LAIO OU O PODER
Cunha de Leiradella
www.triplov.org 16-01-2005
Previous Home Next

 

c

CENA II

APOSENTOS DE LAIO

Coro, Laio, Fâmulo, Mensageiro, Decano, Nobres de Tebas e Intendente

CORO

Eis Laio, senhores, o rei de Tebas. Em Tebas, senhores, como em todas as cidades, há homens que vivem do seu trabalho e há homens que vivem do trabalho dos outros homens. E para que todos esses homens possam conviver, um rei chamado Laio governa, hoje, esta cidade. E Laio, senhores, será um grande rei enquanto der esperança aos que trabalham e prosperidade aos que são ricos. Os homens, senhores, são seres interessantes, apesar dos deuses e do destino. Sabem, desde que nascem, que vão morrer. Mas vivem como se isso nunca pudesse acontecer.

FÂMULO

Senhor, o teu Mensageiro já partiu e, dentro em pouco, os Nobres de Tebas chegarão.

LAIO

Que achas de Tebas?

FÂMULO

Eu, senhor?

LAIO

Estão os tebanos satisfeitos?

FÂMULO

Aos tebanos compete honrar o seu rei, o filho ilustre do divino Cadmo.

LAIO

Tirésias não oferta mais em Tebas.

FÂMULO

Tirésias é um sacerdote de Lóxias, ó ilustre.

LAIO

Mas, há dez anos, ofertava em Tebas.

FÂMULO

Tu voltavas de Sicião vitorioso, ó rei, e Tebas tinha paz.

LAIO

Há paz em Tebas.

FÂMULO

Mas ainda é em Delfos que o deus vive.

LAIO

Há paz em Tebas, eu disse.

FÂMULO

Há paz em Tebas, ó ilustre. Tu a deste aos tebanos, derrotando Pólibo.

LAIO

Que mais querem os tebanos, então?

FÂMULO

O futuro pertence aos deuses, ó rei. Aquele que hoje vive, amanhã pode estar morto.

LAIO

Tu podes morrer agora. Depende da minha vontade.

FÂMULO

Laio é o rei de Tebas, não eu, ó filho do divino Cadmo.

LAIO

Que farias se fosses rei?

FÂMULO

Nada, ó ilustre. Nunca serei rei.

Entra o Mensageiro.

MENSAGEIRO

Os Nobres de Tebas aguardam que os chames, ó ilustre.

LAIO

Que entrem.

Sai o Mensageiro. Entram o Decano e os Nobres de Tebas.

DECANO

Que o deus Apolo te seja propicio, ó filho ilustre do divino Cadmo. Nós, os tebanos...

LAIO

Que mais desejam os tebanos do seu rei? Acaso Tebas está ameaçada ou a peste corre na cidade?

DECANO

Filho de Cadmo, tu nos mandaste chamar.

NICIAS

Dizem, ó rei, que os tebanos de ti esperam duas coisas, muito importantes para eles. A construção de mais um templo e um herdeiro que te possa suceder.

LAIO

Desde quando os tebanos exigem do seu rei?

NICIAS

Dizem que os tebanos temem pela segurança da cidade.

6o. NOBRE

Tebas teme pela sua segurança e pela segurança do seu rei.

LAIO

Há paz em Tebas. Eu a conquistei em Sicião.

DECANO

A paz que hoje temos é suficiente para nós, ó filho de Polidoro. Tu a conquistaste nas fronteiras de Sicião, é verdade, e, nós sabemos, a manterás. Nós, ó rei, estamos certos de uma velhice tranqüila, mas os nossos filhos...

LAIO

Que desgraça temeis que possa atingir os vossos filhos?

2o. NOBRE

Eles não terão, como nós temos, um rei que comande os seus exércitos.

3o. NOBRE

Tebas não tem, ainda, um herdeiro que possa suceder a Laio.

5o. NOBRE

E a casa dos Labdácides não pode morrer com Laio.

LAIO

É só isso que desejam os tebanos?

DECANO

Que mais pode desejar Tebas, a não ser prosperidade e paz, ó filho ilustre do divino Cadmo?

NICIAS

Quem aqui fala em nome de Tebas? Só Laio...

2o. NOBRE

Nós somos Tebas.

3o. NOBRE

Sem nós Tebas não existirá.

4o. NOBRE

Tebas não existirá sem Laio, o seu rei.

6o. NOBRE

Antes de Laio existiram outros reis.

5o. NOBRE

E sempre serviram a Tebas e aos deuses.

LAIO

Como ousais?!

DECANO

Tebas nos preocupa, ó filho de Polidoro.

LAIO

Tebas sempre foi forte.

2o. NOBRE

Vais desobedecer ao deus Apolo?

LAIO

Tu saberás, tebano. Tu saberás! Mas só na tua hora!

DECANO

Filho de Lábdaco...

LAIO

Tebas ainda tem rei. E o que importa a ele, importa a Tebas. Ou esqueceis na presença de quem estais?

5o. NOBRE

Tu nos mandaste chamar. Não viemos aqui porque quisemos.

DECANO

Filho de Lábdaco...

LAIO

Eu vos direi o que for da vontade do rei, e na hora apropriada. (Ao Fâmulo.) Leva-os.

Sai o Fâmulo, seguido do Decano e dos Nobres de Tebas.

CORO

Um templo, senhores, e um herdeiro. Um templo onde os homens que trabalham possam alongar as suas esperanças e esquecer as suas amarguras, e um herdeiro que assegure aos outros homens a prosperidade e a riqueza que hoje têm. Na realidade, senhores, bem pouca coisa querem os Nobres de Tebas do seu rei, desde que as suas casas permaneçam.

Entra o Fâmulo.

LAIO

Chama o Intendente.

Sai o Fâmulo e volta com o Intendente.

LAIO

Chama os arautos, Intendente. (Sai o Intendente.) Laio ainda é o rei de Tebas.

CORO

Todo homem tem direito de ter razão. Mas se não tiver conhecimento de si mesmo, senhores, nenhum homem tem razão.

APAGA A LUZ