NOVUM ORGANUM
Francis Bacon

Notas

Prefácio do Autor e Livro I dos “Aforismos sobre a Interpretação da Natureza e o Reino do Homem

1 Literalmente, incompreensibilidade; estado resultante do princípio cético de dúvida à possibilidade da verdade, Nova Academia. Arcesilau (3 16- 241 a.C.) e seus discípulos. Ver mais adiante Aforismo 126, livro I.

2 Bacon não usa, ao contrário de Descartes, o termo methodus, transcrição latina do grego, possivelmente para não se comprometer com o seu uso anterior. Prefere ratio ou via. Acompanhamos, no caso, a unanimi­dade dos tradutores modernos.

3 Usada no sentido escolástico, uma das partes do Trivium, equivalente à lógica formal e. mais tecnica­mente, como sinônimo de método dedutivo. Em algumas passagens toma o sentido pejorativo, já usado por Aristóteles, de exercício inócuo.

4 Original: vanissimis idolis. Relacionado à doutrina dos ídolos ou falsas idéias, exposta no livro I, a partir do Aforismo 38.

5 O termo “axioma” é usado por Bacon no sentido de proposição geral.

6 Idéia, nesta, passagem, tem sentido platônico, talvez mais próximo dos neoplatônicos renascentistas.

7 Original: instantia, termo de origem judiciária. Preferimos instância mesmo em português. Aparece com freqüência no sentido de “caso”, “exemplo”, “ocorrência”, etc., sempre relacionado com a realidade natural

8 Original: consensum. O consenso, para Bacon. tem origem num traço comum a todos os homens e serve de base para o seu acordo como termo de várias questões, mas não como fundamento legitimo para a ciência.

9 Original: Idola Tribus. Idola Specus, Idola Fori e Idola Theatri.

10 A expressão tem origem no conhecido Mito da Caverna, da República de Platão. A correlação é metafórica, de vez que o sentido preciso é diferente.

11 Heráclito, fragmento 2 (n.º de Diels): “Por isso convém que se siga a universal (razão, logos), quer dizer a (razão) comum: uma vez que o universal é o comum. Mas, embora essa razão seja universal, a maioria vive como se tivesse uma inteligência absolutamente pessoal”.

12 Original: sermones.

13 Cf. Cícero, De Natura Deorum, III. 37, § 89.

14 Original: subalternis, sentido lógico.

15 Original: lumen siccum. Possivelmente sugerida por expressão de Heráclito (fragmento 118), através de comentadores romanos.

16 Esse aforismo trata, de passagem, de assunto altamente controvertido da teoria natural de Bacon e que vai ser exposta no livro II, a propósito da teoria da forma.

17 Original:schematismi, meta-schematismim actus purus, lex actus. Vide nota anterior.

18 William Gilbert (1540-1603). autor do célebre De Magnete.

19 Original: Themata Coeli.

20 Original: rationale genus philosophantium. Preferimos o termo racional a outros também usados para o caso, por entender que as confusões que se procura evitar ficam suficientemente afastadas pelo contexto.

21 Referência a Paracelso e às concepções mágicas.

22 Trata-se da distinção, existente em lógica formal, entre: voces secundae intentionis e voces primae intentionis.A alma, para Aristóteles (De Anima II. 1.412 A. 27-28), está na primeira espécie, quando Bacon entende que devia estar na segunda.

23 Filósofos pré-socráticos, cujo naturalismo entusiasma mais Bacon que os sistemas posteriores.

24 Referência mais à Nova Academia e possivelmente ao neoplatonismo de Proclo.

25 Lucas, 24,5. Alusão a Robert Fludd, teósofo e rosa-cruz, contemporâneo de Bacon.

26 Original: in quod, nisi sub persona infantis intrare non datur (Mateus, 18.3).

27 Original: mera palpatio.

28 Original: ad magis.

29 Original: ad praxim.

30 História da filha de um rei de Ciros, célebre pela sua rapidez e que disse se casar com quem a vencesse em uma corrida. Hipómenes, com auxílio de uma deusa, conseguiu sucesso jogando pomos de ouro para trás, sempre que Atalanta estava prestes a alcançá-lo.

