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ISABEL CRUZ
DIR. CICTSUL

A QUÍMICA, A INDÚSTRIA QUÍMICA
E O SEU ENSINO EM PORTUGAL (1887 - 1907):
O CASO DE ALFREDO DA SILVA

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Introdução
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O trabalho que de seguida apresentamos sob o título em epígrafe A Química, a Indústria Química e o seu ensino em Portugal (1887 - 1907): o caso de Alfredo da Silva , está integrado no projecto "Para uma história do ensino da Química em Portugal, nos Séculos XIX e XX (até à Revolução de 1974)" em decurso no Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa desde o início de 2003. Reúne, para além disso, alguns dos elementos recolhidos nas pesquisas que temos desenvolvido a propósito de uma dissertação de doutoramento que abrange precisamente questões da Química, da Indústria e do Ensino em Portugal desde a 2.º metade do século XIX até às primeiras décadas do século XX. Esses elementos de que falamos - fundamentalmente do "universo" escolar, como programas, currículos, livros de texto, legislação, relatórios dos directores das instituições de ensino para a tutela respectiva, etc. - constituíram a base para o estudo de um caso que consideramos matéria relevante para uma conferência internacional de História da Química sob a temática "Comunicações em Química na Europa através de fronteiras e de gerações".

Alfredo da Silva é uma ausência física na sociedade portuguesa desde 1942, porém a sua imagem perdura, sobrevivendo a mudanças profundas, das quais a 2.ª Guerra ou a Revolução dos Cravos são dois exemplos escolhidos, de entre os vários paradigmáticos, para as escalas global e nacional, respectivamente. O que "alimenta" ou permite ainda essa permanência não obstante rupturas tão radicais é, em nosso entender, matéria de grande interesse, mas não é nosso objectivo estudar essas condições, ainda que aceitemos a existência de um "substracto" social que sustenta a sua memória, onde seguramente aqueles que hoje vivos, tiveram a ver directa ou indirectamente (por laços profissionais, familiares ou outros) com o desenvolvimento das indústrias da Companhia União Fabril, CUF, de que Alfredo da Silva não foi o primeiro, nem o único, mas sem dúvida o mais emblemático dos patrões, assumem um papel fulcral.

A apetência pela figura do que talvez seja ainda, com justiça, considerado o maior industrial português, é evidenciada pelos estudos de que já foi alvo e continua a ser - históricos, com incidências variáveis em aspectos biográficos, económicos, sociais e políticos, e todos passando inexoravelmente pelo papel de fundador da grande obra, a CUF, o Grupo Económico, a Empresa Industrial e, acima de tudo, o Complexo Industrial Químico do Barreiro (actualmente cidade), e o que implicou a sua dimensão europeia para esta pequena vila rural, piscatória, (industrial também, mas ainda sem a modernidade da Química) situada na margem sul do Tejo - a vertigem pelo alcance de tal transformação é inevitável. Se a isto somarmos os aspectos de personalidade que o ideário colectivo normalmente torna imputáveis às figuras "de proa", para além daqueles que muitas vezes passam pelo registo particular, testemunho (agora fundamentalmente indirecto) dos muitos que com ele "privaram", talvez estejamos perto dos ingredientes que explicam algum do fascínio pela sua pessoa, e que fazem com que este seja periodicamente revisitado.

A proposta que trazemos para Alfredo da Silva, a esta conferência, e que faz dele um caso de estudo, não se situa, em boa verdade, em nenhuma destas vertentes, e nem a pretendemos sequer como reconstituição biográfica para a época em causa, fundamentalmente "pré-Cufiana", ainda que alguns dos elementos pesquisados possam ter um alcance desse tipo. O que pretendemos para esta figura inquestionavelmente marcante para a sociedade portuguesa, projectada em especial no século XX, é a sua inserção na conjuntura química nacional ao tempo da sua juventude (tal como se realiza a indexação da palavra no contexto de uma frase), particularmente nas duas últimas décadas do século XIX, por excelência o período de assimilação do que constituiu o seu "background" científico, técnico-industrial, e da especialidade comercial, e o estabelecimento, ainda que superficial, de uma relação efectiva entre a formação técnica e científica, adquirida no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, e a sua subsequente actividade no campo das indústrias químicas.

Estas são as hipóteses de trabalho que consideramos no estudo efectuado, e as "linhas de força" que norteiam e estruturam o texto que a partir dele construímos e apresentamos, de forma resumida, nos tópicos seguintes.

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