Ao longo dos doze capítulos que compõem O Cristianismo e o Progresso , são apresentadas várias formas de progresso que o Cristianismo teria promovido. Além dos valores anteriormente apresentados, a religião cristã teria instituído outras formas significativas de evolução da comunidade humana.
Em primeiro lugar, há que destacar a maneira de entender o homem na sua dimensão individual. Antes do cristianismo
"o homem era materialista e escravo. O amor, proclamado pelas ideias cristãs, tinha dois grandes alicerces de aperfeiçoamento, a imortalidade e a liberdade. Desta maneira todo o homem, e não só o privilegiado da força ou da fortuna, se tornaria grande aos próprios olhos, e quando o homem tem a consciência da sua valia, opera prodígios em todos as condições de vida, o impossível deixou de existir para ele (1)".
Assim sendo, o amor veio valorizar cada homem na sua especificidade e garantir a igualdade legítima entre os homens, igualdade esta que não deve ser confundida com igualitarismo , isto é, nivelar os homens todos pela mesma medida sem respeitar as devidas diferenças como defendiam certas ideologias político-sociais da época. O cristianismo abre ao homem todas as possibilidades de realização, nos seus diversos campos de acção individual e social. Assim é porque a revelação cristã entende o homem como "um ente livre na terra. (2)"
À mulher também é dedicado um capítulo especial , onde é exposta uma visão extraordinariamente inovadora acerca dela à luz da doutrina cristã. Devo aqui recordar que D. António da Costa escreveu um livro dedicado à mulher em Portugal onde desenvolve uma concepção muito interessante e inovadora para o seu tempo do papel da mulher e do seu grande valor como pessoa humana, mas muitas vezes menosprezada na sociedade cristã ocidental e nas sociedades pré-cristãs (3). O cristianismo vem elevar a mulher à condição a que ela tinha direito:
"Regenerada assim na família, também o foi na vida civil. Vendo-a elevada pela condição pessoal, a mulher dá a mão à sociedade e concorre para lançar por terra os elementos de ferro do mundo antigo. Purifica pela castidade os costumes, visita o encarcerado e o pobre, funda o hospício, inventa mil formas de beneficência e, deixando de ser a comparsa na labutação do mundo, vem estrear um papel grandioso na cena universal. " (4)
D. António expõe ainda outras formas de progresso, a saber, a promoção dos "pequenitos" e o seu grandiloquente valor; uma nova forma de entender a riqueza e a pobreza; o arrependimento e a reconciliação como base da coexistência pacífica entre os homens; a felicidade como direito universal a que todo o homem aspira; e as instituições sociais como meios privilegiados de exercer a solidariedade e realizar a fraternidade. (5)
Com tudo isto pretendeu demonstrar não só que o cristianismo representou um progresso decisivo como também teve em vista lembrar que o espírito do cristianismo é a "alma do mundo", contrariamente ao que afirmava Antero de Quental acerca da ciência: "A ciência é a alma do mundo, porque o seu nome diz-se liberdade. " (6) |