DICIONÁRIO
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Tulí Tolá |
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Na vitrine, vários OGNI's. Para quem não sabe, um OGNI é um "objeto gastronômico não identificado". Dentro da loja, somente chineses. Entrando na loja, somente chineses, Saindo da loja, somente... chineses. Embevecidos com os OGNI's, e com o prestígio que lhes conferia aquela romaria de chineses comprando-os em quantidade, não nos restou outra opção a não ser entrar na loja. Lá dentro, só se falava ... chinês. Tímidos, nos aproximamos do balcão e por ali ficamos. Uma chinesa prestimosa perguntou em inglês o que desejávamos. Apontamos na direção do OGNI mais próximo. "What's this?". Era camarão, o que só fez aumentar nossa excitação. Explicamos à chinesa o que era um OGNI. Ela, então, gentilmente nos trouxe quatro exemplares distintos: um de camarão, outro de porco, outro de camarão com cogumelo e outro de carne bovina. A cada mordida, nossos olhinhos reviravam em êxtase. Aliás, sobre os camarões, devo esclarecer que vários deles podiam de fato ser encontrados aconchegados no interior dos OGNI's. Mas, o melhor ainda estava por vir. "How much?" $1,00 cada três OGNI's ?!!! Nem num boteco no Brasil você compra 3 salgados por tão pouco (talvez ali em volta da Central, talvez... mas, de camarão às pencas, acho que nem pensar!). Nosso destino estava traçado. Continuaríamos nosso passeio pelo Chinatown de São Francisco e, antes de voltar, passaríamos por ali para comprar: 15 OGNI's? 12? ou é melhor segurar as pontas e comprar só 9? Olha a dieta, etc, etc. Na verdade, a especulação sobre a quantidade era a nossa maneira de celebrar aquilo que, finalmente, o nosso poder aquisitivo permitia esbanjar... Foi o tempo de um rolê pelo centro da cidade, e, eis que já estávamos de volta, chineses entrando, chineses saindo, só chineses, e nós! Desta vez, aproximou-se uma chinesa cujo inglês era próximo do infinitesimal. Reviramos nosso dedo qual uma metralhadora giratória, apontando em todas as direções. A chinesa sorria compassiva diante daquelas duas crianças gulosas tontas de felicidade. Então, ela olhou para mim, e disparou: "Tulí Tolá". Quer dizer, não foi exatamente isso o que ela disse, mas esta é a forma mais aproximada de fazer ressoar aquelas palavras, especialmente se forem pronunciadas rapidamente (e tentar-se um tom, digamos, recatado, de voz não muito alta). Fiquei com cara de ué, ela olhando-me, sorrindo, eu olhando para ela sem entender nada. Ela não se fez de rogada e, após alguns segundos sorridentes de silêncio e observação mútua, mandou de novo: "Tulí Tolá". Mais uma vez, fiquei ali, estatelado e perplexo sem saber que diabo a chinesa queria me dizer. Foi a Luna quem decifrou o enigma, traduzindo-me os números que, acobertados sob aquele inglês tenebroso, indicavam o quanto teríamos de pagar pelos OGNI's comprados para viagem. Por um instante, pensei na vida daquela gente, toda feita em chinês, apesar de encravada em plena S. Francisco. Em meu raciocínio ordenador, procurava encaixá-los em algum escaninho: seriam amerineses, mistura de americanos com chineses? Ou seriam chinecanos, mistura de chineses com americanos? Afinal, como conseguiria aquela moça ainda jovem viver por ali sem falar um inglês minimamente razoável? Conta paga, e a alegria do embrulho debaixo do braço dissipou toda e
qualquer perplexidade. Ah, sim, e por quanto saiu a encomenda? Ora, muito
fácil: tulí tolá. |