não-dramatis ex-personae:
cravo agus tia; pomba gira tória; gato preto vadio; gay votta; lince de
lux; raposa azul; são escritos; corva inácia; pica-pau francês; pato
sinóptico; estátua da balança invertida e da espada maior que si
própria; são fanicos; são tromás; transeunte, o primeiro; transeunte, o
segundo; transeunte, o terceiro; transeunte, o quarto; transeunte, o
quinto; peixinhos dourados; grão mestre dos sonidos e iluminuras
(Levantamento de panos.)
cravo agus tia: Odeio as
barras! Odeio o código! Odeio o plástico! (Enforca-se numa corda roxa
com vite e cinco nós. Em volta dançam todos ao som da dança macabra de
saint-saens.)
(Caimento de panos.)
pomba gira tória: Atirarei
janelas pela parede! São as ansiedades nos estilhaços graníticos que
reconstroem a estatuária da genética implodida. E perdidas, as hélices
sacodem o vento da lua. Os pinheiros eclodidos no aborto de uma fábrica
de folhas de eucalipto falham aterragens na asa do milhafre. E a chuva
que deriva para as plasmoses? Chove seca. Já não crescem ervas daninhas
pelas palmas dos pés. Pois era uma plateia que as batia. Mas a outra asa
não voa. Nem aterra. Circulatória sem o suspenso. (É apanhada e morta
por um gato preto vadio que lhe tira um papel enrolado de uma pata e o
engole. Depois de beber água de uma torneira segue ao infinito
sussurrando as palavras ditas pelo cravo agus tia.)
(Levantamento de panos.)
gay votta: Ora a suspensão
nada mais é que a sublimação da hermética dos cardumes de latas de atum.
As fendas na ventosidade trespassam-me de espaços em tempos que não
circulam. O plano erótico interno plana. Sobre mim.
lince de lux: Então... E
onde é que os baixios se congratulam à afroditização?
gay votta: Nas vagas após
vagas. São os sítios metafísicos que não nos deixam deixar de ser.
Complumadas ondas à descravidade das fronteiras.
lince de lux: Mas...
Graciosa brancura... Porque não descreves o oblíquo patafísico?
gay votta: Pela apóstrofe.
Porque as afectividades estão nas tangentes. (Executa tangente às
orelhas do lince de lux e segue ao infinito.)
raposa azul: No rumo aos
caminhos felizes... Sempre. Porque o que nunca existe é uma foz. Os rios
suicidam-se no mar. Riusídios! (Ri satânicamente.)
são escritos: Ámen! Ámen!
Ámen! (Despe-se e baila violentamente enquando segue ao infinito ao som
da suite mascarada de khachaturian.)
lince de lux: Então plano
na areia. A pequena concha azul que me liga à espuma de afrodite é uma
propriedade momentânea extrapolada pela vassoura mística. Nem a
grandiosidade dos grãos lhe irrompe sombras. Um sol de costas
providencia dádivas de luz grávida que também dá à luz. Azul místico sem
assassinos. Um outro.
corva inácia: Todavia
repara nas cartas caídas das formigas que pairam no tecto celeste. Dali.
Ora daqui profetizo a noite em alguns pedaços de tempo. Para o futuro.
Sempre para o futuro. E uma lua que se pendura pelo pé. E uma roda em
turbilhão que gira e gira infindavelmente. (Fuma haxixe.)
lince de lux: É ela que
gira ou o universo perante o estático redondo?
corva inácia: Não
visualizei a luz negra entre os diabos. Só se emancipam certas profecias
após ocorrência. A mística mais nublada corresponde à leitura diagonal
das borras de cinza. Claro está, as trajectórias por elas descritas
marcam o espaço em caligrafias ondulatórias. São como os peixes que
possuem um olho maior que outro. E outros ainda que possuem um olho
menor que um outro.
lince de lux: Mas... E a
técnica da circunstância?
corva inácia: Está na
escolha mais provável em abstracto. Sempre para o abstracto. E nos
pedaços de tempo em frente está a caveira que nos olha do passado.
Expressivamente às profundezas das orbitas cosmogónicas.
raposa azul: Mas o
terceiro olho é ciclópico.
lince de lux: Ah... A
belíssima fenda craniana...
raposa azul: Pois entre os
olhos diabólicos imaculados contornados ao vermelho emerge um pico no
ciclo. Ponteiros de relógio que expandem o seu tempo ao cosmos. Os
outros são colapso. Dissolvem-se como o ego de vários nenhures. E eu que
terei a areia da ampulheta universal a escorrer-me sem gravidade...
pica-pau francês: Je
ritmarai la pulsion de la faim du matin avec ma gueule! (Afia o bico com
pedra-pomes.)
lince de lux: Sublime! E o
universo que gira à minha volta! (Rodopia no mesmo sítio até tombar
entre tonturas.)
pato sinóptico: O
gravítico é um conta-gotas entupido.
lince de lux: Sinto-me no
imperceptível...
pato sinóptico: Mas as
odes marítimas rasgam os céus quando as conchas azuis desovam! Pequenas,
pululam nos areais em busca do inconcrecto. Do inconcluido. Das danças
intraduzíveis de marés apinhadas em sísifos. Levam as madeiras. Voltam.
