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O nosso tempo tem como uma das suas características o facto de poder oferecer a multidões, também com o apoio dos media, determinado tipo de formas de contacto (virtuais) e determinado tipo de objectos para contacto (sejam os computadores, os video-jogos, os vários tipos de substâncias psico-activas, toda a panóplia de objectos e serviços das sex-shops, e ainda os filmes pornográficos, também na net; a própria TV se vem especializando cada vez mais em fornecedora, ao domicílio, de emoções quanto baste ) que tornam aliciante e aparentemente suportável a via da auto-suficiência, em matéria de relação com o outro. Mais do que isso, alguns deles têm um poderoso efeito adictivo. Parece que temos meios e suporte tecnológico para nos transformarmos numa sociedade de voyeuristas e masturbadores (em que os equipamentos que poderiam constituir abertura e ponte para o outro são vividos em circuito-fechado, consigo mesmo), podendo, enfim, tais situações (de não participação de corpo inteiro numa relação com outro) ser vividas por um grande número, como a sua forma fundamental de (não) viver uma relação. Queria salientar que circulam as mais variadas apologias desta forma pretensamente superior de declarar a não necessidade de um outro, para nos relacionarmos, e a todos os níveis, constituindo-se aquilo a que se poderia chamar a intimidade virtual . Nesta perspectiva, o fundamental parece ser a demonstração, na vida, de que o outro é inteiramente substituível. Não se trata de afirmar, em certos momentos, não preciso de ti. Trata-se de conduzir a vida por caminhos que procuram, até ao limite compatível com a existência, demonstrar isso mesmo (não preciso de ti). Não quero dizer que não tenha sempre havido vidas assim... Mas ter-se-á que perguntar o que é que esta ideologia da auto-sufuciência narcisista, associada aos meios a que atrás me referi, disponíveis em massa, pode provocar ou pode estar provocando. |
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