No texto dos naturalistas há marcas maçónicas. Primeira ilação a tirar, com as reservas devidas à citação laica: se assim procedem, é por serem maçons que desejam vir a ser reconhecidos pelos seus confrades, não só coevos, como futuros. Conclui-se então que no trabalho científico existe informação reservada. Se fosse divulgável a todos, não havia necessidade de segredos. Existindo, quer dizer que a ciência é usada para dupla finalidade. E se tal acontece é porque o texto se inscreve num contexto de censura e repressão. Assim sendo, o código, com as suas assinaturas de números 3, 33 ou 666, entre mais, obriga-nos a encarar os textos como actos de subversão contra esse Poder que não autorizaria a missão de que resultam, se a conhecesse inteiramente.
Em Portugal, nos últimos trinta anos do século XVIII, anos em que aparecem textos de História Natural com assinaturas carbonárias, os principais aparelhos repressivos eram a Inquisição, que visava os inimigos de Roma, e a polícia política, a defender-se das ideias da Revolução Francesa, fomentadas pelos filósofos libertinos: Rousseau, Diderot, Voltaire, etc.. Além de judeus e outros elementos sociais perigosos, os aparelhos repressivos têm na mira os maçons. Os pedreiros-livres atacavam a Igreja com o anti-clericalismo e com a filosofia do naturalismo, a negar a existência do sobrenatural; e atacavam as monarquias com o tríplice programa de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Em 1946, data do segundo exemplo de texto naturalista com marcas carbonárias que vou apresentar, a Maçonaria era de tal modo combatida por Salazar, que só nos últimos vinte ou trinta anos tem recuperado a face visível de um antigo esplendor em que era público o facto de haver governos quase integralmente constituídos por maçons. Em 1929, a Polícia assaltou o Grémio Lusitano, houve desacatos e os arquivos do Grande Oriente Lusitano Unido foram destruídos. Determinou-se a triangulação imediata de todas as lojas. De acordo com Oliveira Marques, "Queria isto dizer que o número de obreiros de cada loja seria dividido por cinco, desmembrando-se essa loja em tantos triângulos quantos os resultantes do quociente da divisão. Em vez de reuniões magnas, de dezenas de pessoas, facilmente detectáveis pelas autoridades ou pelos seus espiões, passaria apenas a haver pequenos conciliábulos de cinco indivíduos no máximo, possíveis de realizar em residências particulares e até em locais públicos como cafés e restaurantes."
Em suma, a maçonaria passa à clandestinidade e entra em declínio. Em 1935, Fernando Pessoa escrevia um artigo no Diário de Lisboa que gerou imensa polémica, no qual criticava um projecto de lei, que, diz ele, estabelece várias e fortes sanções (excepto pena de morte) para quantos pertençam ao que o seu autor chama “associações secretas, sejam quais forem os seus fins e organização”.
Ainda é do meu tempo a piada a um regime que proibia reuniões de mais de duas pessoas. O simples facto de a maçonaria ser associativa já é motivo para atemorizar o Poder. Se a este associativismo acrescentarmos a sua capacidade de mobilização, patente nas obras sociais – associações de socorro mútuo, clubes, academias, hospitais, sociedades de beneficência, etc. – fica mais sério o seu contra-poder. É claro que, sob censura, os intelectuais recorrem a toda a espécie de artifícios para baterem o pé, gralhando raivosamente toda a nomenclatura científica, quando o texto não permite mais do que isso. Se permite, um modo simples de falarem, parecendo mergulhados no mais profundo siêncio, é o recurso à linguagem literária, na qual, entre mil formas de legibilidade e ilegibilidade, cabe a argótica das ordens maçónicas. Em tempos autoritários, em que não há liberdade de expressão, a generalidade dos textos que circulam está impregnada por códigos passíveis de dividir o público em dois sectores: os que entendem o que se diz nas entrelinhas por pertencerem à mesma paróquia, e os que pertencem à paróquia dos polícias e espiões. A estes, deseja-se que não tenham a chave do código, ou quem envia a mensagem arrisca-se ao exílio. Foi o que aconteceu a uma dezena ou mais de professores expulsos da Universidade, no tempo de Fernando Frade.
