ANÁS (Examinando a bolsa)
Idiota. Esta bolsa nem é minha. É de Caifás.
A luz baixa na Casa de Anás e sobe na Esplanada do Templo. É noite e faz luar. Judas.
JUDAS Ó, Senhor, se é verdade que todo o homem tem direito de ter razão, por que é tão difícil acreditar e é tão fácil ter certeza? Eu não sei, Senhor. De todas as certezas que tive nenhuma me restou. Hoje sou só um homem que tinha certeza que estava certo, e tudo que ficou foi esta noite, este silêncio e esta solidão. Eu sou um homem só, Senhor. Medroso e angustiado, como todos os homens que sabem que são sós. (Escuta-se o som de uma flauta, num crescendo) Senhor, se eu pudesse pedir-te alguma coisa, te pediria, apenas, que a tua paz descesse sobre mim. (Esconde o rosto com as mãos. Aparece Salomé, dançando.) Se tu quiseres, Senhor. Se tu quiseres.
O som da flauta baixa e Salomé pára junto de Judas.
SALOMÉ
Judas.
JUDAS
Por que me persegues?
SALOMÉ
Eu não te persigo, Judas.
JUDAS
Que mais queres?
SALOMÉ
Que me olhes.
JUDAS
Deixa-me.
SALOMÉ
Judas.
JUDAS
Deixa-me. Agora, tudo acabou.
A música sobe e Salomé começa dançando. Um canhão de luz ilumina Salomé e ela rodeia Judas com a Dança.
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