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PROJETO «JOÃO SARMENTO
PIMENTEL» www.triplov.com |
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ARMANDO PINTO |
Armando Pinto é
historiador, escritor, autor de diversas obras literárias, e cronista.
Desempenhou atividade pública como dirigente associativo, foi o principal
impulsionador da elevação da
Vila da Longra e
criador do museu local da
Casa do Povo. Foi considerado o principal monógrafo de Felgueiras pelo
jornal Poetas & Trovadores de
Guimarães.
EM:
http://terrasdeportugal.wikidot.com/armando-pinto |
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1. Comandante João
Sarmento Pimentel – o original “Capitão-General sem medo”. |
Nos fios da história dos
tempos, como quem tece teia de linho à imagem dos
avoengos antepassados do Douro Litoral, na franja doce
do Entre Douro e Minho onde as arcas que guardavam as
peças de linho tinham alvas toalhas a envolver cavacas e
pão de ló de Margaride, há também lugar para doces
imagens do que perdura na retina da memória. Tal o que
se ouvia contar, em tempos idos, sobre os irmãos
Sarmentos Pimentéis, da Torre de Rande, que eram
conhecidos para lá do mundo que se via além do
horizonte. |
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Foto
oficial de General – com dedicatória no verso |
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A família Sarmento Pimentel
tinha raízes no Douro Litoral, na parte sul do antigo
Entre Douro e Minho, e em Trás os Montes. Sendo oriunda
pela matriarca da família através dos laços da casa de
Sergude, em Felgueiras, solar de origem na linhagem de
nobres Coelhos e Monizes descritos em cenas que meteram
episódios como o da Inês de Castro e que séculos mais
tarde foi propriedade da avó dos Sarmentos Pimentéis, D.
Francisca Carolina Teixeira de Sousa da Cunha Peixoto
Castelo Branco, senhora que herdou a Casa da Torre, na
freguesia de Rande, em Felgueiras, para onde se mudou ao
contrair matrimónio com o fidalgo transmontano Ferreira
dos Eixes, que trouxe para a Torre seu brasão e os
sobrenomes familiares. E no seguimento do tempo o filho,
Leopoldo Sarmento Pimentel, lá continuou e constituiu
família, sendo ali que residia toda a prole e tinham
convivência social.
Brasão
da família |
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Os dois
irmãos, Francisco e João Sarmento Pimentel |
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Dessa família da casa da
Torre, que em tempos detinha o padroado da freguesia de
Rande, resultou a geração dos irmãos que ficaram
assinalados na história pátria, entre os que se
salientaram “por seus feitos valerosos”, numa carreira
de vida movimentada, como se sabe. Ora, por motivos
ideológicos de regime governamental do tempo de Salazar,
esses famosos Pimentéis destacaram-se, com efeito, entre
os exilados políticos, quer o General João Maria
Sarmento Pimentel (1888-1987), que residiu muitos anos
em Rande-Felgueiras, como o Coronel Piloto-Aviador
Francisco Sarmento Pimentel (1895-1988), mesmo natural
de Rande. Os quais, perseguidos pelo Estado Novo, depois
de feitos heroicos que lhes valeram diversas
condecorações portuguesas, muito enobreceram a
comunidade lusa em São Paulo, no Brasil. |
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Exilados
políticos que foram durante quase meio século, desde 1927 e
1936, respetivamente, radicaram-se nesse chão rico com estatuto
conseguido ante conquistada posição, mantendo-se assim na nação
acolhedora após a queda da ditadura em Portugal, encontrando-os
a nova situação portuguesa, saída do 25 de Abril de 1974, com a
sua vida e dos seus bem assente nesse país irmão. Ambos foram
membros fundadores da Casa de Portugal de São Paulo-Brasil, na
qual João Sarmento Pimentel foi também Presidente na gerência de
1940/41. Tendo a ligação sido tão profunda que, por exemplo, foi
dado o nome do mesmo mais velho dos Pimentéis a um
estabelecimento de ensino em território paulista, acontecendo
que desde 1989, por promulgação do Governador do Estado de São
Paulo, ficou a denominar-se “Escola João Sarmento Pimentel” a
«Escola Estadual de primeiro grau Jardim Colonial/Três Marias,
Distrito de Itaquara, São Paulo, Capital.»