(Espanca o lince de lux com uma cana de açúcar até ele se
verticalizar.)
corva inácia: E novamente
levam as madeiras? E novamente voltam?
pato sinóptico: Sempre.
corva inácia: É profético
pois claro...
lince de lux: Tal como a
vistura do indicador estatuário à escuteirice. (Lambe e chupa avidamente
a cana de açúcar.)
corva inácia: E não se
agudizam os timbres oxidados da violação?
lince de lux: Também, pois
tais cardumes vão e voltam de forca em riste, o saudoso que berra por
uma análise mais aprofundada às entranhas do nada.
raposa azul: E como
desconstruíste?
lince de lux: Gotejei um
seio mariano à última gota e uma profecia ia-se cumprindo. Dali. Daqui.
Por toda a escala do cinzento. Pois os aglomerados que deslizam na gosma
acabam empalados no cajado da ordinarice.
raposa azul: E que dizia a
errata taínica? Diagonizei-a...
lince de lux: Que
extraordinárias são as fendas na paralelipipedocracia! Que nem os
redondos realmente o são!
pica-pau francês: Mais je
me sentais tellement arrondis en face de l'arbre de la vie...
lince de lux: Platão e os
asteriscos. Somente.
raposa azul: Mas... E as
sementes?
lince de lux: Quais
sementes?
raposa azul: As quimeras
queimadas na ardência da água! As raízes e frutos de uma afectividade
que brota das irrealidades de poderem existir ostras sem rodas. Embora
algumas as possuam. As estrelas que embalam as intermitências roxas mais
se resplandecem após pausa dramática, inauguram por vezes o museológico
sanitário de entes rupestres.
lince de lux: Urinam-se?
raposa azul: Não. Assim
nunca alguém as urinará. É necessária a primordial rupestricidade da
osculação em ondas friccionadas às areias. A partir dai tudo o resto o
poderá então ser.
lince de lux: Pois... Esse
sol que prescinde das visturas do indicador estatuário... Tão lindo...
raposa azul: Pois que a
sublimação da alma está em todos os lugares que não sejam não-lugares.
corva inácia: Tal como a
cartificação do geológico impõe. A criação afinal.
pato sinóptico: Soube do
que se tratava quando nomeei uma criatura de conceição. Mas afinal seria
o rumo do inominável.
corva inácia: É profético
pois claro...
pato sinóptico: A cria são
abortou quando os sinos tocaram em repique.
corva inácia: E os
outros?
pato sinóptico:
Aproveitaram a vibração para a diarreia do divino. Então volta-se à
aquática consciência, tentando transpor a barreira linguística com os
sísifos. Quase impenetrável.
lince de lux: A
linguística é o renovar neológico. Penetra o terreno fértil e brade
frutos feitos sumo. As intermitências são salivas aguardando o limão. É
a beleza da dispersão em conjunto. Uma epistemologia em contínua lavra
da terra. (Desenterra um limão, tira os caroços e engole-os. Troveja.)
corva inácia: Cuidado!
Pressinto a pausa dos tempos!
lince de lux: Estou
inocente! (Enterra os restos do limão.)
corva inácia: A galinácea
está em impasses... (Pausa.)
(Caimento de panos e de
relógios avariados com horas diferentes.)
estátua da balança
invertida e da espada maior que si própria: Coc... Coc... Coc...
(Cacareja intermitentemente ao som do amanhecer de also sprach
zarathustra de richard strauss.)
(Levantamento de panos.)
pato sinóptico: As artes
masturbatórias derivam ao tédio! São a desregulação externa dos fusos
horários. Ejacular pela boca! Isso sim. É o núncio da mística semiótica
intermediária entre objectos e percepções. Através do fluido viscoso dos
arbítrios livres. (Amordaça a estátua da balança invertida e da espada
maior que si própria. Cospe-lhe nos olhos. Tomba-a. Leva-a seguindo ao
infinito com uma faca do talho ensanguentada em riste ao som de
midsummer night's dream de felix mendelssohn.)
(Levantamento de relógios
com horas diferentes.)
raposa azul: O devir do
faniquestério! (Ergue os braços.)
são fanicos: Ámen! Ámen!
Ámen! (Despe-se e baila violentamente enquando segue ao infinito ao som
de rugidos de dinossauros excessivamente carnívoros.)
corva inácia:
Faniquestérios gratuitos para qualquer transeunte! Que chovam as cartas
da medicina legal! (Ergue os braços perante chuva de cartas roxas.)
lince de lux: O legado do
traumatório! (Olha para cima maravilhado.)
são tromás: Ámen! Ámen!
