LAIO OU O PODER Cunha de Leiradella www.triplov.org 16-01-2005 |
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LAIO
OU O PODER
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CUNHA DE LEIRADELLA |
O PRIMEIRO LIVRO DE TIRÉSIAS |
A criação do primeiro 1 No princípio era o Caos. 2 E tudo era sem forma e sem vida, e nada havia por dentro e por fora do Caos. 3 E o Caos quis ocupar o nada. E criou a Noite e a Noite reinou sozinha na imensidão desconhecida. 4 E o Caos criou o Érebro e a imensidão foi dividida. 5 E disse o Caos: Haja forma. E o Érebro e a Noite se conjugaram e houve forma. 6 E viu o Caos que era boa a forma. Mas não havia luz, nem sombra. 7 E disse o Caos: Haja luz. E o Érebro e a Noite geraram o Éter e o Dia, e fez-se a luz. 8 E no começo do começo dos tempos e das coisas reinavam o Éter e o Dia. Mas nada mais havia sobre o volume da forma, nem da luz. 9 E disse o Caos: Haja vida. E o Éter e o Dia geraram Gaia e Ouranós, e a vida se espalhou sobre o volume da forma e da luz. 10 E disse o Caos: Haja começo e haja fim. E dormiu na Noite e o Destino foi gerado, e tudo na forma e na luz se ordenou. |
A criação dos segundos 1 Estes são os princípios da terra e do céu, e de tudo que existe. Das ervas e das árvores, dos peixes e dos rios, dos lagos e dos mares, dos animais e das aves. 2 E do Sol, filho de Ouranós. 3 E a terra tinha luz e tinha sombra e tudo nela se gerava e produzia. 4 E as ervas e as árvores se geravam e produziam, e atapetavam de verde as superfícies. E os rios e os lagos e os mares se geravam e produziam, e se enchiam de algas e de peixes. E os campos e as colinas se geravam e produziam, e se povoavam de aves e animais. 5 E o Sol iluminava a terra e a aquecia. 6 E Gaia e Ouranós reinavam e resplandeciam em todos os princípios. 7 E os animais e as aves e os peixes e as plantas, e tudo que era vivo na superfície da terra cresceu e se multiplicou. 8 E disse Ouranós: Haja uma vida que reine sobre todas as outras vidas. E do seio da terra brotou o homem e reinou sobre todas as vidas da superfície. 9 E Gaia e Ouranós disseram: Eis o nosso filho que nos honrará e colherá os frutos dos nossos ventres. E o homem gerou e produziu, e a face da terra se cobriu de homens que geraram e produziram, e cresceram e se multiplicaram. 10 E o Destino, filho do Caos e da Noite iniciou os assentamentos do seu livro e nele escreveu sobre todos os homens que povoaram a terra. 11 E Gaia e Ouranós geraram a Titã e a Cronos, e geraram a Cibele. 12 E Cronos escalou o céu e depôs Ouranós e escalou a terra e depôs Titã, e reinou em seu lugar. 13 E tomou por esposa Cibele e a teve, e nela gerou filhos. 14 E os filhos de Cibele e de Cronos se chamaram Zeus, Poseidon e Hades. 15 E reinaram sobre a terra e sobre tudo que nela havia, e a dividiram em três reinos. 16 E chamaram os seus reinos de reino da terra e da luz, reino dos mares e das águas e reino dos infernos e das trevas. 17 E Zeus reinou na terra e na luz e Poseidon reinou nos mares e nas águas e Hades reinou nos infernos e nas trevas. |
