CENÁRIO
Praça de uma cidade, com um terreno junto de uma das esquinas.
PERSONAGENS
Primeiro Homem
Segundo Homem
Homem Calado
Escutam-se vozes de dois homens, que se aproximam.
VOZ DO PRIMEIRO HOMEM
Mas de jeito nenhum. Pelo fato de o nosso encontro ter sido casual, não quer dizer que o senhor tenha razão, meu caro amigo. De jeito nenhum. Mas de jeito nenhum.
VOZ DO SEGUNDO HOMEM
Como de jeito nenhum? Então o senhor acha que...
VOZ DO PRIMEIRO HOMEM
Não sou eu que acho, meu amigo. O senhor é que achou. E, justamente, pelo fato de o seu raciocínio parecer tão lógico...
VOZ DO SEGUNDO HOMEM
Mas claro que o meu raciocínio tem que parecer lógico. Ele é lógico. E pela lógica...
VOZ DO PRIMEIRO HOMEM
Pela lógica, meu caro amigo, o senhor não devia era ter raciocinado.
O Homem Calado entra pela esquerda, carregando sarrafos de madeira. Coloca-os no chão, na frente do terreno, e sai. As entradas e saídas do Homem Calado não interferem no ritmo da conversa dos dois homens.
VOZ DO SEGUNDO HOMEM
Como não devia ter raciocinado? Então o senhor acha...
VOZ DO PRIMEIRO HOMEM
Eu já lhe disse que não acho, meu amigo. Quem achou foi o senhor.
VOZ DO SEGUNDO HOMEM
Mas eu não achei...
VOZ DO PRIMEIRO HOMEM
Não achou? Como não achou? Se não tivesse achado, não teria dito o que disse. E é, justamente, esse seu achado que eu quero que o senhor entenda. Veja. Eu disse...
VOZ DO SEGUNDO HOMEM
Mas eu.
VOZ DO PRIMEIRO HOMEM
Não. Não. Por favor, primeiro, deixe-me continuar, depois o senhor acha.
VOZ DO SEGUNDO HOMEM
Mas eu...
VOZ DO PRIMEIRO HOMEM
Meu amigo, se eu não puder continuar, a conversa acaba, e o senhor vai ter que ficar calado, concorda comigo?
VOZ DO SEGUNDO HOMEM
Bom.
VOZ DO PRIMEIRO HOMEM
Muito bem. Já que concorda, prossigamos. Como eu estava dizendo, o seu raciocínio não é lógico porque, pelo fato de parecer absolutamente certo, é que está absolutamente errado, entendeu? |