As novas ideias que pairavam nos céus da Europa, na segunda metade do século XVIII, eram o movimento maçónico, como diz Gusdorf. Esse movimento hasteia a bandeira do liberalismo, destruidor das monarquias e da Igreja, e ainda hoje é sob o estandarte da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que assina as suas pranchas. Em Portugal, este período é cosmopolita, penetrado por ideias vindas do exterior através dos estrangeirados: havia um grande vaivém motivado por fugas, expulsões, exílios, e também bolsas de estudo concedidas por um período de dez anos a brasileiros cheios de ímpeto independentista, para que fossem apurar-se nos centros iluministas europeus, o que é extraordinário, se pensarmos que no Brasil os livros só entravam depois de revista na alfândega, não havia jornais nem ensino superior. Nesse cosmopolitismo, contemos ainda os estrangeiros, como Vandelli, chamado pelo Marquês de Pombal a leccionar História Natural e Química na Universidade de Coimbra, reformada sob o seu governo. Aparecem pela primeira vez no nosso país os laboratórios de Química e Física. E como é pela primeira vez que há ensino experimental, e aulas de Química dadas por Vandelli, também é decerto pela primeira vez que no Laboratório de Química têm lugar escandalosos ágapes, que teriam mais a ver com desafios carbonários do que com o programa da cadeira, como se adivinha do que passo a citar:
"Entre os estudantes com quem [Manuel Joaquim Henriques de Paiva, sobrinho de Ribeiro Sanches] convivia em Coimbra figuravam aqueles - entre eles o poeta brasileiro António Pereira de Sousa Caldas e o futuro higienista e também poeta Francisco de Melo Franco, igualmente brasileiro que, acusados de Hereges, Naturalistas, Deístas, Blasfemos, Apóstatas, Tolerantes, Dogmáticos, de não seguirem o preceito de abstinência da Quaresma, reunindo-se, alta noite, em casa uns dos outros, e às vezes no Laboratório de Química, de que Manuel Joaquim habitava uma dependência, para comerem presuntos roubados, de lerem pelo Autor Rousseau e outros Hereges, etc., foram, de sambenito, ao Auto de Fé que na Sala do Santo Ofício em Coimbra, se celebrou a 26 de Agosto de 1781" (Almeida,1925).
Somando todas as acusações – naturalistas, deístas, tolerantes, etc. -, o resultado dá maçonaria. É de serem maçons que estes estudantes estão a ser realmente acusados. Não lhes aconteceu nada de muito grave, pois em 1781 já o Tribunal da Inquisição, em Portugal, agonizava, e agonizava em parte devido ao facto de as novas ideias terem penetrado nele: muitos clérigos e políticos eram maçons. Em todo o caso, os estudantes sofreram o vexame do sambenito, avental dos condenados, e tiveram de ouvir repreensões de um tribunal religioso.
Duas acusações merecem ser retidas: naturalistas, pois todos eles deviam frequentar o curso de Filosofia Natural, donde seriam naturalistas de formação universitária, o que é paradoxal; e tolerantes. A tolerância é central na maçonaria e costuma vir à baila quando se discute a existência ou inexistência nela de doutrina. A maçonaria é ou não uma religião? Não é, porque não tem doutrina, eis uma resposta possível. Na polémica decorrente do projecto de lei a castigar as sociedades secretas, cujos textos Petrus reuniu sob o título “Hyram”, um dos pontos discutidos gira precisamente em torno da tolerância, considerada salvo erro por Alfredo Pimenta, o grande princípio doutrinário dos maçons (Pessoa, 1935).