É pois esse histórico personagem dos anais da
história portuguesa do século XX, que vem a talhe evocar,
fazendo vénia diante da figura lendária do “Comandante” João
Sarmento Pimentel. Homem que recebeu a espada de honra da cidade
do Porto e, consta honrosamente na toponímia de diversas terras,
quer no Brasil, na cidade de São Paulo, como em Portugal em
cidades e vilas como, por exemplo, Leça da Palmeira, Matosinhos,
Mirandela, Felgueiras, Arrentela e Corroios-Seixal, Vila Franca
de Xira, e na freguesia de Rande (Felgueiras) onde viveu durante
anos, etc. Num rol que ainda não inclui estranhamente a cidade
do Porto, que não tem qualquer rua com seu nome e a própria
espada de honra, que lhe foi entregue pelos representantes da
cidade e ele depois ofereceu para o antigo museu da mesma cidade
portuense, nem consta de relações identificativas dos roteiros
de museus e outras publicações que tais… Atendendo a ele ter
sido herói da manutenção do regime republicano em 1919, no golpe
do quartel do Carmo, no Porto, a pontos que foi apregoado pelas
ruas do burgo portucalense, tendo andado um desenho com sua
figura à venda pública pelas ruas, naquele tempo, ao custo da
moeda da época – «o Capitão Sarmento Pimentel a tostão» …!
(Nalgumas das referidas localidades e
diferentes também – frise-se, para evitar confusões – há outras
ruas com nomes toponímicos de seu irmão, esse natural de
Rande-Felgueiras, o aviador Francisco Sarmento Pimentel, autor
da 1ª travessia aérea de Portugal à Índia, em 1930, por vezes
também referenciado apenas como Sarmento Pimentel.)
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Capitão João Sarmento Pimentel
– foto
oficial da época de seu protagonismo como “Comandante” da ação
que derrotou a Monarquia do Norte, em 1919 |
Refere-se assim o
perfil de João Maria Sarmento Pimentel, de honrado português
antigo, pela aura que o distingue, sem olhar a quadrantes
políticos nem empatias sociais, num tempo como agora (pelas
primeiras décadas do século XXI) em que praticamente não há
grandes diferenças ideológicas convictas, tal o estado
político-social a que chegou o país, pois os atuais partidos
políticos com assentos em lugares públicos se diferenciam mais
nos nomes que no resto de interesse geral. Sendo assim
referenciado João Sarmento Pimentel, que foi um lutador pela
liberdade à luz de antigamente, aqui por nós lembrado apenas
como pessoa que admiramos – falando na terceira pessoa, como
mandam os cânones, o autor desta prosa (de cotio, como diria o
meu amigo “Senhor Capitão da Torre”). |
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Pose da família Pimentel (Sr. Leopoldo
e D. Margarida com os filhos), estando João Maria em cima, à
esquerda (ao lado do pai e do irmão mais velho, Alfredo) e o
Francisco em baixo, como mais novo, em primeiro plano da foto,
junto às irmãs e à mãe. |
João Maria
Ferreira Sarmento Pimentel (nascido no lugar dos Eixes,
freguesia de Suçães, em Mirandela-Portugal, em 14 de Dezembro de
1888 e falecido em São Paulo-Brasil, a 13 de Outubro de 1987)
foi um oficial de Cavalaria do Exército Português, escritor e
político que se distinguiu na luta contra a Monarquia e
posterior Ditadura desde o 28 de Maio ao Estado Novo. Apesar de
