O AMOR EM VISITA Herberto Helder 23-11-2004 www.triplov.org |
Em cada mulher existe uma morte silenciosa. E enquanto o dorso imagina, sob nossos dedos, os bordões da melodia, a morte sobe pelos dedos,navega o sangue, desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto. - Ó cabra no vento e na urze, mulher nua sob as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal põe o espírito, mulher de pés no branco, transportadora da morte e da alegria.
Dai-me uma mulher tão nova como a resina e o cheiro da terra. Com uma flecha em meu flanco, cantarei. E enquanto manar de minha carne uma videira de sangue, cantarei seu sorriso ardendo, suas mamas de pura substância, a curva quente dos cabelos. Beberei sua boca, para depois cantar a morte e a alegria da morte.
Dai-me um torso dobrado pela música, um ligeiro pescoço de planta, onde uma chama comece a florir o espírito. À tona da sua face se moverão as águas, dentro da sua face estará a pedra da noite. - Então cantarei a exaltante alegria da morte. |