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Para Freud, as necessidades cuja satisfação é essencial para a sobrevivência da frágil cria humana (como seja por exemplo o aleitamento) convertem-se em ocasiões de contacto físico e emocional (com tudo o que isso pode envolver de alívio, exaltação, beatitude, mas também frustração, desencontro, desilusão, sofrimento). Neste contexto, da transformação de uma necessidade satisfeita por um outro às ordens, ao desejo de um outro (que possa existir como outra pessoa separada e não dominável) existe um processo complexo, cheio de percalços que nos marcam e nos definem, a cada um de nós, de uma forma única, pessoal. O que nós próprios fazemos ou vamos fazendo com esse legado da nossa pré-história, também nos marca e nos constrói ou destrói. Se o outro subsiste para nós fundamentalmente como uma coisa que satisfaz as nossas necessidades, a relação estabelecida com ele é certamente diferente daquela que existe quando também for possível que o outro seja vivido, a maior parte do tempo ou predominantemente, como alguém, um sujeito, com uma intenção que pode ser diferente da minha. Alguém que possa ser vivido na resistência que oferece à minha vontade adquirindo, com isso, estatuto de materialidade, de realidade. O confronto com uma mãe que afinal não é nossa possessão, não é dominada por nós, será um dos lances mais dolorosos a enfrentar por quem se julgava o centro do mundo. Ela é de outro, também é de outros... E que dizer de quem nem sequer pôde viver essa ilusão de ter alguma vez sido o centro do mundo para alguém? As propostas aliciantes e ao alcance da mão de realidades virtuais, em que a realidade do outro se esfuma, se desmaterializa, a vida apressada em que as ocasiões de relação com outrem se tornam fugazes ou superficiais, tornam muito longínqua a esperança na possibilidade de encontrar alguém que verdadeiramente nos veja, com quem se possa estar... ou fazer caminho. Muitas vezes, até nos primeiros anos de vida. É verdade que, durante um tempo, nos podem deixar na aparente calma de quem não anseia, não deseja, de quem parece que não precisa de ser assim visto... |
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