ter nascido no concelho de Mirandela, em Trás-os-Montes, onde
sua família tinha propriedades, passou a maior parte da vida
civil em Portugal na área do Douro Litoral, na Casa da Torre,
casa-mãe da família, na freguesia de S. Tiago de Rande, junto à
então povoação da Longra, no concelho de Felgueiras. Tendo aí
vivido as peripécias mais pessoais e afetivas desde sua infância
até à juventude, em Felgueiras, como narra no livro “Memórias do
Capitão”, obra prima memorial que foi livro de estudo literário
de ensino no Brasil. |
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Vista panorâmica e frente da Casa da
Torre |
Como aluno da Escola do Exército participou
nos movimentos da Rotunda, em Lisboa, ao lado de Machado Santos,
nos dias 3 a 5 de Outubro de 1910, de que resultou a implantação
da República Portuguesa. Participou nas campanhas do Sul de
Angola, esteve na Flandres, durante a I Grande Guerra, foi o
herói da derrota da Monarquia do Norte e consequente manutenção
da República, em 1919 (…"Mas a breve guerra civil terminou com a
entrada das tropas republicanas no Porto, após a revolução de 13
de Fevereiro de Sarmento Pimentel" [...] - José Gomes Ferreira,
A memória das palavras.) Cujo movimento vencedor levou a ter
sido reconhecido com uma espada de honra dos representantes da
cidade do Porto, pela sua participação nessa revolução de 13 de
fevereiro de 1919. Tendo entretanto sido ainda distinguido com
medalhas pelas campanhas militares e agraciado com a Ordem da
Torre e Espada. Até mais tarde ter estado entre os comandantes
da revolta de 1927, no Porto, após cujo desfecho se teve de
exilar, fixando residência no Brasil. Ali liderou também a
colónia portuguesa de opositores ao regime de Salazar e Caetano,
tendo entretanto vindo à Galiza para colaborar numa revolta
falhada em 1931. De permeio escreveu o livro “Memórias do
Capitão”, editado no Brasil em 1962/63 e que ficou como livro de
estudo em universidades brasileiras. Livro que só foi possível
publicar em Portugal em 1974, depois, após o 25 de Abril, quando
regressou temporariamente para festejar e rever seu país,
passados quarenta e sete anos de exílio por motivos políticos.
Veio a ser ainda condecorado com a Ordem da Liberdade, na
presidência do General Ramalho Eanes. Seu nome foi honrosamente
atribuído à Biblioteca Pública de Mirandela e a uma Escola
Estadual no bairro de Itaquera, em São Paulo-Brasil. Tendo por
fim falecido no Brasil, com uma pneumonia fatal pela noite de 12
para 13 de Outubro de 1987, quase a perfazer 99 anos de idade,
junto à prole familiar ali já radicada.
Como no tempo de sua participação nos últimos
movimentos revoltosos João Sarmento Pimentel tinha a patente de
capitão, era considerado como “Capitão-comandante”. Mesmo depois
de ter sido promovido a General, como foi seu posto distinto,
continuou a ser conhecido pelo popular apelido.
Posto isto, em enquadramento cronológico,
acrescentamos como referência biográfica o que escrevemos em
livro publicado em 1997, colocando parte da biografia
correspondente (através de imagens digitalizadas das páginas
relativas), que então lhe dedicamos, além do que ao longo desse
volume se distribuiu por diversos capítulos, no “Memorial
Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”.
