A regra 20 ou axioma para a transformação dos corpos é de duas espécies. A primeira considera o corpo como um conjunto ou conjugação de naturezas simples. Veja-se, no ouro estão reunidas as seguintes características: ser amarelo, ter um determinado peso, ser maleável e dúctil até determinado limite, não ser volátil ou perder a sua quantidade sob a ação do fogo, liquefazer-se com determinada fluidez, separar-se e solver-se por determinados meios, e outras naturezas semelhantes que se encontram no ouro. Desse modo, tal axioma deduz a coisa das formas das naturezas simples. Quem conhecer as formas e os modos de se introduzir o amarelo, o peso, a ductilidade, a fixidez, a fluidez, a solução, etc., e suas graduações e modos, saberá como proceder para conjugar em um único corpo essas qualidades, para conduzi-las à transformação em ouro. 21 Essa espécie de operação pertence à ação primária. Pois o método de se produzir uma única natureza simples é o mesmo que o de muitas; apenas o homem se sente mais limitado e tolhido nas suas operações, quando se trata de várias, em vista da dificuldade de coordenar essas naturezas que não se unem tão facilmente, como pelas trilhas ordinárias do mundo natural. Contudo, deve ser lembrado que tal método de operar 22 que distingue as naturezas é constante, eterno e universal, e abre amplas vias ao poder humano, e isso a um ponto tal que, no estado atual das coisas, a mente humana pode sequer cogitar ou representar.
A segunda espécie de axiomas (a que depende da descoberta do processo latente) 23 não procede das naturezas simples, mas dos corpos concretos, tal como se encontram na natureza em seu curso ordinário. Por exemplo, se se trata de investigar, a partir de sua origem, o modo e o processo de formação do ouro ou de qualquer outro metal ou a pedra, a partir de seus primeiros mênstruos 24 ou de seus rudimentos até o estado acabado de mineral; ou apreender o processo pelo qual se gera a erva, a partir das primeiras concreções do suco na terra ou a partir da semente até a planta formada, acompanhando toda a sucessão de movimentos e todos os diversos e continuados esforços da natureza; igualmente, investigar a geração dos animais, discernindo a partir do coito até o parto. E proceder da mesma forma em relação aos demais corpos.
Mas, na verdade, essa investigação não se restringe à geração dos corpos, mas se estende aos outros movimentos e operações da natureza. Assim, por exemplo, se se trata de investigar a série completa e contínua da ação da nutrição, a partir da ingestão inicial do alimento até a sua perfeita assimilação; ou o movimento involuntário dos animais, a partir da primeira impressão da imaginação e dos continuados esforços do espírito 25 até as flexões e movimentos dos membros; ou os distintos movimentos da língua, dos lábios e dos demais instrumentos até a emissão de vozes articuladas, tudo isso, com efeito, também respeita às naturezas concretas ou coligadas e conjugadas. Estas podem ser consideradas como modos de ser habituais, particulares e especiais da natureza e não como leis fundamentais e comuns que constituem as formas. Não obstante, deve-se reconhecer que este segundo procedimento é mais expedito, mais disponível e oferece mais esperanças que o primeiro.
E da mesma forma, a parte operativa, que corresponde a esta especulativa, estende e promove a operação, a partir do que ordinariamente se descobre na natureza, indo para as mais próximas, até as que se não distanciam muito destas. Mas as operações mais profundas e mais radicais na natureza dependem sempre dos primeiros axiomas. Em vista disso, onde não é dada ao homem a faculdade de operar, mas apenas de saber, como em relação às coisas celestes — pois não é possível ao homem agir sobre as coisas celestes, para mudá-las ou transformá-las —, a investigação do próprio fato ou da verdade da coisa, bem como o conhecimento das causas e dos consensos, refere-se tão somente àqueles axiomas primários e universais, 26 relativos às naturezas simples (como os relacionados à natureza da rotação espontânea, da atração ou virtude magnética e de muitas outras coisas, ainda mais comuns que os próprios corpos celestes). E que ninguém espere resolver a questão de que se o movimento diurno é da terra ou do céu antes de haver compreendido a natureza da rotação espontânea.
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