UNIÃO
EUROPEIA ABORRECIDA COM A VOTAÇÃO SUÍÇA REDUTORA DA IMIGRAÇÃO
O único
país verdadeiramente democrático do mundo cria dificuldades às
democracias representativas da EU.
50,3%
dos suíços votaram pela redução/controlo da imigração.(68% na região
de língua italiana, 52% na região de língua alemã e 41,5% na região de
língua francesa). De notar que a votação não tem a ver com a cor
partidária dado a percentagem das cidades dominadas pela esquerda
(vermelhos e verdes) não se distinguir das outras. As associações de
gestão económica reagiram com medo das consequências duma política que
determine uma imigração demasiado regulada. Os empresários estão
interessados na qualidade dos empregados e consequentemente na escolha
de empregados nacionais e do estrangeiro. 56% da exportação Suíça é
para a EU. Por outro lado, sob a perspectiva de países exportadores de
emigrantes torna-se mais injusta ainda a economia de um país que só
aceite imigração qualificada.
Em 2013
imigraram para a Suíça 85.000 pessoas; um país em que a população
estrangeira atingiu já 23,6% da população, é natural que a discussão
seja diferente da de uma Alemanha, com 8% de população estrangeira.
Uma EU
do Mercado dos Especuladores e dos Valores sociais
No
negócio com os imigrantes, a nação e o patronato ganham mas também há
grupos sociais que sofrem sob a concorrência. Na Suíça o povo é o
barómetro do estado da Nação e da economia. Nos outros países da EU a
situação é diferente porque quem determina o poder público é a
burocracia e os diferentes grupos de interesse. A decisão dos suíços é
democrática e por isso incontestável para democratas. A EU quer porém
que a Suíça, através de desvios legais, não respeite a vontade do
povo.
Com a
questionação da livre circulação de pessoas, dá-se uma
renacionalização dos interesses. Os suíços não querem perder a
soberania nacional; querem permanecer uma democracia independente;
resistem a ser uma província da EU; o problema fundamental aqui é a
questão de competências: quem manda em casa, Bruxelas ou a nação; para
mais os suíços verificam que a EU não cumpre algumas medidas referente
a ela mesma (dívidas não além de 3%).
A
restrição da imigração viria tocar principalmente os interesses dos
povos vizinhos, Alemanha, Itália e França. Na Suíça trabalham 300.000
alemães com contrato permanente, não sendo abrangidos por nova
eventual regulamentação; o mesmo já se não diria para os 270.000
estrangeiros fronteiriças que se deslocam diariamente à Suíça para
trabalhar. Os estrangeiros têm medo que a nova regulamentação venha a
ter preferência pelos suíços e só aceite estrangeiros no caso de
lugares de trabalho disponíveis.
A maior
proximidade entre povo e política tem as suas vantagens e o seu preço.
Com plebiscitos predomina a vontade do povo enquanto nas democracias
representativas predominam os interesses de grupos. Vantagem: a Suíça
é uma verdadeira democracia em que o povo controla o parlamento e diz
o que pensa aos políticos; desvantagem: às vezes poderá vencer o
sentimento sobre a razão.
Por trás
da discussão pública internacional nota-se o medo dos políticos
europeus porque sabem que o seu povo não decidiria diferentemente do
povo suíço e as suas posições em Bruxelas seriam
questionadas se dependentes de plebiscitos nacionais; a nível de
nação, há, por outro lado, os que beneficiam directamente da imigração
e o povo simples não tão beneficiado pelo sistema e que sofre mais a
concorrência directa dos imigrantes.
Estes deixam-se orientar mais pelo medo
vendo com bons olhos a limitação da imigração a contingentes; também é
ele quem sofre mais com a desregulação laboral e as reduções nas redes
sociais em via. Certos grupos da camada social média europeia têm
constatado que, com o crescimento da imigração, a vida se tem tornado
mais insegura nas cidades e a criminalidade aumentado; por outro lado
têm medo dos grupos que não se integram, vendo surgir nas cidades uma
sociedade islâmica paralela. O povo, que estava habituado a sair à rua
sem se preocupar, tem agora medo de ser agredido sem qualquer motivo.
Se viessem todos bem e a todos corresse bem a vida, certamente não
haveria tentativas de explicações mono-causais dos fenómenos que
assolam a sociedades europeias. O povo nota a degradação de uma
sociedade sem saber o porquê e, naturalmente, procura ver as causas
nas coisas mais imediatas; por outro lado sofre a pressão da opinião
correcta que não admite um tom crítico em relação a estrangeiros.
Assim se uma pessoa fizer a afirmação objectiva de que no último ano
apenas um quinto dos emigrantes turcos que vieram para a Alemanha
vieram à procura de trabalho, isto já pode ser considerado como
atitude xenófoba. Embora eu seja estrangeiro não posso fechar os
olhos aos factos nem limitar-me a uma observação mono-causal dos
factos.
Embora a
EU se baseie na livre circulação de capital, serviços e pessoas,
muitos vêem na livre circulação de pessoas uma construção falhada, tal
como a do Euro.
Embora o
alargamento da EU para a Bulgária e Roménia beneficie a posição da
Alemanha, também ela geme porque, só nos últimos anos, houve,
relativamente a estes dois países, uma subida de 300% a receberem
apoio social; na Alemanha, cada vez é mais forte o medo de uma
imigração para os sistemas sociais. De facto o tribunal alemão
decretou que uma família espanhola imigrada que não encontrou trabalho
tivesse direito a assistência social o que corresponde para os quatro
membros de família a 1033€ por mês sem terem ainda contribuído para os
serviços sociais. No meio de tudo isto que ganha é a Alemanha que
consegue manter a produção no seu país e ainda é premiada com
imigrantes qualificados que a enriquecem à custa do empobrecimento
demográfico dos países de envio.
Os
políticos da União Europeia estão sob choque com os resultados da
votação do povo suíço. Uma Europa habituada a fazer leis a nível de
Estado, sem consultar o povo e em que a maioria do próprio povo se
identifica com os resultados do plebiscito suíço, tem razão para se
tornar inquieta. Os políticos têm medo das ondas que a decisão Suíça
irá causar nas próprias populações; isto obriga os políticos a
reflectir sobre as consequências da liberdade de circulação na EU. A
EU foi construída com pés de barro. Na EU, nos últimos 10-15 anos,
tem-se assistido a uma transferência de dinheiros das bases para as
cúpulas. Os estados fortes querem uma concorrência aberta e global
também a nível de pessoas porque melhor servem os seus objectivos nos
seus pontos fulcrais da economia e de compensação da fraca natalidade
(os mais jovens irão manter as pensões dos mais velhos). Na Alemanha
um imigrante permanece em média 22 anos, o tempo em que é mais
produtivo. Sempre foi um facto que as regiões onde o desenvolvimento é
maior, sempre atraem as pessoas. Uma EU a querer ser construída em
torno de valores éticos e sociais não pode construir um sistema
europeu em que os países do núcleo vivam do roubo da juventude dos
países da periferia, em vez de criar lugares de trabalho também na
periferia.
O povo
suíço determinou por plebiscito, dentro de três anos, limitar da
imigração. A Suíça não é membro da EU mas tem o estatuto de associado
desde 1999. A liberdade de circulação de pessoas concede o direito
de viver e de trabalhar livremente nos Estados da Suíça e da EU, desde
que tenha um emprego, trabalho independente ou meios suficientes para
subsistir.
António
da Cunha Duarte Justo
Jornalista livre e independente
www.antonio-justo.eu