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Cinco páginas do livro monográfico
“Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, edição de
1997, com patrocínio do jornal Semanário de Felgueiras. |
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João Sarmento Pimentel era pessoa que não
passava indiferente às conversas do povo de Rande e zona
envolvente, em pleno concelho de Felgueiras, referido então como
o Sr. João Maria da Torre, sendo algo lendário em histórias que
se contavam sobre ele. Uma das quais de quando “esteve metido”
na revolta da República, como se dizia, ter estado envolvido na
morte de uns padres em Lisboa. Algo que interesses afetos ao
regime do Estado Novo ajudaram a implementar e difundir,
inclusive alterando a intenção da família da Torre em ter
custeado a formação de alguns candidatos a padres. A propósito,
demos com os olhos numas anotações duma conferência da Drª Maria
Estela Guedes:
(Conf. Jacinto Baptista - "O Capitão João
Sarmento Pimentel" in História de Portugal, Dos Tempos
Pré-Históricos aos Nossos Dias, Vol. XI, João Medina (dir.),
Amadora, Ediclub, pp. 153-158 [1993] «A partir de um documento
subscrito pelo fundador da República, Machado Santos, o então
primeiro cadete João Maria Ferreira Sarmento Pimentel não
comandou nem fez parte do assalto feito por populares ao
convento de Arroios, em virtude de, nesse momento, se encontrar
ao lado do comandante das forças revolucionárias que tinham
acampado na Rotunda, tendo mais tarde, assumido a função de
"proteger os eclesiásticos desse convento e os de Campolide, na
sua marcha para Caxias e para o Governo Civil, a fim de evitar
que fossem hostilizados pelo povo". A cópia do documento de
Machado Santos, foi entregue por Sarmento Pimentel, no final da
vida, ao jornalista Norberto Lopes, sendo publicada em Fevereiro
de 1982, no extinto Semanário "O ponto". Do artigo faz parte uma
breve biografia de Sarmento Pimentel, com referências ao seu
livro "Memórias do Capitão", publicado no Brasil em 1963 e
prefaciado por Jorge de Sena. Refere a publicação projetada por
Mécia de Sena, da correspondência trocada entre Jorge de Sena e
Sarmento Pimentel, a quem o poeta designava "velha raposa e
digno leão" bem como, referencias a cartas escritas a Norberto
Lopes (15.03.1983, 07.08.1984 e 01.12.1986).»
Efetivamente, no sentido de prestação de
serviço em prol da sua causa, João da Torre colaborou no 5 de
Outubro, ocorrido em 1910, que veio a representar profunda
transformação na vida nacional, quer a nível político pela
mudança do cetro monárquico para o regime constitucional
republicano, bem como a nível social por via do desenvolvimento
surgido, segundo se nota na evolução repentina de hábitos e
maneiras, além de formas de pensar e do próprio trajar, entre
inúmeros casos. E então Felgueiras também teve, enfim, ligação a
esse movimento da implantação da República: No terreno por meio
da ativa participação de João Sarmento Pimentel, então jovem que
apesar de ser transmontano de nascimento era Felgueirense de
residência. E através de contribuição logística do Felgueirense
Dr. António Pinto de Sampaio e Castro, político local de ideias
republicanas.
João Sarmento Pimentel, como Cadete da Escola
do Exército, tomou parte ativa incorporando-se com armas na
decisiva batalha da Rotunda, em Lisboa, dando o corpo ao
manifesto da revolta do 5 de Outubro que implantou a Republica
em Portugal. O Dr. António Sampaio Castro, personagem muito
respeitado, contribuiu no movimento a modos que anonimamente,
atuando na clandestinidade durante o último período da
Monarquia. Sendo assim o Dr. António Castro grande ativista
político e amigo de João Sarmento Pimentel, ficou no
conhecimento popular que o Cadete Militar, João da Torre, levara
para Lisboa artesanais bombas feitas na Longra, na Casa do Dr.
Castro, na Leira, de Rande (onde residia, embora oriundo de
família da Casa de Moinhos, do Unhão), pelo que se tornou
lendário que algumas das primitivas cargas usadas na implantação
da República foram originárias de Longra-Felgueiras.