A criação dos terceiros 1 Estes são os princípios dos conhecimentos e das dúvidas, e das maldições da humanidade. 2 E conheceu Poseidon a Líbia, a ninfa do mar, e a teve e ela concebeu, e dela nasceu um varão, Agenor. 3 E cresceu Agenor amado por sua mãe e protegido por seu pai. E, conhecendo a idade da razão, foi-lhe dado o reino de Fenícia. 4 E governando Agenor com acerto, foi-lhe dada por esposa Agríope, a nobre sobre todas as nobres. 5 E os dois tiveram quatro filhos. Tiveram a Cadmo, tiveram a Fênix, tiveram a Cilix e tiveram a Europa, a bela sobre todas as belas. 6 E sucedeu que, estando Zeus em Fenícia, viu Europa passear nas alamedas dos jardins do seu palácio. 7 E mandou Zeus que a trouxessem até si e Europa recusou. 8 E disfarçou-se Zeus num touro manso e foi passear nas alamedas dos jardins. 9 E gostou Europa do touro manso e lhe pôs flores nos chifres, e o montou. 10 E o touro arremeteu e correu, e Europa foi levada. 11 E aconteceu que Agenor soube do rapto e chorou, e mandou que todos procurassem sua filha. 12 E sucedeu que ninguém encontrou Europa, a bela sobre todas as belas, e muito lamentou Agenor a sua sorte. 13 E mandou a seus filhos que saíssem por toda a terra e procurassem Europa e não voltassem sem ela. 14 E eles foram e não voltaram, pois não encontraram Europa nos seus caminhos. |
A fundação de Tebas 1 E aconteceu que Cadmo, o primogênito, chegou à Grécia. 2 E foi consultar o oráculo, ainda procurando sua irmã. E o oráculo, por vontade de Zeus, nada disse de Europa, a bela sobre todas as belas. 3 E chorou Cadmo a irmã perdida e voltou a consultar o oráculo. 4 E foi-lhe dito que fundasse uma cidade. Um touro viria e lhe indicaria o caminho e o local. 5 E esperou Cadmo o touro por três dias e três noites. E, na manhã do quarto dia, apareceu o touro e levou Cadmo. 6 E foi Cadmo com o touro. E, onde o touro parou, construiu Cadmo uma grande cidade e lhe deu o nome de Cidade Tebas, em honra de Tebas do Egito. 7 E sendo Cadmo um homem bom e protegido da deusa Atena, ensinou aos gregos o uso do alfabeto. 8 E reinou Cadmo na sua cidade pelo espaço de quinze anos. 9 E sucedeu que não tendo Cadmo esposa muito lamentava a sua sorte. 10 E aconteceu que o deus Ares e a deusa Afrodite, condoídos, lhe deram em casamento Harmonia , sua filha. 11 E casou Cadmo com Harmonia e viveram mais dez anos sem descendência. 12 E sucedeu que, após esses dez anos, tiveram cinco filhos. Um primogênito, a quem deram o nome de Polidoro, e mais quatro, a quem chamaram Ino, Agave, Autonoé e Sêmele. 13 E aconteceu que Ares, ofendido com as infidelidades de Afrodite e não a podendo castigar, amaldiçoou seus filhos até à última geração das gerações. 14 E deu a sua filha Harmonia um manto onde juntou todos os crimes e sofrimentos conhecidos. 15 E aconteceu que Afrodite, não podendo desfazer a maldição, transformou Cadmo e Harmonia em serpentes, para fugirem do sofrimento. 16 E sucedeu que, tendo saído Polidoro em procura de seu pais e não os encontrando, volta para casa. 17 E vendo duas serpentes entrelaçadas no leito de sua mãe, puxa da espada e mata-as de um só golpe. 18 E saindo do quarto e encontrando Tirésias, o adivinho, lhe pergunta: Tu viste meus pais? 19 E Tirésias lhe responde: Tu próprio os mataste. 20 E Polidoro diz: Eu matei? Como poderia ter matado meus pais se só matei duas serpentes? 21 E Tirésias diz: Eram teus pais as serpentes. 22 E aconteceu que, conhecendo Polidoro todo o horror do seu crime, com a própria espada se trespassou. 23 E foi, então, que Lábdaco, seu filho, reinou em Tebas. 24 E sucedeu que era Lábdaco um príncipe sábio e todos o veneravam. |