Uma parte significativa da população estudantil, em Coimbra, a partir de 1777, era constituída por portugueses nativos do Brasil. Os que vieram a notabilizar-se, quase todos foram alunos de Vandelli, porque mesmo os estudantes de Leis frequentavam as aulas de História Natural e Química. É o que acontece com o maior dos políticos da independência do Brasil, José Bonifácio Andrada e Silva, naturalista a quem se deve a descrição de novas espécies de minerais para a ciência. Em Coimbra, regeu a cadeira de Metalurgia, criada expressamente para ele. A bem dizer, todos os políticos da época foram naturalistas, porque todos tiveram a mesma formação, como deixa claro Alex Varela na sua tese de mestrado, ao falar de José Bonifácio:
Em 1780, viajou para Portugal, matriculando-se na Universidade de Coimbra nos cursos de Direito Canônico e Filosofia Natural. Naquele espaço, ele e os seus dois irmãos, todos membros da elite colonial, juntaram-se às elites cultas da metrópole que ali estudavam, onde juntos leriam as mesmas obras e receberiam a mesma formação (Varela, 2003).
Exceptuando então os que se formaram no estrangeiro, a élite criadora da independência do Brasil passou toda sob a lupa do professor paduano. E é bom insistir em que a separação não era apenas vontade dos nascidos no Brasil, também estava no espírito de portugueses como o Visconde de Barbacena, governandor de Minas Gerais, cujo papel na Inconfidência Mineira é bastante singular, uma vez que hospedava em casa o ideólogo do Tiradentes, José Álvares Maciel. Pelos autos da devassa vemos que Barbacena, ex-aluno de Vandelli também (2), sabia que se preparava o levante, e por diversas vezes tinha apanhado Maciel em flagrante delito de leitura de textos proibidos, a constituição dos Estados Unidos da América (Guedes, 1999).
Voltando atrás: a bolsa na Europa de que beneficiou por exemplo José Bonifácio Andrada e Silva não é só extraordinária pela duração de dez anos, mas também porque aos nativos do Brasil não eram atribuídos cargos de relevo. Vejamos com algum pormenor: e nquanto equipas de filósofos naturais tinham partido em 1783 para as colónias, como aconteceu a João da Silva Feijó, em 1790, um grupo de bacharéis partiu em viagem de dez anos pela Europa, com bolsa do governo, justificada pela necessidade de aperfeiçoamento. Em princípio, são três os viajantes-naturalistas: José Bonifácio de Andrada e Silva, Manuel Ferreira da Câmara, e Joaquim Pedro Fragoso. Isabel Cruz acrescenta Silvestre Pinheiro Ferreira, jurista da independência do Brasil, a que chama “viajante sombra”, por ser secreta a sua participação. Dez anos de bolsa para aperfeiçoamento é uma cobertura para a verdadeira tarefa destes homens: a de estabelecerem uma rede de informação e contactos diplomáticos na Europa, como se lê em Alex Varela, quando se refere às instruções do governo dadas aos naturalistas-viajantes:
Na Instrução vinham determinados os locais por onde os filósofos deveriam passar. O percurso, longe de ser delineado arbitrariamente, era estipulado pelo poder administrativo. E, em segundo lugar, contariam com uma ampla rede de diplomatas por todos os locais que visitassem, facilitando a entrada e permanência nos países estipulados pelo poder régio (Varela, 2003).
Essa rede foi decerto pensada de maneira a levar os naturalistas às grandes lojas, onde se teriam aperfeiçoado, e ganho apoio para a futura independência do Brasil. Aliás, é conhecido o caso de José Joaquim da Maia, que estudava num dos mais célebres centros maçónicos da época, a Universidade de Montpellier. Este jovem, já em 1776 tomara a iniciativa de escrever a Thomas Jefferson, então ministro dos Estados Unidos em França, a pedir ajuda para a independência do Brasil. Thomas Jefferson encarou seriamente o assunto, combinando com ele um encontro.