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Trecho da revista coeva Ilustração
Portugueza, referindo caso das bombas no 5 de Outubro de 1910 |
Ora, no longínquo
1910, por tal motivo o Dr. Luís Gonzaga, figura de prestígio
local e amigo dos dois personagens republicanos em apreço,
escreveu no jornal de Felgueiras desse tempo a novidade,
transmitida com grande ênfase a dar conta da participação do
então Cadete João Pimentel no 5 de Outubro, conforme notícia
inserta nesse Outono no periódico concelhio sob título “Um
Bravo”. A vitória do 5 de Outubro foi mesmo aclamada
publicamente na vila de Felgueiras, em frente ao edifício onde
funcionavam na época os Paços do Concelho, largo que por esse
facto ficou durante longas décadas denominado como Praça 5 de
Outubro (até que estranhamente o nome foi alterado em 1993 para
Praça do Foral...). Depois sobre o Dr. António Castro, então
Conservador concelhio, recaiu escolha para Administrador do
Concelho de Felgueiras após a implantação da República, sendo ao
mesmo tempo Conservador do Registo Civil de Felgueiras.
Desempenhava as funções de Administrador quando, anos volvidos,
se deu o levantamento oposicionista da Traulitânia que impôs a
Monarquia do Norte, em finais de 1918. Então manteve-se fiel à
Republica e, apesar de pressionado para se demitir, resistiu e
fez com que tudo se mantivesse normalizado, pelo que foi muito
vitoriado aquando da derrota desse efémero regime. Mal se soube
do movimento liderado por João e Francisco Sarmento Pimentel a
restaurar a República no Porto, a 13 de Fevereiro de 1919,
juntou-se muito povo em Felgueiras, no Largo 5 de Outubro, em
frente ao “Registo”, numa manifestação popular de júbilo pelo
importante protagonismo conterrâneo no derrube do regime de
Couceiro e aplauso pela atitude firme do Dr. António Castro... |
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Quadro que consta na galeria dos
Benfeitores da Misericórdia de Nossa senhora do Rosário do Unhão
- Felgueiras |
Conhecido como foi pela família do autor
deste artigo e (passando a descrever na primeira pessoa) tendo
minha avó paterna trabalhado na Casa da Torre temporariamente,
em cujo ambiente inclusive seu irmão, meu tio-avô paterno, foi
feitor das propriedades, o Joãozinho da Torre, como era ainda
tratado entre pessoas próximas, era também padrinho de batismo
de meu tio, irmão do meu pai. Ouvindo eu, por isso, diversas
vezes meu pai contar que o acompanhou, a fazer as honras da
terra na companhia ao irmão, em passeio a pé pela freguesia, no seu
regresso episódico, quando houve curta amnistia política por
volta de 1950; e ele, o “Capitão”, até ter falado com meu tio,
que tinha ido trabalhar para uma fábrica em Avanca e ali se
fixara, sobre o seu correligionário Doutor Egas Moniz, português
laureado com o Nobel da Medicina, médico que era daquela região
da Beira Litoral. Daí que anos mais tarde, no seu regresso mais
eufórico, após o 25 de Abril de 1974, eu o tivesse ido ver
quando teve receção apoteótica na Câmara de Felgueiras em Maio
de 1974. E depois tivesse havido contactos pessoais e ainda
tivéssemos trocado correspondência, cujas cartas manuscritas
recebidas desde o Brasil com muito gosto tenho guardadas.
Enquanto, no meio disso tudo, foi havendo melhor conhecimento
pela leitura do livro das suas Memórias, coisa que nos encantou
e de imediato lemos de fio a pavio, num ápice, como depois
relemos vezes sem conta, já.
