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DOMENICO AGOSTINO VANDELLI
PARA UMA BIOGRAFIA DE DOMINGOS VANDELLI
(1735-1816)
 
1777
Carta do filho de Lineu. Upsala, 16 de Dezembro

Lamenta-se, durante anos o pai tinha recebido cartas e plantas de Domingos Vandelli, mas isso agora não acontecia. Pergunta se está zangado, diz que o pai sente falta de notícias, que está doente e paralítico. Acerca de si, diz que trabalha no Horto Régio e é professor.

- O Laboratório de Química está pronto para funcionar.

- Morre D. José I. Sobe ao trono D. Maria I. O Marquês de Pombal é afastado. Viradeira. Não vira o ministro Martinho de Melo e Castro, sob cuja alçada cairão as viagens filosóficas.

 
1779
Carta do filho de Lineu. Upsala, 12 de outubro.
ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA

- Como pagamento pelas colecções de História Natural, Vandelli recebe o Alveo do Rio Velho, para que durante 30 anos o pudesse cultivar sem nada pagar. O seu aluno Manuel Dias Baptista (1789) escreve, dando uma das razões pelas quais a lavoura será um fracasso para DV: "Chegando pois as ditas águas à ponte de Coimbra, a qual se compõe de muitos e pequenos arcos, retardam o seu movimento, depositam muita areia, e deste modo se vai levantando o alveo do rio, de tal sorte que, com o decurso do tempo, se necessitará de fazer terceira ponte sobre esta. No sítio a que chamam a Quebrada, deixa o rio o seu antigo alveo, do qual S. Majestade fez mercê ao Doutor Domingos Vandelli, e procura a parte mais declive, deixando a antiga por ser mais levantada".

Vandelli: "Eu estou mais que cansado com o Rio seco, o qual me faz secar a bolsa sem proveito algum." "Tomaria que S. Mag.de me desse outra cousa, e livrar-me de tantas inquietações e despesas". Tenta ainda plantar salgueiros, choupos e sumaco, mas desiste. Esses terrenos eram reclamados pelos vizinhos, deram lugar a litígios, Barbacena perguntar-se-á se a coroa não os cedera ilegitimamente a Vandelli. Como este os vai arrendar, é provável que não.

- Fundação da Academia Real das Ciências de Lisboa. Vandellui dirige a secção de Ciências Naturais. Presidente perpétuo, D. João Carlos de Bragança, duque de Lafões (pedreiro livre, amigo de Voltaire, hostil à influência inglesa em Portugal, partidário dos franceses). Secretário: Visconde de Barbacena. Vice-secretário: Abade Correia da Serra. Serão os pilares da instituição. O duque de Lafões e Serra tinham estado no estrangeiro durante o governo de Pombal. AC Serra obrigado a exilar-se (Vide 1794) por causa de Pina Manique, que o acusava de jacobino. Ponto algo duvidoso. Abade Correia da Serra e Manique davam-se, Vandelli pede ao Abade que interceda junto do Intendente para o livramento de um seu discípulo. Pina Manique era respeitado, talvez por causa das misericórdias, e por os seus cargos o relacionarem com fábricas e economia. Uma das suas medidas económicas foi mandar plantar 40000 oliveiras nos arredores de Lisboa, e semear pinhais em Atouguia, Abrantes, Peniche, e repovoar o de Leiria. Também procurou instituir o ensino agrícola. Foi mecenas, a ele se deve a construção do Teatro de S. Carlos. Além disso criou uma Academia, rival da das Ciências.

Objectivos da Academia, conforme estatutos: promover o adiantamento da instrução nacional, a perfeição das ciências e das artes e o aumento da indústria popular.

Primeira sede, no Paço das Necessidades. Outros locais. Finalmente, no Convento de Jesus, onde ainda se encontra.

- O ensino de Vandelli era essencialmente prático. Foi ele o promotor das primeiras explorações dos produtos naturais indígenas. A 2 de Junho, determina a Congregação que os professores e estudantes realizem viagens de estudo. Vandelli e Della Bella são encarregados de elaborar os planos, ficando obrigados a apresentar relatórios escritos acerca dos produtos recolhidos, a entregar à Faculdade.

Neste âmbito se insere Faunae Conimbricense Rudimentum, de Dias Baptista, em que cita Amphisbaena cinerea antes da descrição por Vandelli (1797), no primeiro catálogo faunístico em linguagem lineana. Estes trabalhos serão depois aproveitados para leitura na Academia ou publicação.nas nas Memorias Economicas.

 
ALGUNS ALUNOS DE VANDELLI

- Para explorar a Serra da Estrela foram escolhidos os Drs. Joaquim Veloso de Miranda e Teotónio José de Figueiredo.

- Alunos de Vandelli:

Visconde de Barbacena, o primeiro doutor saído da Universidade Reformada (governador de Minas Gerais, abafa a Inconfidência Mineira), substituto de Vandelli na cadeira de História Natural e Química;

José Bonifácio de Andrada e Silva (lente de Mineralogia e Metalurgia, cadeira criada expressamente para ser regida por ele, Intendente Geral das Minas e Metais do Reino, ministro de o. Pedro, sogro de Alexandre Vandelli, ligado à independência do Brasil);

José Alvares Maciel (inspirador do Tiradentes);

Vicente Coelho de Seabra Silva e Teles (nomeado em 1791 demonstrador de Química, depois lente substituto de Zoologia e Mineralogia, e de Botânica e Agricultura);

Manuel Joaquim Henriques de Paiva (primeiro demonstrador da nova cadeira de Química, médico, parte para a Baía);

Constantino António Botelho de Lacerda Lobo (lente de Química, sucede na Física a Della Bella);

Manuel José Barjona, em 1791 nomeado lente substituto de Física e Química, depois catedrático de Zoologia e Mineralogia;

Padre Tomé Rodrigues Sobral (sucessor de Vandelli em Química, depois Química e Metalurgia, dá aulas de 1789 a 1821, considerado o Lavoisier português);

Manuel Ferreira da Ccâmara Bettencourt, Intendente das minas de oiro do Brasil;

Bernardino António Gomes, que no Laboratório da Casa da Moeda descobriu a cinchonina, lendo à ARCL, em 7 de Agosto de 1810 o Ensaio sobre o cinchonino e sobre a sua influência na virtude da Quina e doutras cascas, permitindo a Pelletier &
Caventou, 10 anos após, descobrir a quinina;

João António Monteiro, cristalografia;

Teotónio José de Figueiredo Brandão;

Padre Joaquim Veloso de Miranda (lente substituto de História Natural e Química, parte em 1779 para Minas Gerais);

Francisco António Ribeiro de Paiva, lente de Zoologia e Mineralogia, director da Faculdade de Filosofia;

Francisco José Simões Serra.

E os viajantes-naturalistas João da Silva Feijó; Alexandre Rodrigues Ferreira; Manuel Galvão da Silva e decerto os outros.

A maior parte dos homens que se notabilizaram nesta época, em História Natural, eram brasileiros e/ou partiram depois para o Brasil.

- Vandelli é um dos lentes que autorizam a viagem, por motivos particulares, de Joaquim Veloso de Miranda (mineiro) a Minas Gerais. Veloso devia aproveitar para fazer colheitas e tudo enviar e comunicar a Vandelli. Ainda estará no Brasil em 1788.