A movimentação é grande, nesta época de estrangeiros e estrangeirados, e de várias maneiras impulsionada por Vandelli, que não se limitava a ser professor de História Natural e Química. Além da rede de informações há outra a considerar, a familiar, e não me refiro à família maçónica, sim à das ligações de parentesco originadas no meio académico, necessariamente mais limitado que o de hoje, e por isso gerador de uma élite muito mais cerrada: José Bonifácio e os irmãos constituem uma rede. Essa rede alarga quando absorve os Vandelli pelo casamento, pois o naturalista Alexandre Vandelli, filho de Domingos Vandelli, casou com uma filha de José Bonifácio de Andrada e Silva, e no Brasil terminou os seus dias; o Visconde de Barbacena, que sabia da Inconfidência Mineira, por ter em casa o naturalista José Álvares Maciel, ideólogo do Tiradentes, era padrinho de uma filha de Domingos Vandelli. E há muito mais casos de rede familiar que em geral não são levados em conta pelos historiadores, por questões de metodologia e paradigma. As diversas Histórias estão separadas, a História da Maçonaria pouco ou nada sabe de naturalistas, a História dos naturalistas leva pouco em conta a política e nada sabe de maçonaria, e finalmente as tendências da semiótica e outras disciplinas de exegese dos textos excluem a biografia dos autores, quando é nítido que as redes familiares constituem núcleos de poder e acção.
Face às facilidades concedidas aos naturalistas luso-brasileiros para se movimentarem pela Europa, conclui-se que havia um sector na liderança portuguesa a preparar altos quadros entre os nativos, contra a orientação geral da Coroa. A Coroa impedia que florissem movimentos de independência, não promovendo o ensino nas colónias nem permitindo que os nativos ocupassem postos importantes. No entanto, as Luzes funcionavam. A instrução dada em escolas invisíveis é evidente na Inconfidência Baiana: ao contrário da Mineira, em que só apareceram à tona intelectuais, na Revolta dos Alfaiates a cúpula da revolução ficou oculta, e só foram presas pessoas humildes. Humildes embora, e a despeito de o ensino público ser fraco ou nulo, quase todos os revoltosos sabiam ler e escrever (Mattos,1998). Perguntemos que movimento lutava pela instrução pública e laicização do ensino, pelo acesso das mulheres à escola e ao voto, e ficaremos a saber em que invisíveis escolas foram os baianos ensinados. A loja é uma escola, em que o aprendiz avança até ao mestrado. Pessoas capacitadas para ensinar eram os naturalistas, e no caso dos que viajaram para as colónias, o ensino de novas técnicas às populações locais fazia até parte dos seus encargos. Ambas as revoltas foram movidas pela maçonaria republicana, como declara Manoel Gomes: a Inconfidência Baiana seguiu a linha da Revolução Francesa, ao passo que na Mineira os olhos estavam postos nas leis americanas.
Seguindo o seu rasto, vemos os estudantes que passaram pelo Laboratório de Química implicados na Inconfidência Mineira, como José Álvares Maciel, que iniciou o Tiradentes na maçonaria; na Inconfidência Baiana, como José da Silva Lisboa, que andou pelos vales do recôncavo baiano à procura de miríficas minas de cobre (Guedes, 2002); o naturalista José Bonifácio de Andrada e Silva não é só o patriarca da independência, ele é também o patriarca da Maçonaria do Brasil.
O nome dos naturalistas ora surge nos autos de devassa de processos políticos, ora nos registos maçónicos. Em 1822, José Bonifácio fundou o Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros da Santa Cruz, loja de inspiração carbonária na qual iniciou o imperador, D. Pedro I. Segundo Castellani, o Apostolado
Era uma organização nos moldes da Carbonária européia, cuja atuação Bonifácio bem conhecera, durante os anos em que permaneceu na Europa. O corpo principal da entidade era a Palestra e seus membros também adotavam nomes simbólicos, ou heróicos, como os maçons. Os integrantes do Apostolado, que se tratavam como camaradas, dividiam-se em quatro categorias, que eram, em sentido ascendente: a dos Recrutas, a dos Escudeiros, a dos Cavaleiros e a dos Apóstolos. Os profanos eram chamados de paisanos.
José da Silva Lisboa, Visconde de Cayrú, foi suspeito de participar em escandalosos banquetes numa Loja de São Salvador (Calmon). O escândalo deve ter sido da mesma ordem daquele que os estudantes de Filosofia Natural exercitavam no Laboratório de Química, onde se dedicavam à comezaina mais do que ao aperfeiçoamento espiritual, já que o laboratorium é local de labor e oração. Por mais que se queira, não é possível trabalhar em compartimentos estanques com este indivisível triângulo: naturalismo, maçonaria e liberalismo.
