esse horizonte onde
chama a distância com o seu poder
heliotrópico e metálico
atrai os olhos que se movem
para a rosácea da cegueira
e o caule impelem
para o foco
mais a corola da cabeleira

foco aceso pela velha guia
ou a pedra eremita
alumiada por hidrângea @ espera
com seu corno e sua garra abruptos
entre as coxas amarelas
de um ovo surrealista
cujo olho verdemente cega

a espuma
que a onda deita
na cama porosa infiltra-se
nos pés da areia
que balbucia enquanto
pela noite embarcadiça
vaga lua em maré cheia

ou do vento ou da espuma
dos dias transoutonais
em que a beleza escoiceia
quando vê a verdade nua
quando ulula sem dizer nada
quando nos dias se esfuma
sem por vestígio deixar um pássaro

mas é aqui que ele há calma
a cria desenvolve-se
no ímpeto de eclodir choca contra a cal
sonhadora de asas no zénite do céu
ainda agora
se agita no primeiro degrau
da escala

o vou repousou
moreno e curvo
sobre os ponteiros de relógio aquático
levados pela tarde
à funda funda gruta
deste minibyte estático


as palavras pensam-se
comovem-se até essas lágrimas de ouro
levam-me pela trela até onde estacam
a ouvir um sopro ligeiro
que não é de vento nem de rosa
@ não o oiço mas sinto-lhe o cheiro




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PORTUGAL-NOVEMBRO DE 2002