Vou desfiar
a palavra
e fiar
que atrás
desse rosto
sem cor
lavado pela chuva miúda
a verdade
saltite gulosa
sem o abstracto da reticência
ou a exclamação teimosa
da
negra noite
pasmada
com a ternura mansa
do sol vermelho
acariciando a madrugada indistintavou subir com a noite
devassa
explodir em cada minuto
da hora que passa
e viver a lucidez
da minha
loucura
sem o arco-íris da imaginação
não quero o amargo da cor
porque traz a dor em fatias rácicas
com lascas de ódio
e eu. Assumindo-me
pleito. Todo em mim
recusarei a força da cor
distinguindo homens
diferenciando gentes
ó cor vaidosa
és mentirosa
e vou ordenar
que o vermelho
o preto
o branco
mais
a cor de burro quando foge
só sirvam
sem magoar
na tela imaginária
do poeta
todo ele
trepadeira sem fronteira
Bissau,
1985 |
Tony Tcheka (António Soares Lopes Júnior),
natural de Bissau, onde nasceu a 21 de Dezembro de 1951, foi um dos
fundadores da União Nacional de Artistas e Escritores, da Guiné-Bissau e
é hoje considerado um nome de referência da literatura guineense, com
trabalhos em várias antologias, publicadas na Guiné-Bissau, Portugal,
França, Brasil e Alemanha. Este livro, que sucede a "Noites de Insónia
na Terra Adormecida", editado em Bissau, em 1996, foi lançado no Brasil
em Novembro de 2008, durante a Festa Literária Internacional de Porto
das Galinhas.
Também jornalista, António Soares Lopes
Júnior foi redactor e mais tarde director da RDN-Rádio Nacional da
Guiné-Bissau, chefe da redacção e director do Jornal Nô Pintcha. Nesta
qualidade criou Bantabá, um suplemento cultural e literário. Como
correspondente e analista, trabalhou com a BBC, Voz da América, Voz da
Alemanha, Tanjug e, em Portugal, com o Público, a antiga agência
noticiosa ANOP, RTP-África e TSF |