31 Original: experimenta lucifera e experimenta fructifera.

32 Original: sapientia.

33 Original: professoria. — O saber professoral para Bacon tem o sentido de saber acadêmico, transmitido de mestre a discípulo, sem recurso às fontes.

34 Apud Diógenes Laércio, sobre Platão.

35 Platão, Timeu, 23 B.

36Signa, termo tomado por metáfora à astrologia, indicando os auspícios para um empreendimento.

37 Celso, em De Re Medica.

38 Alusão à teoria de Galeno.

39 Vide nota 8.

40 Cf. aforismos 28 e 47.

­41 Plutarco, na Vida de Fócion.

42 Esse tipo de consciência histórica já aparece no opúsculo de 1608, cujo título Temporis Partus Masculus usa as mesmas expressões.

43 Bacon parece aceitar a concepção difundida entre os renascentistas de que a um período de esplendor deveria seguir-se um período de decadência da cultura.

44 A filosofia primeira, tal como a entendia, repositório dos axiomas gerais da natureza, estabelecidos por via indutiva, era a responsável pela unidade do saber.

45 Célebre expressão cunhada e divulgada por Cícero, cf. Tusculanae Disputationes, V, 4. § 10.

46 Original: in parte operativa.

47 Original: scientiae logicae.

48 Original: novis inventis et copiis.

49 No aforismo 77 fala Bacon também do consensusque encobria o verdadeiro valor da filosofia de Aristóteles.

50 Passagem célebre onde é evidente a analogia com a idade dos homens.

51 Original: Orbis Intellectualis, também nome de obra inacabada de Bacon.

52 Expressão que teve origem em Aulo Gélio, Noctes Atticae, XII, 11, mas modernamente vulgarizada por Bacon com sentido mais rico.

53 Original: contemplationes incurrentes.

54 Original: artes intellectualis — que se diferenciam das scientias rationalis, que vêm a seguir.

55 Bacon distingue a “magia natural” da “magia supersticiosa”.

56 Em várias passagens (cf. também De Augmentis Scientiarum, 1. VI,cap. 2). Bacon mostra as vantagens dos aforismos. A propósito, lembrem-se a sua admiração pelos pré-socráticos, as referências a Hipócrates, e as suas leituras bíblicas.

57 Referência ao Rei Artur e ao herói do romance cavalheiresco português, atribuído a Vasco de Loubeira (século XlV)e vulgarizado em várias outras versões.

58 Cf. aforismo 75.

­59 Natureza, para Bacon, tem o sentido amplo de aparência exterior e perceptível dos objetos, qualidades secundárias das coisas.

60 Tais expressões não significam da parte de Bacon ateísmo ou coisa semelhante, mas sua aversão por certo tipo de interferência da religião em assuntos de conhecimento natural. No De Augmentis deixa clara a separação entre assuntos divinos, objeto da teologia, e os naturais, objeto da filosofia e das ciências.

61 Aristófanes — Nuvens, versos 372. 55.

62 A propósito do assunto, houve acesa polêmica entre teólogos, filósofos e sábios, até prevalecerem as novas concepções sobre o globo terrestre.

63 Original: media ignorantur.

64 Jó, 13,7 “Porventura por Deus falareis perversidade? E por ele falareis engano?

65Mateus, 22,29.

66 Original: res civiles et artes. Cf. Aristóteles — Política, II,8. 1268 B. e ss.

67 Original: prudentia civilis.

68 A esperança (spes) de que Bacon vai falar corresponde a uma espécie de interesse pelo novo e ao mesmo tempo um inconformismo em relação ao admitido e estabelecido.