Ámen! (Despe-se e baila violentamente executando os seguintes
traumatórios ao som da rapsódia em azul de george gershwin. A raposa
azul dança em cima de areia vermelha.)
transeunte, o primeiro:
Faniquestério para mim! (Salta em alegria.)
corva inácia: (Pega numa
carta arbitrariamente.) Ora... Esmagamento de testículos com um pica
miolos pneumático.
são tromás: Ámen!
(Executa.)
corva inácia: (Outra.)
Hum... Arrancamento de mamilos à dentada por uma dentadura postiça que
acabou de comer caldo verde.
são tromás: Ámen!
(Executa.)
corva inácia: (Outra.)
Sublime! Empalamento com ferro em brasa!
são tromás: Ámen!
(Executa.)
transeunte, o primeiro: Ui.
(Morre.)
corva inácia: Seguinte!
transeunte, o segundo:
Faniquestério para mim! (Salta em alegria.)
corva inácia: (Outra.)
Ena... Baldada de água com pétalas de rosas e posterior electrocução.
são tromás: Ámen!
(Execução.)
transeunte, o segundo: Ui.
(Morre.)
corva inácia: Seguinte!
transeunte, o terceiro:
Faniquestério para mim! (Salta em alegria.)
corva inácia: (Outra.)
Fenomenal! Esfolamento com um pedaço de vidro acabado de partir de um
vitral eclesiástico.
pica-pau francês: S'il
vous plaît. Il a été dardé par moi récement et il est diablement aiguisé.
Je n´ai fais qu'une fois, le rasage avec elle et je me suis presque
castré. (Dá o pedaço de vidro colorido ao são tromás.)
são tromás: Ámen!
(Execução.)
corva inácia: (Outra.)
Básico... Ácido sulfúrico pela cabeça abaixo...
são tromás: Ámen!
(Execução.)
transeunte, o terceiro: Ui.
(Morre.)
corva inácia: Seguinte!
transeunte, o quarto:
Faniquestério para mim! (Salta em alegria.)
corva inácia: (Outra.)
Ah... Levar com um piano na cabeça!
são tromás: Ámen! (Pausa.)
Como assim?
corva inácia: Piano na
cabeça.
são tromás: Poderá ser
cabeça no piano?
corva inácia: Pois claro.
Meras perspectivas.
são tromás: Ámen!
(Execução.)
transeunte, o quarto: Ui.
(Morre.)
corva inácia: Seguinte!
transeunte, o quinto:
Faniquestério para mim! (Salta em alegria.)
corva inácia: (Outra.)
Genial... Afogamento em urina de sapos...
são tromás: Ámen! (Pausa.)
Ora... E a urina dos sapos?
lince de lux: Colecta.
são tromás: E onde?
raposa azul: Silêncio!
Ouço o coaxamento sinestésico...
são tromás: De onde?
raposa azul: Dali!
são tromás: De além?
raposa azul: Não. De
além!
lince de lux: Dali?
corva inácia: Daqui?
(Confere a secura das roupas interiores.)
raposa azul: Claro que
não! De além!
são tromás: Ah! Agora sim!
Sinto-lhes a urina nas entranhas! Ámen! Ámen! Ámen! (Agarra no
transeunte, o quinto, e segue ao infinito.)
corva inácia: (Outra.) E a
minha profecia... Ah... Belo! Afogamento em ribeirinho ladeado por
laranjeiras traumatorizadas... Evoé! Evoé! Evoé! (Salta em alegria
enquanto segue ao infinito.)
(Caimento de panos.)
peixinhos dourados:
Trincar! Trincar! Sorver a libido pelo caroço! Afiar os dentes na casca
raspada! Trespassar palhas até aos fios de sumo! Penetrar a virilidade!
(Comem laranjas enquanto dançam ao som da gobbledigook de sigur rós.)
(Levantamento de panos.)
raposa azul: E agora,
finalmente... Podemos comer o pica-pau? (Dirige-se ao pica-pau francês
com uma espada de fogo.)
lince de lux: Belíssimo!
(Prepara temperos dentro de uma panela de barro. Mexe a poção com uma
colher de pau partida.)
raposa azul: Evoé! Evoé!
Evoé! (Correndo atrás do pica-pau francês.)
pica-pau francês: Merdre!
Merdre! Merdre! (Fugindo.)
(Caimento de panos.)
grão mestre dos sonidos e
iluminuras: As iluminações espontâneas são os aglomerados sibilantes que
rumam às livrações. Mapeiam-se nas pontas dos dedos. Os archotes
encaixilhados revestem-se aos horizontes fendidos. Ondulantes.
Extravasam da panificação medieval ao som dos guizos. Descidas que nunca
sobem Para a luz. Sempre para a luz. (Pausa.) Luz aqui. Luz ali. Luz
acolá. Dali. E agora daqui. De além. (Acende velas e incensos entre os
transeuntes. Ouvem-se sussurros e gemidos ao som da tashweesh pelo
kronus quartet.) |