O bloco de cobre nativo
Orlins Santana: solucionado o enigma?

Dedicando o achado a D. Maria I e D. Pedro III, e oferecendo-o ao Museu do Príncipe do Brasil (D. José, a quem se deve, com ajuda de Domingos Vandelli, a criação do Gabinete de História Natural do Paço da Ajuda), mais informa a inscrição que o objeto fora achado na região da Bahia, perto da Vila de Cachoeira, em 1782. Seria uma massa de cobre nativo com mistura de ferro, e peso de 2666 libras.

Sobre o assunto há muita matéria publicada no TriploV, incluída uma antologia de citações de autores que, ao longo do tempo, dedicaram atenção a esta peça museológica de inquestionável valor histórico (1). O mais notável nas citações é que revelam disparidades no que toca a informações sobre um objeto sólido, de volume e peso constantes. O próprio Domingos Vandelli, no século XVIII, escreveu várias memórias sobre o objeto, anunciado sempre como «cobre nativo». Por exemplo, o peso registado por Vandelli chega a variar mil libras relativamente ao da inscrição, ou seja, 1666 e 2666 (anulando a diferença, ficamos com o número 666, o da Besta do Apoclipse...). 

Face a estas «gralhas», pus a hipótese de que a pedra de cobre tinha representado uma qualquer agressão política contra a Coroa portuguesa, que Vandelli sabia tudo, mas não podia falar abertamente. Ele e os autores subsequentes, ao usarem a língua das gralhas, manifestavam esse conhecimento, alertando assim os leitores, nas entrelinhas, para enigmas a desvendar. Nessa altura, sendo golpe o cobre, não havia necessidade até de ser nativo. E é neste ponto que entra em cena Orlins Santana, um investigador do assunto, defensor da hipótese de que o cobre é nativo, a quem fizemos algumas perguntas. Com o nosso agradecimento pela colaboração prestada ao TriploV e à pesquisa sobre o objeto museológico, publicamos também as fotos que nos enviou do vale de Guaípa e do solo, no local onde se diz ter sido encontrado o bloco de cobre. 

Maria Estela Guedes

Conversa com Orlins Santana: solucionado o enigma?

As nossas interrogações:

Há quanto tempo estuda você o bloco de cobre e que levantamento fez, de documentos e no terreno? Que descobriu? O cobre é um minério importante nos recursos do Brasil? Onde há cobre perto da Cachoeira? Qual é a sua hipótese de explicação dos mistérios em que está envolvido este objeto museológico?

Informações de Orlins Santana

Não há mina  de cobre  em Cachoeira, fui ver o local. O riacho onde dizem que foi achado. Lá não há minério de nenhum tipo.

Pesquisei este assunto durante 20 anos.

No Arquivo Público da Bahia, há documentação de cunhagem de moedas falsas  de cobre, em Cachoeira. Naquela mesma área. Nesta área havia grande concentração de engenhos de açúcar de cana. E contato diário com as naus que vinham da Europa.

Foi um golpe tramado para descaminhar recursos da Coroa Potuguesa para a mineração inexistente naquele local.

As minas de cobre da Bahia existem e estão gerenciadas pela empresa Caraíba Metais, próximo ao Rio São Francisco, fronteira com o Estado do Piauí e Pernambuco. Já conhecidas por Portugal desde o século dezoito. É muito distante de Cachoeira.

Aquela pedra foi trazida de barco, pelo Rio São Francisco e lá no Riacho do Engenho Guaíba, foi jogada. E a subida muito íngreme não permitiu o transporte para a sede do Engenho, que ficava a 200 metros de altura do riacho (ver foto do solo).

As inscrições estão erradas e devem ter sido feitas por gravadores que não conheciam os nomes dos reis de Portugal. E as datas dos períodos de Reinado. Gente de outros paises . Lá já tinha Franceses desde 1540 negociando Pau Brasil com os Indios. Área muito visitada por ingleses e holandeses. Ladrões e assaltantes. Piratas e desocupados da Europa.

Na verdade os malandros estavam atrás das minas de ouro que um sabido  chamado Manoel  Soledade tinha informado ao rei com remessa de algumas oitavas de ouro, como quintos. A mina de ouro que ele dizia estar no Mamocabo, em Cachoeira, foi descoberta a quilómetros e quilómetros de distância, nas feitorias de Cairu, na costa da Bahia. É que era proibido minerar próximo à costa... O malandro ganhou 200 quilómetros quadrados de terras. Mas acabou preso e morreu sem declarar herdeiros. E outros pilantras armaram  a estória do cobre, esta para ver se realmente tinha ouro em Cachoeira.

Nem ouro, nem cobre.

Assunto encerrado e ponto final.

P.S.

MEG - Orlins, você fala de «inscrições» e diz que os nomes dos reis estão errados. Os nomes estão certos e eu só conheço uma inscrição.

Orlins Santana - Acerca das inscrições, vi num relato de Portugal que estavam erradas, verifique o texto em Latim sobre a pedra. Traduza.

MEG - Ah, sim, o que está errado são as transcrições do latim, nos diversos autores que falaram do bloco de cobre nativo. Basta ver a antologia que incluí em «Evoé» (1). O delírio das gralhas pode chegar a alterar as datas e os nomes dos reis, claro. Quanto a traduzir, não traduzo. Nunca ninguém traduziu, em duzentos anos, não vou ser eu a primeira. Não sei o suficiente para evitar armadilhas lexicais. Como essa do «imperantibus». Em tradução literal, dá imperadores, ora o primeiro imperador foi o do Brasil, D. Pedro I. Mas «imperantibus», em tradução anuladora do erro histórico, também pode significar «governantes».

P.S.2

Orlins Santana -

ORA ESTELA
PORTUGUESES E BRASILEIROS NÃO FARIAM TAL GRAVAÇÃO. PELO MENOS O GRAVADOR NÃO ERA DE PORTUGAL. OU DISTANTE E DESINFORMADO DO REINADO.
PORTUGAL NÃO POSSUÍA IMPERADORES EM 1782.

ORLINS SANTANA

P.S.3

Orlins Santana - NA INSCRIÇÃO RELATAM A DOAÇÃO, AOS IMPERADORES MARIA E PEDRO III.

MEG - Muito bem, se quer insistir nisso, é mais uma Besta do Apocalipse na história do bloco de cobre nativo, que não sabemos se é nativo ou não.

PONTO FINAL NA HISTÓRIA DO BLOCO DE COBRE NATIVO?

Maria Estela Guedes - Vamos recapitular e assentar ideias, Orlins: o bloco de cobre nativo foi ou não usado pelos donos de garimpos para enganar a Coroa Portuguesa?

Orlins Santana - Foi um golpe tramado para descaminhar recursos da Coroa Portuguesa para a mineração inexistente naquele local.

O objecto museológico do Museu de História Natural de Lisboa.
Com a peanha, tem mais ou menos a altura de uma pessoa.
Foto de Ana Luísa Janeira

Ver também: O sítio do engenho do Mamucabo existiu

Orlins Santana de Oliveira.
Brasileiro -  Nascido na Bahia (n. 1948). Familia Cachoeirana-Materna e Paterna.
Bisavós portugueses- Maternos e Paternos.
Membro do Instituto Historico da Bahia. Membro do Instituto Genealogico da Bahia
Dentista. Membro da Comissão  de Diretoria que confere as medalhas de Honra ao Merito da Odontologia do Brasil-Conselho Federal de Odontologia.