135. Distingo-me deles por viver no seu e no meu espaço e eles não terem acesso ao meu. Sou pluridimensional. Tenho, sem a menor dúvida, o dom da ubiquidade. 136. De uma casa enorme via-te o riso. Acenavas com ele num sudário sem fim. Com ele acenavas num azul contra o meu. De onde vieste, que te não conheço? De onde vieste a comandar o tropel de sedutores espartilhados? E quem te trocou? Sinto cada vez mais sinteticamente.
137. E tu? Sentes a boca nova? Sabe a limão. Felicidade branca e pura. Quem na suporta assim sem mancha nem pescado original? Tenho a boca em brasa: embarca nela a tua embarcação! É a porta do Hades, à sua porte há-des ladrar mais que o cão cinéfilo! Num dia em que stiver mais bem disposto escreverei-te um poema alpestre. 138. Eu preciso de soulevar tudo até descobrir a língua pura dos nubentes! Ou então isilarei-me no mais repleto anonimato. 139. Estou numa igreja e escrevo. Oiço a missa de Natal na catedral de Lamego. E isto aqui screvo. 140. Escrevia, na semana passada. No ano findo. Que ano será para nós um ano infindo? A que horas morrerei em deserto dia de vazio mês de infinito ano? Quantos minutos faltam para a partida? Com quantos começou a contagem decrescente? 141. Se diferente de mim, ser diferente para mim mesmo, é situação que ocorre, embora com pouca frequência. Precisava de a aumentar, à frequência dos instantes diferentes, de modo a eliminar a intermitência. A vida seria um lençol branco na cama do Sol. Eles, os outros, dão valor à imutabilidade. Estipulam ser moeda forte a sua condição de homens de uma só cara e de um só coração. 142. Como um lençol negro na cama do Sol. 143. O lençol é sempre um lençol, branco ou negro. A cor depende da luz e dos olhos de quem no vê. 144. Dizia um migrante no telejornal: É o último Natal que venho passar a Portugal. Tenho quase 65 anos, vou passar à retrete. 145. No portal da Sé de Lamego há motivos obscenos esculpidos na pedra. Era meia-noite, mas à fraca luz de um candeeiro de rua, bem vi o cisne a debicar o pénis do cão. Císnicos! 146. É um cenário hindustânico de brocado e ouropéis, roxos inebriados. Na nave central faz figuras tristes um maluquinho. 147. As cousas sérias que se enuncia levianamente! 148. Tenho a boca em brasa: embarca a tua embarcação! À minha porta, sete cabeças tem o cão! Há um som que me toma, me rapta a atenção. Há um som que atroa, som de trovão. Ão... Ão... Ão... - ladra o celeste cão.
333666999 666999333 999333666 333666999 0123456789099912345678901234434343333555555555666 11111111100000000000XXXXXXXX1111CCCLLLL000666 aaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaauuuuuuuaaaaaa
149. Dão-me gozo as falcatruas de números e de letras. Gosto de escrever fórmulas tão imaginárias e secretas como o eco que do teu nome Eco leixa entre o arboledo. 150. Vem num mar imenso o som que me prende. Me funda, e suspensa tem do trovão. Há um som que atroa, descendo do céu. Ascende do teu coração. Quase apreendo a tua mão morenamente tocando um diapasão. Ão... Ão... Ão... - entoa o vento. Mão que é mão de coração amante, mão de irmão. E tentação... Ou sedução? Mão que é mão-mandala e refunda a atenção. Entrecruzam-se pedras e não é o tufão. Entrechocam-se raios e não é o trovão. Ão... Ão... Ão... - insiste o vento. O som que se ouve é de um heli-canhão. 151. Que me caia ao chão a dentição, se não for só provocação!
152. É provável que o cérebro seja um banco electrónico de informações. A memória de um pc muito sofisticado. Precisamos é conhecer bem a máquina para aproveitar ao máximo as suas capacidades, e sobretudo a de previsão. As frases dizem o que dizem e tudo o que você pense, e mais nada. Mais nada, apesar desse tudo. Do meio delas, porém, sai um som estranho e redundante que incomoda. Nada tem a ver com o que se diz nem com o que sugere. É a máquina de seleccionar, substituir e combinar que já fez mais do que isso. Dá um aviso. Um som, um nome obcecante. Eco emite-o sob a forma de eco: ão... ão... ão... Numa provocação literária agarrou a tradição. Há aí um nome que se espalha como gesto falhado, oculto na língua das gralhas. Não é o meu nome. Nenhum deles. Nenhum seu. Também não é o teu nome. Nem o de X, a' ou 3. Um som que na linguagem verbal tivesse verbi gratia a função de zero. O zero é um milagre da criação. 153. O nome-nome. Nome, númen, nume. Nome-número. Há sons obsidiantes que anunciam idades messiânicas. Há números de ouro. NOME-NO.ME-N.OM.E-OM.NE-OM.EN-NEMO
Obceca a nasal? A sílaba OM? OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM Mas OM sei eu o que é, vejamos! Sei o que é? Com que audácia o saberia? Uma sílaba com os equivalentes poderes do zero. Um big bang verbal. OM como em homem. Ou como em Ó Mãe!
OM sweet OM 154. Ou como o trovão, ao longe: Aaaaaaaauuuuuuummmmmm! O cavalheiro acha ridículos os meus brinquedos?
156. Pois é, o cavalheiro tem razão: não somente perdeu o dom do canto como ficou gaga, probezita! Já é ter galo!, com certeza.
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