parte
do seu tempo, com técnicas e metodologias de pesquisas, dando mais
ênfase nos formatos, fontes e processos de apresentação de teses e
monografias, ou seja, a preocupação maior está na embalagem, e não
no conteúdo, porque se fosse o contrário, geraria muitas polêmicas
em torno dos assuntos e temas analisados, logo, colocaria tanto os
magistrados, quanto a própria instituição em risco de extinção.
Infelizmente, esse quadro medieval, se encontra no meio de teólogos
cristãos, tanto católicos quanto protestantes. A fundamentação da Fé
cristã está tão enraizada historicamente, que ela acaba se tornando
fundamentalista, onde fora dela, não há salvação e nem redenção,
mesmo nas discussões acadêmicas. Encontramos grandes catedráticos,
doutores, e especialistas em diversas áreas da teologia, que mesmo
tendo um vasto conhecimento, sabendo em “off”, que tudo o que eles
ensinam e apresentam, é totalmente questionável e polêmico, porém,
eles apresentam aos seus alunos, da forma que a sua instituição lhe
ordena, não permitindo que as pessoas possam refletir certas
questões numa dimensão mais ampla e universal, e acabam ficando
engessados naquelas velhas historinhas contadas no catecismo e nas
escolas bíblicas dominicais, mas com uma roupagem mais elaborada e
técnica.
Para concluir, de que adianta ficar fazendo exegeses, hermenêuticas
e estudos críticos em cima das tradições bíblicas, se não é
permitido, analisá-las num âmbito maior, saindo das matrizes
dogmáticas estipuladas pela Igreja Cristã dominante e estabelecendo
paralelos com as diversas outras religiões milenares espalhadas pelo
mundo, estudando as diversas teologias. Acho que se começarmos a
fazer uma teologia com um discurso universal, e não restrito apenas
as regiões e religiões do mediterrâneo, vamos evoluir muito mais,
pois vamos passar a fazer o papel que infelizmente as religiões
monoteístas não conseguiram fazer até hoje: “ESTABELECER HARMONIA E
PAZ ENTRE OS POVOS DA TERRA”.
Pensem nisso, e passamos a respeitar as outras culturas e religiões
da nossa grande morada chamada “PLANETA TERRA”. |