APRESENTAÇÃO
José Eduardo Franco
Centro de Literaturas de Expressão Portuguesa
das Universidades de Lisboa
Este livro é uma herança. É uma galeria viva de testemunhos emocionados, de reflexões ponderadas e de estudos aprofundados. Uma herança/testemunho/homenagem que muitos quiseram deixar patente no ano de 2005 na celebração da memória de uma grande figura intelectual que marcou o panorama da cultura portuguesa do século XX. É uma herança viva que faz de um ente querido, e um pouco deixado ao esquecimento, uma figura imortal da nossa história.
Esta obra coroa a homenagem nacional promovida ao longo de 2005 ao Padre Manuel Antunes, SJ, vinte anos depois do seu desaparecimento do mundo dos mortais. Foi uma homenagem digna, mas sem deixar de ser muito expressiva; foi uma homenagem intensa, mas sem ser espampanante. Cumpriu-se em dimensão e em seriedade o que a sua obra merecia e o que muitos reivindicavam há muito. Intérprete desse desejo partilhado pela maioria daqueles que conviveram com o Padre Manuel Antunes e que dele receberam formação, conselho, orientação e testemunho de vida, o antigo Ministro da Educação e seu amigo, Miguel Sottomaior Cardia, escreveu num texto ainda inédito de uma conferência proferida há duas décadas atrás para homenagear este brilhante professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa: “Como homem de pensamento é, sem dúvida, um dos maiores deste século em Portugal. Admito mesmo que, se tivesse vivido em meio não-hostil, poderia ter sido uma das grandes figuras intelectuais destes tempos. A circunstância é que lhe foi quase inteiramente desfavorável”.
Apesar de Sottomaior Cardia professar valores diversos, como confessa, perspectivados por um outro horizonte filosófico que não o antuniano, considera Manuel Antunes “um dos mais aliciantes mestres do pensamento com quem pude dialogar. É difícil citar no panorama português destes anos o nome de meia dúzia de pessoas capazes de com ele competir em rigor, em precisão, em subtileza, em objectividade, em sentido do real”. O juízo que faz da dimensão do seu contributo intelectual e da sua acção pedagógica permitia-lhe apelar para a importância imperiosa de garantir a perpetuação da memória deste jesuíta de vigor intelectual impressionante que a “sua grandeza justifica e mesmo exige”.
O melhor modo de fazer jus à vida e obra do Padre Manuel Antunes seria menos pelos festejos efémeros e mais pelo trabalho de pesquisa e de edição. Por isso, a homenagem mais fecunda deveria passar, segundo Sottomaior Cardia, pela “edição dos textos”, pela “investigação académica sobre o homem e a obra”, pela “tradução em língua estrangeira de uma antologia filosófica adequada”. Em boa parte deu-se início e avançou-se significativamente no cumprimento deste desejo/programa querido pelos mais dedicados dos seus alunos/discípulos e amigos e aqui tão bem interpretado na conferência citada do antigo Ministro da Educação dos alvores da Democracia em Portugal.
Com efeito, no ano de 2005, que em grande medida ficou a ser como que o ano antuniano na cultura portuguesa, multiplicaram-se iniciativas de homenagem ao Padre Manuel Antunes graças ao empenho concertado de instituições e pessoas que quiseram roubar ao olvido a vida e obra deste mestre do saber e torná-las fecundas para a cultura portuguesa do presente e do futuro.
Foi decisivo o apoio concertado de instituições científicas, culturais e políticas, merecendo especial destaque a Fundação Calouste Gulbenkian, o Centro Nacional de Cultura, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a Faculdade de Teologia da Universidade Católica, a Revista Brotéria da Companhia de Jesus, a Câmara Municipal da Sertã, a Academia das Ciências de Lisboa e a Casa da Comarca da Sertã.