69 Original: tabulis inveniendi.

70 Lucas, 17,20.

71 Daniel, 12,4 — Essa expressão se encontra no frontispício da primeira edição do Novum Organum.

72 Esta passagem tem provocado interpretações diferentes. De qualquer forma, a letra do texto parece indi­car que Bacon entendia o fim do mundonum sentido geográfico, o que é improvável, dada a sua compe­tência em assuntos teológicos.

73 Demóstenes, Filípicas, III, 5 e 1, 2. A citação de Bacon, como muitas outras, é livre, tudo indicando ter sido de memória.

74 Original: spei argumenta.

75 Passagem famosíssima, que tem servido como o exemplo mais sensível da posição de Bacon.

76 Essa passagem é indicada como um exemplo da incompreensão de Bacon para com o verdadeiro papel das matemáticas nas ciências experimentais nascentes.

77 Original: ratio humanae.

78 Ésquines, De Corona. apudJ. Spedding, op. cit. vol. I, pág. 202.

79 Tito Lívio, in Ab Urbe Condita, IX, 17, in fine.

80 Original: Sylva — No fim da vida Bacon se dedicou ao recolhimento de tais coleções. Os resultados estão em obra póstuma, Sylva Sylvarum.

81 Original: rumores quosdam experientiae et quasi famas et auras eius.

82 Consta em comentadores da época que Alexandre teria dado a Aristóteles oitocentos talentos para essa empresa — Ap.Lasaíle — op. cit.pág. 334, vol. 1.

83 Espécie de “naturalismo” frívolo que vigorou inclusive até o século XIX.

84 Original: vexationes.

85 Original: experimenta lucifera e fructiferorum.

86 Cf. aforismo 82.

87 Há dois sentidos para experiência literata. Um. de registro sistemático de resultados, e outro, de um me­todo intermediário entre a mera palpatio e o Novum Organum. O segundo sentido aparece logo a seguir no af. 103.

88 Original: notionalia.

89 Cf. aforismo 80.

90 Original: idque via et ordine.

91 Original: fili bombyeini.

92 Original: acus nauticae.

93 A tinta usada antes da imprensa era muito fina. Assim, essa modificação também foi condição para o novo invento.

94 Na Nova AtlântidaBacon fornece o exemplo vivo da sua concepção de trabalho científico como traba­lho coletivo, no sentido de exigir a dedicação de muitos e no sentido de promoção oficial.

95 Veja-se o fascículo que acompanha esta obra.

96 Original: Mortalium communicantum.A quem considera a ciência como trabalho coletivo, não mais natural que o problema da comunicação dos seus resultados e sua discussão. Mas o grande drama de Bacon foi exatamente esse: o seu isolamento estritamente científico. Enquanto homem do mundo, não teve condi­ções de se informar da verdadeira ciência do seu tempo, apesar de suas idéias gerais serem proféticas.

97 Racional (original: in via illa rationali) aqui é tomado no sentido já antes indicado, como oposto a expe­rimental, tendo, assim, uma conotação pejorativa.

98 Antecipação de problemas ligados ao trabalho científico. Vide especialmente a Nova Atlântida.

99 Alusão aos ventos que de oeste sopravam sobre Portugal e que teriam levado Colombo a firmar suas idéias de que nessa direção havia terras que os geravam.

100 Original: desperatione. Desesperaçãoembora pouco usado, nos pareceu o correspondente mais ade­quado para um termo com conotação ao mesmo tempo de desânimo e desinteresse. Desesperotem cargas mais recentes muito consolidadas.

101 Original: pars destruens.

102 Três filósofos antiaristotélicos do Renascimento. Os dois primeiros italianos, mais conhecidos, e o ter­ceiro dinamarquês.

103 Essa parte deveria constituir-se, conforme o seu plano na distribuição das obras, Instauratio Magna, no Pródromosou Antecipações da Filosofia Segunda.

