|
Revista TriploV
de
Artes, Religiões e Ciências |
|
|
|
|
|
|
José Carlos Schwarz..... |
|
|
Momentos primeiros da construção |
|
Nestes momentos primeiros da construção
Após o desbravar das matas dos
horizontes
Não perguntes quem são os poetas,
vem comigo e repara bem
Nestes tempos pioneiros da produção
Os recém-chegados e os veteranos sejam muitos
A fazer com que os radis naveguem
Fecundem a terra
E que as ferramentas torneiem e afinem
A engrenagem do processo
Sob estes ventos soalheiros da revolução
Que as quedas não sejam definitivas
E que os desfalecimentos sejam vencidos
Pela certeza da vitória que amanhecerá
Nas frescuras das madrugadas. |
José Carlos,
in Momentos Primeiros da Construção
Em: Aldónio Gomes & Fernanda Cavacas, A literatura na Guiné-Bissau.
Lisboa, Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações
dos Descobrimentos Portugueses, 1997 |
|
Antes de partir |
|
Antes de partir
Encherei os meus olhos, a minha memória
Do
verde (verde, verde!) do meu País
Para que quando tomado pela saudade
Verde seja a esperança
Do
regresso breve
Antes de partir
Encherei os meus ouvidos, a minha memória
Do
palpitar que esmorece, enquanto a noite
Cresce sobre a cidade e no campo
Feito o silêncio dos homens e dos rádis...
In: Antologia Poética da Guiné-Bissau, Editorial
Inquérito, 1990 |
|
Canta camarada |
|
Canta camarada
Deixa que o teu sonho verdade
Flua límpido nos anseios da tua voz quente
Pois este é o teu dever, o teu direito.
Canta camarada
Que
a recordação da tua dor
Seja como a terra revolvida
Em
cada época, para a sementeira.
Canta camarada
Apenas alguns nomes, para que seja exaltado o anónimo
Apenas os mortos, porque os vivos
Ainda podem desmerecer da nossa gratidão.
Canta camarada
Pois é a única benesse
Que
te reservaste na oferta da tua juventude
Em
Holocausto no altar da revolução.
In: Antologia Poética da Guiné-Bissau, Editorial
Inquérito, 1990 |
|
Os novos heróis |
|
Digo-te que os novos heróis chegarão
Marchando ao compasso do nosso hino
Em que se entoam as esperanças,
Daqueles que com o seu sangue generoso regaram
A Pátria que hoje pisam os seus continuadores
Chegarão vindos dos campos, das bolanhas, das minas
A terra será livre na sua entrega amorosa e fecunda
Sem temer a violação de bombas criminosas,
A conspurcação de botas mercenárias.
Chegarão, a paz temperando-se no sal do seu suor
Dentre os tempos novamente pioneiros
- Pois que serão as metas atingidas
Senão novos pontos de partida, novos desafios? -
Dentre ventos soalheiros a aumentar a produção,
Virão verticais e seguros das suas raízes
Das fábricas modelando novos horizontes às tabancas,
Para que as culturas ancestrais transbordando as nascentes
Galguem novos espaços, ganhem novas alturas.
Estes homens serão colheita e sementeira, gérmen e fruto
Da sociedade nova porque se forjam e morrem os heróis!
José Carlos,
in Momentos Primeiros da Construção
Em: Aldónio Gomes & Fernanda Cavacas, A literatura na Guiné-Bissau.
Lisboa, Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações
dos Descobrimentos Portugueses, 1997 |
|
Memorável José Carlos Schwarz, em: |
http://www.didinho.org/MEMORAVELJOSECARLOSSCHWARZ2009.htm |
|
|
José Carlos Schwarz nasceu em Bissau a 6 de
Dezembro de 1949.Era fillho de Carlos Hans Schwarz, funcionário público,
e de Justina Schwarz, doméstica. Tal apelido deveu-se ao facto de o pai
ter nascido de mãe guineense e de pai alemão.
Fez o ensino primário em Bissau, tendo
dividido os estudos liceais entre Bissau, Dakar e Cabo Verde, sendo
neste último em 1966.
Em 1967 segue com a mãe para Portugal a
fim de se juntar ao pai, cujo estado de saúde se agravara. Ali, pode
iniciar os contactos com a música "soul" e "jazz", e com as realidades
da luta de outros povos pela independência e pelos direitos humanos.
Numa das suas visitas a Bissau, criou uma
organização sócio-cultural denominada "Roda-Livre", que não durou muito
tempo devido ao volte-face imposto a José Carlos pela Polícia Política
Colonial "por uma Guiné melhor".
Entabulou contactos com as estruturas
clandestinas do PAIGC e com os ideais de Libertacão Nacional.
Fundador e líder do Cobiana Djazz, com o
qual gravou dois discos, José Carlos dedicou grande parte das suas
composições ao fundador da nacionalidade guineense, Amilcar Cabral, a
quem admirava profundamente. Se enquadrava na resistência cultural.
Nessa época, seus textos eram marcados por uma velada crítica ao regime
opressor, disfarçada na linguagem metafórica e poética da língua crioula
e dos provérbios tradicionais. A imensa popularidade que essas canções
atingiram provocou uma grande inquietação no seio dos dirigentes locais.
Gravou com Miriam Makeba o seu Lp "Djiu di Galinha", editado
postumamente.
Partiu definitivamente a 27 de Maio de 1977, quando desempenhava o cargo
de Encarregado de Negócios da Guiné-Bissau em Cuba, num acidente aéreo,
tendo-se o avião em que viajava despenhado, ao aterrar no aeroporto de
Havana. Tinha 27 anos.
http://www.myspace.com/joscarlosschwarz |
|
http://senegambia.blogspot.com/ |
|
|