Entre as instâncias prerrogativas, colocamos em décimo primeiro lugar as instâncias de acompanhamento e as instâncias hostis, 178 a que costumamos também chamar de instâncias das proposições fixas. São essas instâncias que revelam algum corpo ou matéria, com o qual a natureza investigada sempre se apresenta como com uma companheira inseparável; mas do qual, por seu turno, a natureza se afasta sempre e procura exclui-lo como estranho e inimigo. A partir de tais instâncias formam-se proposições certas e universais, afirmativas ou negativas, nas quais o sujeito será o referido objeto concreto e o predicado a própria natureza investigada. As proposições particulares não são de modo algum fixas; em vista disso a natureza investigada se encontra, fluida e móvel, em um corpo concreto ou assentada em condições de ser adquirida ou se interrompe e é deposta. Por isso, deve ser lembrado que as proposições particulares não têm maior prerrogativa, com exceção dos casos de migração de que antes já falamos. 179 Apesar disso, as proposições particulares, confrontadas e comparadas com as universais, são de grande ajuda, como mais adiante diremos. Contudo, nessas proposições universais já não se requer uma afirmação ou negação absolutas, pois são suficientes para o seu uso, ainda que haja alguma rara exceção.
O uso das instâncias de acompanhamento é o delimitar a investigação afirmativa da forma. Como as instâncias migrantes delimitam a investigação afirmativa da forma, estabelecendo como condição necessária que a forma seja qualquer coisa que por qualquer ato de migração se adquire ou se perde, assim também,as instâncias de acompanhamento estabelecem como condição necessária que a forma seja qualquer coisa que penetre a concreção do corpo, ou que dela se afaste. Em vista disso, quem conhece bem a constituição ou esquematismo de um corpo não estará muito longe de trazer à luz a forma da natureza investigada.
Por exemplo, suponha-se que a natureza investigada é o calor; instância de acompanhamento é a chama. Na água, no ar, na pedra, no metal e em muitíssimos outros corpos, o calor é móvel e pode ou não se exercer, mas toda chama é quente e o calor é sempre encontrado na concreção da chama. Mas entre nós não se encontra qualquer instância hostil ao calor. Os nossos sentidos não conhecem com segurança a temperatura das entranhas da terra, mas de todos os corpos conhecidos não há qualquer concreção que não seja suscetível de calor.
Suponha-se, agora, que a natureza a ser investigada seja da consistência; instância hostil é o ar. De fato, o metal pode ser fluido e pode ser consistente; igualmente o vidro; e até a água pode se tornar sólida quando gela; mas é impossível que o ar se torne consistente e perca a sua fluidez.
Restam-nos duas observações ou advertências sobre as instâncias dessas proposições fixas, que são de utilidade para o nosso trabalho. A primeira é a de que, se falta completamente a universal afirmativa ou negativa, com cuidado nota-se como não existente; tal como fizemos com o calor, no qual falta uma universal negativa (pelo que se conhece) na natureza das coisas. Assim, se a natureza investigada é o eterno ou o incorruptível, entre nós falta a universal afirmativa, pois não se pode predicar o eterno e o incorruptível de nenhum dos corpos que se encontra sob o céu ou sobre a crosta da terra. A segunda advertência é a de que às proposições universais, tanto negativas quanto afirmativas, devem juntar-se aquelas instâncias concretas que parecem aderir ao que é inexistente, como no caso do calor as chamas muito fracas e que queimam muito pouco; e no da incorruptibilidade, o ouro é o que dela mais se aproxima. Todas essas coisas, de fato, indicam os limites da natureza entre o existente e o não existente e constituem as circunscrições das formas, 180 para que não se desprendam e ponham-se a vagar fora das condições da matéria.
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