"O século XIX está iniciando a aproximação dos homens, e traçando os grandes lineamentos para a unidade do género humano" (1). É assim que o nosso pensador abre o pano para apresentar os diversos avanços positivos registados no seu tempo. Se me é permitido divagar em jeito de aparte, diria que o Vaticano e o Papa precisavam de um conselheiro como o D. António da Costa para que as encíclicas saídas nesta época fossem mais equilibradas nas suas críticas. Não teriam tido certamente os efeitos devastadores que provocaram.
Como dizia, D. António elenca em primeiro lugar as conquistas alcançadas pelo homem no séc. XIX. Entre essas conquistas, avanços e realizações destacam-se as organizações internacionais, o comboio, a uniformidade da moeda, as exposições internacionais, o sufrágio universal, a emancipação dos escravos, o espírito de universalidade crescente entre os homens, os progressos particulares da medicina, entre tantos outros.
Ao longo desta apresentação optimista e encomiástica das realizações do século, há um valor que o autor ressalta instantemente que é a universalidade. Ele acredita fortemente que a humanidade caminha para a unificação global com vista a realizar em conjunto as mais nobres aspirações do espírito humano:
"Esta esperança há-de verificar-se, confio, à sucessiva felicidade do maior número a que aspira a razão humana. A humanidade poderá realizar as mesmas ambições, falará a mesma língua, levantará estátuas aos beneméritos do bem, e rivalidades mesquinhas de nacionalidade mal compreendidas perderão a sua causa de existir. Newton não será britânico, não será alemão Guttemberg, Vasco da Gama não será Português, porque foi o mundo que serviram. " (2)
Na segunda parte do capítulo, o autor aponta as vicissitudes e aspectos negativos que trespassam o seu século: "Comemorados os serviços que o século XIX tem feito à humanidade, aponta-se-lhe também máculas, e peçamo-lhe que harmonize os grandes princípios, sem os quais não há civilização possível. (3)" É com esta linguagem revestida de um grande espírito de humildade e docilidade, próprio de um diplomata requintado, que D. António acusa as sombras que se abatem sobre o seu século. Entre essas há a ressaltar a descrença e o crescente materialismo; os desvios religiosos como o panteísmo, a ignorância e o analfabetismo; a devassidão moral; e o racionalismo extremado ao lado de um espiritualismo também ele extremo. Entre estes aspectos, o autor dá ênfase ao cepticismo e ao indiferentismo e conclui: " A corrente de perigo, que é o indiferentismo, a descrença, o materialismo, vai larga e segue na direcção das opiniões. Não há-de parar facilmente. Quando, porém, os resultados do mal cavarem fundo, o género humano conhecerá uma verdade, que o poderá salvar: é a união entre o progresso e o cristianismo. (4)"
É com esta esperança que termina a sua análise do séc. XIX de uma maneira espantosamente delicada e optimista em relação ao inevitável enlace entre a evolução da humanidade e os ideais cristãos. |