A TURQUIA CONSEGUE MAGISTRALMENTE
MOBILIZAR O NACIONALISMO TURCO E NÃO TURCO
Os Factos
Dia 11.03 o governo holandês não
permitiu a aterragem do avião do MNE turco, Cavusoglu, que vinha fazer
propaganda no consulado de Roterdão; no mesmo dia a ministra da família
Syan Kaya entra na Holanda vinda da Alemanha de carro e é circundada de
polícias e solicitada a sair do país. (A Holanda sob pressão política com
eleições legislativas na quarta-feira quer dar um sinal de quem é senhor
na própria casa, o que leva o governo a agir precipitadamente).
No dia 12, Cavusoglu, num comício
de propaganda na cidade francesa de Metz, disse que a Holanda tinha de ser
responsabilizada. Recep Tayyip Erdogan reage também fazendo
acusações de nazismo e fascismo contra os Países Baixos (como já tinha
feito contra a Alemanha) e pede sanções contra a Holanda.
Em política, na luta dos grupos
de interesses quem ganha tem razão
Na falta de argumentos para a
defesa da mudança da Constituição turca, o actual presidente Recep Tayyip
Erdogan, puxa todos os registos nacionalistas para conseguir alargar os
seus poderes presidenciais no espírito do império otomano. Erdogan quer
apagar da Constituição turca o espírito moderno ocidental introduzido na
Turquia por Kemal Atatürk, seu fundador.
Na luta entre os grupos de
interesses, no palco da arena política, o governo turco consegue o que
quer: mobilizar os nacionalistas e fascistas turcos dentro e fora do país
e consegue simultaneamente a desorientação nos andares superiores da EU,
que tem sido muito benigna em relação à tentativa do partido de Erdogan
para estabelecer um sistema presidencial omnipotente na Turquia. A Europa
cala-se porque precisa da Turquia e precisa do povo. Precisa da Turquia
por interesses das elites económicas, mas estes concorrem com os
interesses do povo.
Erdogan conseguiu a atenção que
queria e, para quem não está informado da
omnipotência que Erdogan pretende com o referendo, fica com a sensação de
que a Turquia é vítima. Gente bem-avisada opina que seria melhor deixar a
Turquia fazer a sua propaganda entre eles, como fez no passado. Então
deveria ser facilitada também a propaganda da oposição. Por outro
lado, a actual propaganda para o projecto em vista contradiz os valores
constitucionais dos países da EU e os propagandistas viajam à custa do
Estado turco (excepto a oposição!)
A Holanda, ao tomar uma decisão
governamental soberana, serviu, porém, os interesses do governo turco
empenhado numa discussão meramente emocional e demagógica sobre o
referendo. O regime de Erdogan, conseguiu já maior coesão interna levando
a própria oposição a defendê-lo ao criticar a Holanda. Erdogan conseguirá
também ter um pretexto para mudar o seu embaixador na Holanda e colocar lá
um diplomata ainda mais empenhado no seu partido. A Alemanha, também
intitulada de nazismo por Erdogan, fecha os olhos e não toma decisões a
nível de governo em relação à propaganda turca na Alemanha e deixa aos
municípios a questão de impedimento ou não da propaganda turca na Alemanha
com os ministros turcos.
O que os governos deveriam
aprender da lição é o problema que os tucos trazem com o seu estatuto de
dupla nacionalidade. De facto, o regime político e jurídico alemão e de
outros países da EU encontram-se diametralmente opostos ao fascismo
pretendido pelo sistema presidencial turco. Os imigrantes que votam por
ele são infiéis aos valores defendidos pelas Constituições dos países onde
vivem. É ambivalente a atitude de quem exige e usufrui dos valores
democráticos dos países onde vive e quer para o seu país a
institucionalização de valores antidemocráticos.
Vivemos num mundo maluco! O governo
turco que pretende a omnipotência do chefe de Estado para o seu regime
ataca de fascistas os governos de grandes democracias como a Alemanha e a
Holanda.
Boa tarde Europa, boa noite
Turquia! O amanhecer de uma e outra só pode ser enevoado e turbulento.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Espírito no Tempo
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