A investigação e a descoberta do esquematismo latente 29 é igualmente coisa nova, à semelhança da descoberta do processo latente e da forma. Ainda nos encontramos nos átrios da natureza e não estamos preparados para adentrar-lhe os íntimos recessos. E nenhum corpo pode ser dotado de uma nova natureza, ou ser transformado, com acerto e sucesso, em outro corpo, sem um completo conhecimento do corpo que se quer alterar ou transformar. Sem o que, acabarão sendo usados procedimentos vãos, ou pelo menos difíceis e penosos e impróprios para a natureza do corpo em que se opera. Daí ser necessária a nova via, adequadamente provida.
Na anatomia dos corpos orgânicos (como os do homem e dos animais) foram adotados procedimentos bastante acertados e fecundos; trata-se de tarefa delicada e que efetua um ótimo escrutínio da natureza. Mas esse gênero de anatomia dependendo do visível e dos sentidos, em geral, só vige para os corpos orgânicos. E isso é, aliás, algo óbvio e pronto, em comparação com a verdadeira anatomia do esquematismo latente dos corpos tidos por similares, especialmente das coisas específicas e de suas partes, como o ferro e a pedra, nas partes similares da planta e do animal, como a raiz, a folha, a flor, a carne, o sangue, o osso, etc. E é de se notar que mesmo nesse gênero não se interrompeu a indústria humana. Assim o indica a separação dos corpos similares pela destilação, bem como outros modos de separação, que procuram fazer aparecer a dessemelhança interna, congregando as partes homogêneas, e isso que é usual atende tambémao que buscamos; conquanto seja algo falaz, uma vez que muitas naturezas são imputadas e atribuídas à separação, como se antes existissem no composto, na verdade foram estabelecidas e superinduzidas recentemente 30 pelo fogo, e pelo calor e por outros métodos de separação. Mas, ademais, esta é uma pequena parte do trabalho de descoberta do verdadeiro esquematismo do composto, uma vez que o esquematismo é algo tão sutil e preciso que a ação do fogo mais confunde que elucida.
Em vista disso, a separação e solução dos corpos não devem ser feitas pelo fogo, mas pela razão e pela verdadeira indução, com auxílio de experimentos; e por meio da comparação com outros corpos e pela redução a naturezas simples e a suas formas que se juntam e combinam no composto. 31 Enfim, deve-se deixar Vulcano por Minerva, se se almeja trazer à luz as verdadeiras contexturas dos corpos e os seus esquematismos, de que dependem todas as propriedades ocultas e, como se costumam chamar, propriedades e virtudes específicas das coisas e donde, também, se retiram as normas capazes de conduzir a qualquer alteração ou transformação.
Por exemplo, é de se investigar o que em todo corpo corresponde ao espírito 32 e o que corresponde à essência tangível; e se esse mesmo espírito é copioso e túrgido ou jejuno e parco; se é tênue ou espesso; se mais próximo do ar ou do fogo; se é ativo ou apático; se é delgado ou robusto; se em progresso ou em regresso; se é partido ou continuo; se concorde com as coisas exteriores e com o ambiente ou em desacordo, etc. O mesmo deve ser feito em relação à essência tangível (que não é menos passível de diferenciações que o espírito), e seus pêlos, fibras e sua múltipla contextura, bem como a colocação do espírito na substância do corpo e seus poros, condutos, veias e células, e os rudimentos ou tentativas de corpo orgânico. Tudo isso faz parte da mesma investigação. Mas mesmo aqui, como em toda investigação do esquematismo latente, a luz verdadeira e clara, que desfaz toda obscuridade e sutileza, só pode provir dos axiomas primários.
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