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Revista TriploV
de
Artes, Religiões e Ciências |
Nova Série |
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Pedro Foyos........ |
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Como aplicar as leis fisiológicas de Pavlov
aos antigos censores da Ditadura |
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As celebrações
evocativas de Ivan Pavlov, suscitadas pela efeméride, esta semana, dos
75 anos da morte do eminente fisiologista russo, trouxeram-me a memória
de um episódio pitoresco testemunhado no tempo da Ditadura salazarista.
Eu trabalhava então no único diário português que estoicamente se
assumia oposicionista ao regime vigente. Jornal flagelado pela Censura
como nenhum outro. Em contrapartida, essa condição insurgente gerava
cumplicidades admiráveis em todos os setores da vida nacional. Por
exemplo, a que permitia conhecermos com a antecedência de um ou dois
dias as obras que a Censura havia decidido mandar retirar do mercado
livreiro. De facto, o primeiro organismo não oficial conhecedor das
proibições era a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), à
época com a designação de Grémio, onde alguns destemidos funcionários se
apressavam a passar-nos a informação. Jornalistas de outras publicações
não deixavam de ser privilegiados nesse rotineiro secretismo
informativo, mas o diário República, sob a direção do heroico
Carvalhão Duarte, era sempre o primeiro.
A Censura cometia
amiúde a bendita precipitação de transmitir formalmente, com registo
protocolar, as proibições, quando os livros destinados ao Índex
ainda se encontravam nas livrarias. Apenas no dia seguinte ou dois dias
depois apareciam nos estabelecimentos os agentes da polícia política (PIDE)
incumbidos do desapiedado "arresto". Aproveitávamos esse lapso para de
imediato corrermos aos livreiros amigos, que por regra desconheciam
ainda a próxima visita dos confiscadores. E abastecíamo-nos da
mercadoria em vias de extinção. Evoco emocionado o livreiro lisboeta
António Barata, na Avenida de Roma, a mais discreta pessoa que conheci
até hoje e que tantas vezes me guardou, nos esconsos da lojinha, os
livros proibidos (em número de dezenas). Preserva-os em "lugar de honra"
na minha biblioteca. Cada um tem a sua história e na soma representam um
trecho dramático da nossa História.
Um dia, toda a redação
ficou atónita com a notícia secreta de nova proibição. O autor da obra
interdita dessa vez aos olhos dos portugueses era um dos mais famosos
cientistas do século, Prémio Nobel da Medicina em 1904: Ivan Pavlov.
Maior a estupefação ao saber-se que o teor "subversivo" do livro
respeitava apenas às investigações do cientista no domínio da
Fisiologia. Deste ato censório inferia-se forçosamente que a proibição
não resultava da natureza da obra, antes da "má-natureza" do autor, o
qual, não sendo político, carregava contudo o labéu de uma nacionalidade
maldita: a então União Soviética.
Era a primeira vez que
assistíamos a tal procedimento aplicado a um livro. A prática habitual,
bem nossa conhecida, confinava-se ao noticiário e a artigos. Os nomes
próprios com sonância russa, fossem ou não conhecidos, atraíam
instantaneamente o lápis azul. Mais hilariantes eram os casos dos nomes
cortados por causa dessa sonância, apesar de os autores não
procederem de países comunistas. Mas... ao ouvido eram suspeitos.
Ao rememorar o
episódio, dou comigo a meditar sobre as leis fisiológicas de Pavlov
aplicadas aos censores portugueses durante a Ditadura. Pavlov descobriu
– marco histórico da Ciência – que os reflexos condicionados
(também designados aprendidos) formados no córtex cerebral são
produzidos por um estímulo inicialmente sistemático, o qual resulta
aprendido. |
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O gráfico aqui
reproduzido ajudará a apreender a tese, bastando substituir mentalmente
a cabeça do cão pela cabeça do censor.
Indispensável, para o
êxito da experiência, um lápis azul sobre a mesa.
Vejamos: o cão produz
saliva quando lhe é apresentado um alimento, circunstância que serve
para ajudar a ingestão do alimento.
