A TIRANIA DA IMAGEM
Da metafísica do fluxo
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CADERNOS DO ISTA, 15 |
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Originalidade | ||
Mestre Eckhart resume perfeitamente a fortuna do trabalho dos intelectuais na Idade Média. E porquê? Dêmos a palavra a Alain de Libera: Porque ilustra a invenção medieval do racional, a novidade e a fecundidade das relações que podem entretecer a teologia e a filosofia, com a condição de serem repensadas. Porque confirma, no quadro da relação de determinados homens e mulheres, a existência dum projecto de vida total, de um desejo de bem viver, em que, fora da universidade, o ideal universitário tem uma parte iminente5. Como Siger de Brabant, Eckhart é um sábio, um universitário - se dele se diz que é mestre é porque deve este título à Universidade de Paris. A originalidade de Mestre Eckhart reside principalmente na reformulação e no enriquecimento metafórico dos ensino dos Padres da Igreja, bem como dos mestres pagãos da Antiguidade. Se não houvesse nada de novo, nada haveria de antigo. Em Eckhart a originalidade consiste em tornar a origem (origo) viva. Tornar novo não significa tornar diferente mas simplesmente tornar vivo, conforme às exigências do mestre de vida (Lebenmeister). O teólogo é ao mesmo tempo Lesemeister (mestre de leitura) e Lebemeister (mestre de vida). À teologia de S. Boaventura foi buscar a noção de niilidade bem como a teoria da humildade como dominação do criado; ao intelectualismo aristocrático dos filósofos a noção da magnanimidade como virtude do homem segundo o intelecto. O Turíngio foi sobretudo um passador de ideias em que se cruzam os nomes de todas as virtudes num nome que as resume a todas, desapego ou despossessão (abgescheidenheit). O pensamento de Eckhart oscila entre Agostinho e Denis. O nosso Mestre apoia-se em S. Agostinho para indicar que há dois tipos de conhecimento, um superior ao outro: quando se conhece a criatura em si mesma, é um conhecimento vesperal, e então vemos a criatura através das imagens com múltiplas distinções; mas quando conhecemos as criaturas em Deus, este conhecimento chama-se e é um conhecimento matutinal e então contemplamos a criatura sem qualquer distinção, desapropriada (desimaginada) de qualquer imagem e aliviada de qualquer semelhança no Um que é o próprio Deus (6). Esta distinção vem associada às duas ocorrências do verbo entbilden sobre os dez que comporta o "Benedictus deus". É agostiniano também o tema da re-formação do homem na "conformidade com Cristo" atingida pelo regresso da alma a si própria, o regressus animae, a dobra sobre a interioridade verdadeira, o "homem interior", a Verdade, o Verbo. É agostiniana também a ideia que concerne os sete graus do homem nobre. Por outro lado, a Entbildung corresponde à noção dionisiana de aphairesis, a prática da "negação abstractiva", da ultrapassagem das imagens e dos pensamentos, fazendo sair o homem de si próprio (é o tema do "êxtase") para deixar Deus entrar nele. Encontramos este tópico em várias passagens do Livro da consolação divina e do Sermão sobre o homem nobre que a comissão de Colónia pôs em causa. E em causa estará sempre um certo emanatismo bebido em Avicena, mesmo se O Mestre transpõe o filosofema que se aplica ao domínio da natureza para o da graça (7). O que hoje se retém de Mestre Eckhart é fundamentalmente isto que Alain de Libera resume: "Conceber que, debaixo de doutrinas tão diferentes se esconde uma mesma verdade - a unidade da alma e de Deus no "único Um" que precede qualquer diferenciação entre Deus e a alma, e na própria alma, entre o fundo da alma e as suas potências -, tal é a intuição que governa o trabalho filosófico e teológico de Eckhart: uma intuição que ele repete sem se cansar a seus auditores alemães, "os grandes mestres de Paris não a compreenderam" (8). |
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