Assim, de alcance vasto, salienta-se esse que
é o testamento literário de João Sarmento Pimentel com as suas
“Memórias do Capitão”, livro que Jorge de Sena prefaciou com uma
mão cheia de considerações apreciativas, considerando-o como
contendo História e literatura, ficção e documento, sonho e
realidade, acabando com a tirada de que, «afinal, ainda Portugal
vai dando, numa mesma pessoa, homens e escritores.» Ora esse
lutador pela democracia que foi João Pimentel, embora não sendo
natural de Felgueiras, pois nasceu em Mirandela, viveu em
Felgueiras grande parte da sua meninice, infância, juventude e
até em adulto, sempre que possível, na Casa da Torre, de Rande,
onde nasceu seu irmão Francisco (o piloto-aviador Felgueirense
da pioneira ligação aérea à Índia), na casa-mãe da família, para
a qual se dirigiam seus passos e coração, nos intervalos de sua
vida militar e agitada situação de ativista social. E no exílio,
que ambos os irmãos referidos tiveram de retiro forçado no
Brasil, por serem opositores ao “Estado Novo” de Salazar, regime
político português desse tempo, foi escrito pelo Sarmento
Pimentel mais velho tal legado de mistura nobiliária e dignidade
portuguesa, segundo também as próprias palavras de Sena; em
volume perpassado de contos e descrições, lembrando recordações
particulares e comuns, evocando datas e fastos, numa saga em
cuja expressão também ficou patente o seu afeto a Felgueiras,
terra de seus maiores como ele dizia, e que soube bem descrever
à posteridade em estilo eloquente, juntando lirismo, idealismo e
historicismo numa junção condimentada que basta. Livro que teve
1ª edição em São Paulo-Brasil em 1962/63 e 2ª edição no
Porto-Portugal em 1974. Acontecendo que no Brasil chegou a ser
livro de estudo, fazendo parte das obras recomendadas em
programas escolares.
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Nas comemorações oficiais do 5 de
Outubro, em 1974 |
Depois de longo exílio político (a que se
viu forçado durante o Estado Novo de Salazar e Caetano),
regressado temporariamente em retorno vitorioso após a queda da
ditadura e instauração da democracia, João Sarmento Pimentel
(como participante do movimento que implantou a República e
sobrevivente dos famosos Cadetes da Rotunda) foi homenageado
como convidado de honra nas primeiras comemorações do 5 de
Outubro, em 1974, após a revolução do 25 de Abril, tendo
acompanhado o então Presidente Costa Gomes na saudação oficial,
diante das tropas em parada e multidão assistente, desde a
varanda onde em 1910 fora oficialmente proclamada a República,
em Lisboa. |
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Visita do então
Presidente da República Dr. Mário Soares, a 1 de Abril de 1987,
a casa do seu “velho amigo”, aquando de visita oficial ao
Brasil, acompanhado do presidente da Gulbenkian, Dr. Azeredo
Perdigão, vendo-se parcialmente também Francisco Sarmento
Pimentel |
Atendendo a tudo
que João Pimentel representava então, houve autores que lhe
dirigiram algumas crónicas, como numa parte do livro intitulado
“Horizontes Fechados”, em exortação ao perfil do “Capitão
Magnânimo”, Raúl Rego dedicou a João Sarmento Pimentel um
capítulo nessa reunião de escritos, de páginas de política, com
três edições em 1974. Ao passo que, totalmente sobre o mesmo
personagem da Grei, há um livro intitulado “Sarmento Pimentel ou
uma geração traída / diálogos de Norberto Lopes” (com João
Sarmento Pimentel). Livro esse escrito pelo referido autor, em
1977, tendo prefácio de Vitorino Nemésio. E, sobre o mesmo
interveniente histórico, há ainda um livro de Jacinto Baptista,
intitulado “Dois Grandes Portugueses, António Sérgio e João
Sarmento Pimentel contra a ditadura”, editado em 1986 como
separata do Boletim Amigos de Bragança.
Com uma vida tão
preenchida, esteve quase a chegar ao centenário, que tinha
alguma esperança de poder passar e nesse caso estava para vir a
Portugal a convite do então Presidente da República, seu amigo e
admirador. Tendo falecido na noite de 12 para 13 de Outubro, em
1987, com 98 anos mas a pouco tempo de perfazer os 99. Como nos
deu conta o irmão, em postal alusivo – do qual juntamos imagem,
da frente e mensagem no verso. |
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Postal, frente e
verso |
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2. Recortes de jornais |
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