Coloquemos agora o
Doutor Pavlov no lugar da campainha. O reflexo inato do censor é cortar,
circunstância que serve para manter o País livre da subversão da opinião
pública. Mas o censor neófito nunca cortou nomes russos, não os
distingue. Então, o Doutor Pavlov vai murmurando ao ouvido do censor
nomes russos e dá-lhe um biscoito de cada vez que ele reage com o lápis
azul.
Ao fim de algum tempo,
o reflexo fica aprendido. De cada vez que o censor ler um nome russo, ou
vagamente parecido com isso, logo o corta com raiva e abundante
salivação, mesmo sem o presentinho do biscoito. |
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Pedro Foyos
(Portugal)
Num percurso de meio século entre os mundos do
Jornalismo e da Literatura, passando pelas Artes Visuais, Pedro Foyos
alcançou especial notoriedade quando, já reformado do jornalismo diário,
começou a dedicar-se à ficção e à crónica de atualidade.
Iniciou muito novo (final de 1960) a atividade jornalística no diário
República – único declaradamente de oposição à Ditadura. Durante vários
anos conciliou o jornalismo com a vida académica, participando nos
movimentos estudantis que recrudesceram no País a partir de 1962. Na
condição de jornalista e ao mesmo tempo de estudante foi-lhe possível,
com a colaboração dos correspondentes da imprensa estrangeira,
transmitir para o mundo, durante quase toda a década de 60, os
acontecimentos das sucessivas crises académicas, com realce para as de
1962 (Lisboa) e 1969 (Coimbra).
Depois da revolução de 25 de Abril, no início do chamado Verão Quente de
1975 e na sequência do dramático encerramento do histórico jornal
República, dirigido por Raul Rêgo, passou dois meses a correr o País,
com o jornalista Vítor Direito, ao abrigo da solidariedade de
tipografias democráticas dispostas a imprimir o Jornal do Caso
República, publicação clandestina com tiragens de cem mil exemplares e
que não podia produzir-se mais do que uma vez no mesmo local. Em Agosto
desse ano foi co-fundador do diário A Luta, onde se manteve como redator
e diretor de arte até próximo da sua extinção. Ainda nos anos 70
trabalhou em várias publicações da empresa jornalística “O Século”, com
realce para as revistas O Século Ilustrado e Vida Mundial. Seguiu-se o
Diário de Notícias, onde integrou a chefia de redação, sendo
responsável, nomeadamente, pela revista dominical e edições especiais.
Empreendeu em simultaneidade vários projetos editoriais no âmbito da
Fotografia, Cinema e Artes Visuais em geral, fundando e dirigindo um
jornal e duas revistas. Fundou também a coleção Grande Reportagem,
consagrada a momentos assinaláveis do jornalismo português, tema que já
antes lhe inspirara o livro O Jornal do Dia, e, mais tarde, A Vida das
Imagens. Insere-se ainda nesse domínio Grandes Repórteres Portugueses da
I República.
De permeio exerceu durante doze anos a presidência da Associação
Portuguesa de Arte Fotográfica, tendo fundado e dirigido um Anuário da
especialidade. Realizou por essa época várias exposições individuais de
fotografia e de foto-pintura.
No campo do ensino e formação orientou estágios profissionais de
Tecnologias de Comunicação na especialidade de Psicologia da Leitura.
Interessado igualmente, desde muito novo, pelos temas científicos,
fundou o Centro de Estudos das Ciências da Natureza, direcionado em
especial para as camadas juvenis, mas que dificuldades financeiras
impuseram o encerramento em 2006.
No termo deste ciclo começou a dedicar-se à literatura de ficção,
primeiro com O Criador de Letras, um romance inspirado no tema da
invenção do alfabeto, tendo como cenário social a vida quotidiana no
Próximo Oriente Antigo. A obra seguinte, Botânica das Lágrimas,
protagonizada por crianças e cuja acção decorre inteiramente num jardim
botânico, mereceu do escritor Miguel Real a qualificação de «romance
marcante na literatura juvenil portuguesa.» (in Prefácio à segunda
edição e seguintes).
Pedro Foyos é casado com a jornalista e escritora Maria Augusta Silva,
distinguida com o Prémio Internacional de Jornalismo, entregue
pessoalmente pelo Rei de Espanha no ano de 1993.
(Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Foyos
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