JUDAS
Manda que me soltem. Sou um cidadão de Judá.
Caifás faz um gesto. Os Guardas soltam Judas e saem.
CAIFÁS
Quem és?
JUDAS
Sou Judas bar-Simão, de Keriot.
CAIFÁS
Judas bar-Simão? (Um Sacerdote segreda-lhe alguma palavras) Então és tu o delator? (Ao Sacerdote) O único judeu entre os doze galileus?
SACERDOTE 1
É ele, senhor.
CAIFÁS (A Judas)
Que Messias é esse de quem falas?
JUDAS
Jesus de Nazaré.
SACERDOTE 1
Não conhecemos esse Messias. O verdadeiro Messias é aquele que há de vir, quando os tempos se cumprirem. E ele será da casa de Davi, não dos porcos de Nazaré.
JUDAS
Jesus de Nazaré é da casa de Davi.
SACERDOTE 1
Mentiroso.
CAIFÁS (Ao Sacerdote 1)
Deixa-o. (A Judas) Que me queres?
JUDAS
Já te disse. Quero saber onde está o Messias.
CAIFÁS (Apontando o Sacerdote 1)
Ele já te respondeu. Que mais queres?
JUDAS
Saber onde está o homem que prendeste.
SACERDOTE 1
Como te atreves...
CAIFÁS (Ao Sacerdote 1)
Cala-te. (A Judas) Esse carpinteiro é que é o teu Messias? Está no Sinédrio. Os sacerdotes e os principais do povo vão julgá-lo.
JUDAS
Sabes que esse homem é inocente.
SACERDOTE 1
Se ele era inocente, por que guiaste os nossos guardas?
JUDAS (A Caifás)
Ele é inocente.
CAIFÁS
Se é inocente, nada deve temer. O Sinédrio o julgará como inocente.
SACERDOTE 1
Será julgado de acordo com a lei.
JUDAS
Conheço o nosso tribunal.
SACERDOTE 1
Que tens contra os sábios de Israel? São homens justos.
JUDAS
Não são sábios, nem são justos. São traidores. Obedecem aos romanos.
SACERDOTE 1
Guardas! (Entram dois Guardas) Prendei-o.
CAIFÁS (Aos Guardas)
Deixai-o. (Saem os Guardas. A Judas.) Nos tempos que correm, quem não trai? Os publicanos traem Roma na cobrança dos impostos, os guardas traem o capitão quando estão de sentinela, os sacerdotes traem o Templo nas ofertas dos fiéis, todo mundo trai. Até o justo trai o pecador. Quem nunca traiu? Tu sabes de alguém que não traísse? O importante não é trair. O importante é quem se trai. Se tu traíste um carpinteiro, traíste apenas um carpinteiro. Agora, se traíste um governante, aí, sim, traíste o povo todo.
JUDAS
Eu não traí.
CAIFÁS
Se não traíste, que vieste aqui fazer?
JUDAS
Vim buscar o Messias.
SACERDOTE 1
Não te disseram já que esse carpinteiro vai ser julgado no Sinédrio?
JUDAS (A Caifás)
Manda que o soltem.
SACERDOTE 1 (A Caifás)
Soltá-lo? Agora, que o prendemos? E o povo?
CAIFÁS (A Judas)
Eu não mando na justiça.
JUDAS
Mas podes soltá-lo. Sempre mandaste na lei.
SACERDOTE 1 (A Judas)
Como te atreves? Nós servimos ao Senhor.
CAIFÁS (Ao Sacerdote 1)
Deixa-o.
SACERDOTE 1
Mas, senhor, esse carpinteiro se diz filho de Deus.
CAIFÁS
Todos nós somos filhos do Senhor. (Pega uma bolsa. A Judas) Toma. Anás te manda esta bolsa.
JUDAS
Anás? Anás nada me deve.
CAIFÁS
Ele diz que te deve. Conta. São trinta moedas.
JUDAS
Anás enganou-me.
CAIFÁS
Como tu enganaste o carpinteiro.
JUDAS
Eu não enganei o Messias. Eu...
CAIFÁS
Então, Anás também não te enganou. O soldado que mata, não mata. Diz que cumpre ordens.
JUDAS
Dá-me essa bolsa.
CAIFÁS (Entregando a bolsa a Judas)
É o preço de um bom escravo gentio.
SACERDOTE 1 (A Caifás)
Que quer este homem? (A Judas) Que querias tu, afinal? O carpinteiro ou o dinheiro?
JUDAS (A Caifás, mostrando a bolsa)
Bem pequeno é o preço que pagam pela Terra de Israel. (Aos Sacerdotes) E vós, que vos dizeis servos do Senhor, atentai: Tempos hão de vir em que não tereis, sequer, um Senhor que vos perdoe.
Sai Judas.
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