104 Ainda segundo o plano referido, a sexta parte deveria constituir-se da Filosofia Segunda ou Da Ciência Ativa.

105 No sentido de fazer alguma invenção na forma antes definida: de combinação de coisas conhecidas.

106 Original: tabulis inveniendi. Refere-se ao procedimento a ser descrito no livro II da obra. Quanto à tra­dução de inveniendi e das formas correlatas, pode tanto ser no sentido de invenção quanto de descoberta ou investigação. Usamos uma ou outra conforme as conveniências do contexto.

107 Refere-se a Scala Intellectus.

108 Refere-se a Phenomena Universi sive Historia Naturalis et Experimentalis ad Contendam Philosophiam.

109 Vide nota anterior sobre Atalanta.

110 Plínio, Naturalis Historia, I.

111 Original: simplicium naturarum. As naturezas simples constituem para Bacon os elementos últimos dos fenômenos e estão ligados à sua forma.

112 Fedro, Fábulas, I.V, 8.

113 Essa história aparece em Plutarco, referindo-se a Filipe da Macedônia.

114 Filócrates, falando de si e de Demóstenes, apud De Mas, op. cit. pág. 334, vol. I.

115 Esta passagem deve ser comparada a outra que aparece no cap. 1, 1. VI, do De Dignitate et Augmentis Scientiarum, para indicar as dificuldades de interpretação da exata posição de Bacon, a respeito de problema tão importante: “Este princípio resolve a famosa questão da maior importância a ser dada à vida ativa ou a vida contemplativa, e a decide contra a opinião de Aristóteles. Pois todas as razões que ele oferece em favor da vida contemplativa relacionam-se somente ao bem individual e ao prazer e à dignidade do indivíduo. Sob esse aspecto certamente a vida contemplativa carrega a palma da vitória.. Mas os homens devem saber que só a Deus e aos anjos cabe serem espectadores no teatro da vida humana”. Lembre-se também que esse texto é posterior ao Novum Organum.

116 Original: verum exemplar mundi.

117 Cf. aforismo 23.

118 Original: Itaque ipsissimae res sunt (in hoc genere) veritas et utilitas. Há divergéncias quanto à tradu­ção de ipsissimae res. Acompanhamos os que entendem como tendo o sentido de “as coisas em si mesmas”. Vide De Mas, op. cit., pág. 335, vol.I.

119 Esta passagem cria os problemas de coerência já indicados na nota 114.

120 Onginal: formam inquirendi.

121 Bacon aqui opõe à acatalepsia a eucatalepsia, com sentido de “boa compreensão dos fatos”.

122 Filosofia natural tem aqui sentido restrito, próximo de física, enquanto tem sentido amplo nos aforis­mos 79 e 80.

123 Ou: síntese e análise.

124 Apesar de certa timidez, em passagens anteriores (cf. aforismos 29, 77 e 128). aqui Bacon claramente estende o seu método de investigação natural aos assuntos humanos.

125 Os dois livros do Advancement of Learning Divine and Human foram publicados em 1605. Essa obra foi refundida por Bacon, consideravelmente aumentada e publicada em latim sob o titulo de De Dignitate et Augmentis Scientiarum, em 1623, três anos depois do Novum Organum.

126 Original: rerum inventionibus.

127 Sic. no original, inclusive o destaque do terceiro verso em maiúsculas. Os versos, certamente citados de memória, em algumas passagens não conferem com o original de Lucrécio, De Rerum Natura, VI, 1-3 primum por primae e praestanti por praeclaro. Traduzidos livremente: “Atenas de nome famosa, que pela primeira vez ofereceu aos pobres mortais as sementes frutíferas e, dessa forma, recriou a vida e promulgou as leis”.

128 Cf. Provérbios, 25,2.

129 Referia-se, sem dúvida, à América, cujo nome ainda não se tinha firmado.

130 De Cecílio Estácio, transcrito por Símaco, in Epístolas, X, 104, apud De Mas, op.cit., vol II, pág. 340.

131 Repete, com pequena variação, expressão do aforismo 3.