A maldição de Laio 1 E aconteceu que foi Tebas a guerrear com o país de Sicião. 2 E mandou Lábdaco que fosse seu filho Laio o comandante dos exércitos. E foi Laio o comandante. 3 E aconteceu que Lábdaco, querendo verificar em pessoa a coragem de seu filho, disfarçou-se em soldado de Sicião e foi para a batalha. 4 E sucedeu que Laio, no meio da batalha, matou seu pai como inimigo. 5 E regressando Laio a Tebas, vitorioso, soube que Lábdaco não estava na cidade. 6 E mandou Laio que procurassem a Lábdaco. E foram procurá-lo e não o encontrando, disseram: Para que queremos nós um rei que não comanda os seus exércitos? 7 E aclamaram Laio rei de Tebas. 8 E disseram os nobres ao novo rei: É necessário que te cases e dês a Tebas um herdeiro. 9 E aconteceu que chegou a Tebas Meneceu, príncipe de Corinto, filho de Antíope, filha de Niteu. E, com ele, seus filhos Creonte e Jocasta, a virgem sobre todas as virgens. 10 E sucedeu que os nobres voltaram a Laio e repetiram: É necessário que te cases, ó rei. Tebas assim o quer. 11 E disse Laio: Agora me casarei, pois encontrou Laio a sua igual. 12 E querendo saber se poderia ser feliz, já que tinha ganho todas as batalhas, mandou Tirésias consultar o oráculo. 13 E partiu Tirésias para Delfos uma semana antes da boda. 14 E foi Tebas possuída de grande alegria e grandes festas se fizeram. 15 E aconteceu que Tirésias voltou no dia do casamento. 16 E logo que o viu foi Laio ao seu encontro e perguntou: Que te disseram os deuses, ó servidor de Lóxias, o deus Apolo? 17 E Tirésias respondeu: Estas foram as palavras, ó ilustre: Vive a tua vida como quiseres, mas o primeiro filho que fizeres te matará. 18 E aconteceu que os nobres escutaram e disseram: Laio não pode recuar. Tebas precisa de um herdeiro. 19 E disse Nícias, o filho de Fraédimo: Laio não recuará. Laio é o rei de Tebas e nunca os reis de Tebas recuaram. 20 E Laio não recuou e tomou Jocasta por esposa. 21 E assim foram os dias de Laio, que reinou mais dez anos sobre Tebas, mas sem gerar filho de Jocasta. 22 E aconteceu que os nobres, descontentes, incitaram o povo à revolta. 23 E foi Tirésias com eles. 24 E sucedeu que Laio, avisado por Nícias, mandou dar ao povo o trigo dos celeiros. 25 E o povo aclamou Laio e Laio mandou prender Tirésias. 26 E aconteceu que Tirésias não foi preso, avisado por Creonte. 27 E sucedeu que Laio, não tendo mais trigo para dar e temendo que se cumprisse a maldição, decidiu matar os deuses. 28 E Laio matou os deuses mandando apregoar em Tebas um decreto. 29 E Laio disse: Não se cumprirá mais a profecia. Mortos os deuses, morrerá também a maldição. 30 E aconteceu que os tebanos, não podendo mais rezar aos deuses da cidade, abandonaram Tebas e seguiram a Tirésias no exílio. 31 E os nobres voltaram a Laio e disseram: Tebas precisa de um herdeiro que te possa suceder. Os inimigos vigiam. 32 E disse Laio aos nobres: Há paz em Tebas. 33 E os nobres responderam: Há paz em Tebas, nós sabemos. Mas os inimigos continuam vigilantes. Se não deres a Tebas um herdeiro, nós daremos a Tebas outro rei. 34 E disse Laio aos nobres: Eu sou o rei de Tebas. 35 E os nobres responderam a Laio: Se és o Rei de Tebas, então cumpre o teu dever. 36 E assim nasceu de Jocasta um varão, depois chamado Édipo, os pés inchados. 37 E houve em Tebas grandes festas e Tirésias voltou a ofertar no templo do deus Apolo. 38 E aconteceu que Laio, temeroso que se cumprisse a profecia, mandou um escravo levar o filho ao país de Sicião e lá matá-lo. 39 E sucedeu que o escravo, temendo por tal crime, abandonou a criança no monte Citerão. 40 E Laio, considerando o filho morto, reinou, feliz, mais vinte anos sobre Tebas. 41 E aconteceu que, passados esses anos, viajando Laio a Delfos, a consultar o oráculo, foi morto por um homem, numa briga de caminho. 42 E esse homem tinha por nome Édipo, os pés inchados. 43 E sucedeu, assim, que a profecia se cumpriu e permaneceu maldita a Casa dos Labdácides. |