Do mesmo modo, a homenagem não teria sido possível sem o empenho solidário do grupo de consultores científicos que quiseram caucionar esta realização, a saber, Aires Augusto Nascimento, Arnaldo do Espírito Santo, Eduardo Lourenço, Eduardo Prado Coelho, Hermínio Rico, Joaquim Cerqueira Gonçalves, José Barata Moura, José Eduardo Franco, Luís Archer, Luís Filipe Barreto, Luís Machado de Abreu, Manuel Ferreira Patrício, Manuel José Carmo Ferreira, Maria Helena da Rocha Pereira, Maria Vitalina Leal de Matos, Peter Stilwell e Raul Miguel Rosado Fernandes.
O trabalho de fundo e arduamente empenhado deveu-se a uma comissão executiva que teve a honra de ser chamada “Equipa Padre Manuel Antunes”, vencendo enormes e, por vezes, “mesquinhos obstáculos” para cumprir o sonho e realizar a obra, merecendo pois serem aqui recordados os seguintes nomes: Américo Lourenço, Ângela Reis Moura, Celso Matias, Elisabete Simões, José Eduardo Franco, Maria Adelaide Canas, Maria Delfina Barata, Paula Bastos Xavier, Patrícia França e Rosete Milheiro.
Cumpre-nos ainda mencionar as entidades portuguesas que quiseram honrar este esforço de homenagem associando-se à Comissão de Honra: o então Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, Presidente da Assembleia da República, Dr. Jaime Gama, Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, Superior Provincial da Companhia de Jesus, Padre Nuno da Silva Gonçalves, o então Reitor da Universidade de Lisboa, Professor Doutor José Barata Moura, Reitor da Universidade Católica Portuguesa, Professor Doutor Manuel Braga da Cruz, Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Dr.???, Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, Professor Doutor Vitorino Pina Martins, Presidente do Centro Nacional de Cultura, Dr. Guilherme d’Oliveira Martins, Presidente da Câmara Municipal da Sertã, Dr. Paulo Farinha, Presidente do Conselho Directivo da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Professor Doutor Álvaro de Pina, e o antigo Presidente da República, General António Ramalho Eanes.
Entre as iniciativas que compuseram esta homenagem nacional cumpre destacar o Curso Livre – promovido pela revista Brotéria em parceria com a Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa – realizado em Abril de 2005, subordinado ao tema: Jesuítas em Portugal e na Europa: perfil e percurso de uma Ordem controversa. Na evocação dos 20 anos da morte do Padre Manuel Antunes, SJ.
Ainda no primeiro semestre de 2005 foi inaugurado a 24 de Junho, no dia festivo do Conselho da Sertã, o complexo monumental dedicado ao Padre Manuel Antunes no centro daquela autarquia, nomeado significativamente Jardins dos Ensinamentos, onde prepondera uma estátua deste pedagogo em posição magistral a adubar com o seu saber o jardim dos seus alunos.
Com o apoio exclusivo da Fundação Calouste Gulbenkian em cooperação com a Revista Brotéria foi constituída uma equipa de trabalho para preparar a edição crítica da Obra Completa do Padre Manuel Antunes, sj, o melhor legado que se poderia deixar às gerações vindouras nas palavras do então Reitor da Universidade de Lisboa, José Barata Moura, que viria a apresentar os dois primeiros volumes desta obra na cerimónia de lançamento, ocorrida a 12 de Dezembro de 2005 no Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian com grande afluência de público.
O conjunto principal deste livro é constituído pelos textos das conferências proferidas no acontecimento que coroou a homenagem nacional do ano antuniano de 2005: o Congresso Internacional Padre Manuel Antunes: Interfaces da Cultura Portuguesa e Europeia. Com prefácio de Eduardo Lourenço, este livro reúne contributos notáveis para o conhecimento da vida e obra do Padre Manuel Antunes na sua relação dialógica com os legados culturais e correntes de pensamento do presente e do passado.
Registam-se ainda em anexo os discursos do Presidente da Câmara da Sertã, Dr. Paulo Farinha – a propósito da inauguração dos Jardins dos Ensinamentos – e do Professor Doutor José Barata Moura – aquando da cerimónia de lançamento da Obra Completa –, dois entusiastas e empenhados promotores da homenagem nacional ao Padre Manuel Antunes.
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