A trajectória política de Portugal e Brasil, como seria de esperar, foi traçada na Universidade de Coimbra e na Academia Real das Ciências de Lisboa. Não havia mais nenhuma universidade e a Academia das Ciências era a máxima representação da intelectualidade portuguesa. Os homens de Coimbra são os de Lisboa e nesta época as academias e arcádias nascem da acção maçónica. Vandelli está presente nas instituições culturais nascentes, e sucessivamente em outras bem mais importantes, como deputado da Junta do Comércio, como conselheiro do Regente, ou mesmo como director do Real Jardim Botânico da Ajuda, centro logístico das viagens filosóficas. Vemos Vandelli a estudar à lupa os seus alunos, de modo a fazer uma triagem perfeita, vemo-lo ainda interessado na criação de sociedades, cuja designação franca seria "vendas". Em carta de Coimbra, para Barbacena, escreve ele:
"Em minha casa em um dia de cada semana se farão algumas conferências sobre algumas experiências, ou observações que se devem fazer, e viagens, e para também dispor em outras partes Sociedades; nestas conferências somente virão os dos meus discípulos nos quais acho talento, génio, e amor patriótico. Dos resultados destas conferências com o tempo darei parte a V. Exa." (Vandelli, 1927).
Com que intenção havia um professor de seleccionar os alunos pelo amor patriótico? E a que pátria de portugueses nascidos no Brasil se referiria um italiano naturalizado português? O conceito de patriotismo faz parte do dicionário maçónico, e muito em especial do carbonário. Tal como lemos na epígrafe deste ensaio, patriota era o maçon adepto da república. Ora o mais típico maçon republicano é o carbonário. Depois de escolhidos só os alunos patriotas, Vandelli convoca-os para conferências na sua residência particular. Barbacena, sabendo melhor do que nós o que Vandelli e ele congeminam, responde à carta do seu ex-professor, aplaudindo as sociedades económicas a fundar em Coimbra, em Braga e em Valença. Sociedades económicas, eis uma forma discreta de dizer lojas e vendas, espaços onde se compra e vende. Sem dúvida, os lugares de reunião de maçons e carbonários podem com toda a propriedade designar-se por sociedades económicas.
Manoel Gomes, nada sabendo de naturalistas, nem tendo, em aparência, conhecimento de quem eram os professores na Faculdade de Filosofia, esclarece a situação, quando fala de Maciel, um dos alunos de Vandelli:
JOSÉ ÁLVARES MACIEL, educado na Europa, possuía rara cultura geral, de literatura jurídica e filosofia, tendo-se formado pela Universidade de Coimbra, em Filosofia (Física, Química e História Natural). Foi um dos doze estudantes brasileiros que, em Coimbra, em reunião maçônica, assumiram, sob juramento, o compromisso de empregarem todos os recursos possíveis para alcançarem a independência do Brasil.
Parece então que os notáveis da independência do Brasil foram iniciados em casa de Domingos Vandelli ou mesmo no Laboratório de Química da Faculdade de Filosofia, em Coimbra.
O facto de Vandelli ser maçon aparece nos registos históricos sobretudo a propósito da Setembrizada, quando foi desterrado para os Açores com outros notáveis, sob a suspeita de jacobino. Sabemos que a Royal Society of London, instituição maçónica, fundada sobre estatutos oriundos d' "A Nova Atlântida", de Francis Bacon, intercedeu por ele, de forma que depressa saiu da Ilha Terceira para seguir com Alexandre, o filho, para Londres. Corre também a declaração, fruto de equívocas intenções que tornaram Domingos Vandelli uma personagem maldita, de que foi ele quem introduziu a Maçonaria em Portugal. As primeiras lojas de que temos notícia abriram em Lisboa uns trinta anos antes de Vandelli, em 1764, ter desembarcado em Portugal.
Tendo em conta o cenário apresentado e o facto de que um dos alunos de Vandelli, José Bonifácio Andrada e Silva, vem a fundar no Brasil uma ordem carbonária, legítimo será concluir que foi na Maçonaria Florestal Carbonária que Vandelli iniciou os discípulos. |