d) Os que só fazem boa figura

 

56. Os nomes passam: o dele, o meu, o teu, o seu.

O do João. O do José. E porquê esta selecção? Que figura se encosta ao meu dormir, a auscultar-me os sonhos?

Quem me parla deles, de dentro dos meus sueños?

Esta tremenda colisão.

57. Todos querem entrar na minha cabeça, até um qui pápia criôlolo!

58. Esta tremenda, caótica invasão!

59. E as vacanças passadas no souto de Crexente?

60. Esta tremenda colisão.

Em que sonhos alheios a minha voz irrompe, como se partira eu um prato pela cidade, enquanto fechei os olhos instintivamente?

Esta tremenda invasão.

61. Quando surge, esvelta e nua, em cada esquina há uma cena de pancadaria.

62. Daqui a nada precisamos de recolher os ciscos do que partiste e mandar tudo para o compõe-loiça.

63. O Sentido é a resultante escatológica da combinação com a liga. E uma rosa vermelha.

64. Arde o branco sob azul rápido.

Quem não soube olhar para dentro do sonho, que os nomes diviso? Divisas? Diviso, divido e olvido, guardo e arremesso.

Quem não soube perder o olhar perdidamente dentro do que é sonho? Que o diviso, moneda ardente!

Aí vêm pois os nomes, soltos, desencabrestados: o Alano, o João e o José. Ei-los, aos poucos, que se vêm, rindo: o Vândalo, o Alano, o João e o José.

Ei-los, os caçadores, que vêm vindo.

65. Até hoje tenho andado fora de mim. No dia em que entrar é para não mais sahir. Não mais.

66. Ei-los, que vêm florindo, os caçadores: o Suevo, o Alano e Visigodo. Vem Celta e Cartaginês. Fenício virá um pouco mais tarde. O número de Romano teve de ser alterado.

Belos e tenebrosos vêm os caçadores. Vestidos de fraque para dançar. E vem Janus de guitarra eléctrica.

67. Belos e facinorosos descem para a festa os caçadores. Sob uma avelaneira frolida os verrei bailar.

Confesso, porém, que preferia uma esmeralda caída da testa de uma estrela brilhante como Lug.

Ei-los, os lusos, que vêm luzindo.

68. Como dizer a umbra em tuas mãos que seguram o volante, e as minhas apartadas? Como dizer-te que cego por ti?

Entre veludos verdes passamos, esfíngicos.

Entre verdes veludos apascentamos rebanhos paisagísticos.

Entre veludos verdes pastamos.

69. Como confessar-te que me morre a boca por beijar a tua? Declamo para te cortejar. De outro modo, como me desenrascaria?

- O que não quer dizer que a criação se não adapte à situação...

- "Paciência"!...

- "Diálogo de Reis", leio na legenda do quadro seguinte.

Passou-se o que vou descontando na passada sexta-feira, numa exposição de gravuras nacionais.

Quando o coração se me prendia a si com a forma de uma guitarra.

70. Peguei pois na sua voz e declarei-me. Num verso alheio ecoava o meu desejo.

Arde o cavalo branco sobre cetim extirpado.

71. São muitas cousas. São muitas bestas rearmadas, são muitos recantos. São muitos escaninhos assanhados.

Oh, o olhar pousou além, no peitoril do Interdito. A recordar-te a incisão, o teu postal de sempre-festas: Infinitamente.

INfinitaMENte. INFINITAMente.

Era o som de um sino ecoando além. Pela quarta vez, a que dá a dimensão imperial, repetiste em finda: INFINITAMENTE.

72. Infinitamente são teus cabelos de algas. Ouviste o que disse? - Infinitamente.

Uma jovem cosmonauta ouvia a teus pés com atenção fervente. Concentrava-se infinitamente.

Sentes-te um suspiro, uma falha de gravidade?

Atrás de mim a coluna sonora sofre de tonturas. Que é isso, mana? Que apetite que tem! São já horas de janta? Oh, que apetite que tem!

Meu amigo, se quiser perder-se infinitamente, experimente fugir, por exemplo, para http://www.google.com/ e veja na caixa de pesquisa se lá se encontra a si mesmo.

73. Uma coluna de som sofre prali sem piar nada. A emissão há quanto tempo é que encerrou? Ainda os ouvi, aos heróis do mar. Gosto que se despeçam de mim com essa cortesia.

74. A coluna de som sofre de tonturas. Guilherme était très mal, il avait des tontures! Sopra-me ao ouvido: amanhã estarei contigo, meu amôr. E eu respondo, numa voz que ecoa: - Eternamente!

75. Eternamente starei contigo. Amanhã. Sobre tôdolo instante o Futuro será sempre topologicamente um amanhã.

Olho para ele com olhar de quem ignora tudo. Encara-o a Inocência em absoluto. Que Inocência é o meu nome baptismal.

Infinitamente são olhos multifacetados. Infinito é o desejo de saber.

76. Quatro colunas avançam sobre o mistério. Cada uma comporta quarenta mil vocábulos só na avonguoarda. Avonguoarda eternamente.

77. E os citrinos eufóricos no pomar do sol nascente? Beijo-te os dedos com amôr circunflexo e tule.