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Aquilo que hoje ameaça o sexual vivido com emoções (que não é o mesmo que vivido predominantemente com sensações) é da mesma natureza da ameaça que atinge qualquer relação entre duas pessoas: o desinvestimento do outro acompanhado por um hiper-retraimento sobre si próprio, o cultivo da indiferença , por incapacidade de nos mantermos em contacto emocional, quando as coisas desagradáveis ou simplesmente incómodas se anunciam, a frieza que nos permite negar que precisamos dos outros, do quanto nos sentimos dependentes do que nos possam dar, se quiserem e se puderem (e nós que não decidimos nem uma coisa nem outra: se querem ou se podem...). O filme que propus como motivo de fundo para este texto, leva-nos a ver isto mesmo - uma indiferença e um retraimento que perpassa todo o tipo de relações. É este aspecto de desvitalização que ameaça o factor vivo que circula entre duas pessoas, o afectivo, o pensamento enraizado no emocional (não necessariamente afectuoso, também agressivo, porque só nos zangamos com quem tem importância para nós) é este aspecto de desvitalização que faz definhar todo o tipo de relações. Mesmo que, por cima dessa desvitalização, nos apareça o mais animado dos espectáculos. É sob esta aparência agitada de vida e movimento, num clima de sobre-estimulação dos sentidos, e do que em nós é sensível do ponto de vista sensorial, que muitas vezes subjaz o estado moribundo e doente do que é sensível do ponto de vista emocional e que poderia ser ponte para o interior do outro e para o nosso interior (permitindo a acesso à consciência, como há pouco se referia.) Para além de uma certa zona de equilíbrio, existe um antagonismo entre sentir por fora ou ver fora (mais perto das impressões sensoriais), e sentir por dentro ou ver por dentro (mais perto das impressões emocionais) que requer o silêncio, a solidão e a penumbra dos sentidos. |
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