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NATURALISMO
& MAÇONARIA FLORESTAL (3)
MARIA ESTELA GUEDES
2. JOÃO DA SILVA FEIJÓ, 1783
 

Em 1783 partem para as colónias equipas de filósofos naturais, com o propósito de averiguarem quais os seus limites e riquezas e de nelas implantarem indústrias. João da Silva Feijó é encarregado de explorar Cabo Verde e a actual Guiné-Bissau. Em cartas dirigidas a Júlio Mattiazzi, queixa-se de ser vítima de ameaças de morte, e acusa os despóticos das ilhas. Um dos combates da maçonaria, já o sabemos, é contra o despotismo, em favor da liberdade, igualdade e fraternidade. Parte dos textos de Feijó foi publicada no jornal “O Patriota”, editado no Brasil, numa época em que a palavra “patriota” era sinónima de “republicano”. Em Portugal, a Carbonária é conhecida por ter sido o principal motor da implantação da República.

Por motivos diversos, a bibliografia de Feijó é subversiva, como já tive ocasião de apontar (Guedes & Arruda, 2000). De entre os seus muitos problemas, selecciono o uso anómalo ou em situação anómala do termo “carvoeiro”. Carvoeiros e Carbonários, palavras com a mesma raiz carbono, são designações dos Bons Primos, e BB.’. PP.’. são os IIr.’. que pertencem à Maçonaria da Madeira, ou Maçonaria Florestal. Em artigo publicado n’ O Patriota, Feijó menciona a existência em Cabo Verde de umas aves a que chama “escarvoeiros”. Ninguém sabe a que aves se refere, partindo do princípio de que esteja a falar de pássaros e não a usar a língua das aves para referir os Carbonários.

No manuscrito intitulado “Itinerario Flosofico...”, que contém o primeiro relato conhecido de uma erupção vulcânica na ilha do Fogo, Feijó risca e emenda o topónimo “Carvoeiro”, para ora surgir a palavra “Escarboeiro”, ora “Garboeiro”. Como assinalo em nota de rodapé do artigo em que Luís Arruda e eu divulgámos parte deste ensaio, por vezes Feijó sobrepõe um C ao G, o que propicia dupla leitura, uma delas subordinada à protecção de G. A capital G, presente às vezes na iconografia, à maneira de delta radiante, anuncia a glória do GADU, Grande Arquitecto do Universo, por extenso.

 

Porém o mais notável nesta memória de Feijó é a folha de rosto, como se vê na imagem. As viagens de estudo dos naturalistas designavam-se por “Viagens Filosóficas”. O que está escrito não é isso, sim um neologismo: “Itinerario Flosofico”. O radical “flos”, ou flor, está na origem de expressões como Flos Sanctorum, Flos Medicinae, etc., mas, mais à evidência, “flosófico” significa “sábio da flor”, que o mesmo é dizer, iniciado na Maçonaria Florestal. Floresta, jardinagem, jardineiros, e sobretudo jardineiras, já que na Maçonaria Florestal há lojas femininas, são expressões de código: um dos deveres é o da transformação da floresta em jardim, isto é, o aperfeiçoamento espiritual. Para não restarem dúvidas sobre a assinatura jardineira, Feijó duplicou o sinal de reconhecimento, desenhando flores no rosto de um manuscrito que nunca poderia conter erros nem juvenis bonecadas, por se tratar de um relatório científico dirigido ao ministro da Marinha e Ultramar, Martinho de Mello e Castro.

As cinco flores aparecem dispostas de acordo com um plano de Arquitecto: em duas colunas encimadas por frontão triangular, o que faz do frontispício do ensaio uma referência à fachada do templo maçónico.