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A pega-azul vem a propósito da
pega-rabuda que Padre Armando Ribeiro fotografou num fiorde norueguês
no mês passado. O nosso amigo tem outra relação com estes animais da
família Corvidae, a dos corvos: ele nasceu em Vila Nova de Foz Côa, e esta
zona, mais uma parte contígua em Espanha, era até há poucos anos
considerada a única na Europa onde existia a espécie Cyanopica cyanus.
Passei a vida útil no Museu de História Natural a ler e a ouvir os dois
ornitólogos da casa, G.F. Sacarrão e A.A. Soares discutirem este habitat
tão restrito e distante do que é considerada a área normal de distribuição
da espécie, algures na Ásia.
Deixou-me surpreendida uma já antiga
declaração de Padre Armando Ribeiro, segundo a qual a pega-azul, na sua
terra, tinha comportamento de praga. Eu não devia escrever a palavra
"antiga" nestas circunstâncias, porque, para as coisas da Terra e da vida
nela, quando se fala de alterações elas geralmente têm milhões de anos
para ocorrer. É verdade que eu já não sou a jovenzinha que ouvia o Prof.
Sacarrão falar de pegas e pardais, mas, caramba, as nossas cronologias são
um piscar de olhos à escala da evolução e mesmo do povoamento de
territórios por novas espécies! Isto para dizer que a pega-azul está a
colonizar a Península (e talvez outros pontos da Europa) a uma velocidade
incompatível com as coisas da Natureza, compatível, isso sim, com as
nossas, as coisas do Homo sapiens. E por favor não se atrevam a
dizer que os ornitólogos antigos mais os amadores que querem saber que
espécies existem nos seus quintais não deram conta da existência da
pega-azul fora de Vila Nova de Foz Côa até há uns 10-15 anos, porque nisso
nem os crentes têm fé!
Nos últimos anos a pega-azul tem
sido um manancial de surpresas para mim, porque, a continuar como vai, um
dia destes sobrepõe-se à prima Pica pica, a pega-rabuda, e esta e outras
espécies dependentes do alimento da azul desaparecem, à míngua de
recursos, situação esta que costuma ser a das pragas.
Um dos
artigos de G.F. Sacarrão discute a origem da Cyanopica na Península
Ibérica e põe de lado a hipótese de introdução humana. Julgo que ele
defende a hipótese da relíquia: outrora, a pega-azul devia ocupar vasto
habitat que ia ou vinha da Ásia até Portugal. A espécie desapareceu da
Europa e deixou essa população residual entre nós, confinada, no tempo
dele, a uns poucos quilómetros quadrados de Portugal e Espanha, na zona de
Vila Nova de Foz Côa.
Este assunto já não tem interesse nenhum
agora para a ciência, imagino, de modo que, no ano passado, estive na
Quinta Anema, em Montemor-o-Novo, no Alentejo, lugar onde ocorre a
Cyanopica cyanus, e nem disse nada. Se navegarmos nos sítios
ornitológicos da Internet, vemos que a pega-azul já está em toda a parte,
parece que só lhe falta saltar o Mediterrâneo para colonizar o Norte de
África.
Também já a vi a participar num belíssimo bailado de Luc
Petton, La confidence des oiseaux, e adianto que o coreógrafo
francês também é ornitólogo. Por enquanto, em blocos vários, o
bailado pode ser visto no YouTube. Vale a pena procurá-los e vê-los a
todos. |
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https://youtu.be/gP-KXmtwKlM |
La confidence des
oiseaux |
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Não me pronuncio sobre este assunto da larga
distribuição em Portugal da pega-azul em 2015, quando em 1995 ainda só se
conhecia no sítio das gravuras paleolíticas do Côa, não sou
especialista, mas lá que ele é estranho para o senso comum, isso é!
Um comentário à
foto em baixo: a Quinta Anema pertence ao casal Anema, dois holandeses que
exploram uma queijaria na quinta, mas também recebem turistas.
Interessam-se, claro, pelo seu monte, por isso têm a lista das principais
espécies de plantas e animais que ali podem ser observadas. A ortografia
não é a melhor, é a ortografia de dois "holantejanos", como gracejam o Jan
e a Elisabeth, mas percebe-se perfeitamente que "Pege azul" só pode ser a
Cyanopica cyanus. |
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O mapa da Quinta
Anema com indicação das espécies habitantes. |
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ABELHARUCA,
PICA-PAU, PEGE AZUL, lê-se na lista da Quinta Anema e, à frente do nome, o
desenho de um representante da espécie. |
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Índice antigo |
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Maria Estela Guedes
(1947, Britiande / Portugal). Diretora do Triplov
Membro da Associação Portuguesa de Escritores,
da Sociedade Portuguesa de Autores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV.
LIVROS
“Herberto Helder,
Poeta Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979; “SO2” .
Guimarães Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler
Editora, Lisboa, 1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”,
Guimarães Editores, Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial
Presença, Lisboa, 1985; “O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa,
1987; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”. Galeria
Almada Negreiros, Lisboa, 1987 (colaboração e co-organização); “À
Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores e Associação Portuguesa de
Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”. Lisboa. Museu
Nacional de História Natural-Museu Bocage, 1993; “Carbonários :
Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica Bocage, 1864”. Em
colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto Editora,
1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2005; “A_maar_gato”.
Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la Carbonara”. Lisboa, Apenas
Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C. Cabanel & Silvio Luis
Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2007;
“Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A poesia na
Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de papel”.
Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Geisers”. Bembibre, Ed.
Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas
modernos em Portugal”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010.
“Tango Sebastião”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2010. «A obra ao
rubro de Herberto Helder», São Paulo, Editora Escrituras, 1010;
"Arboreto». São Paulo, Arte-Livros, 2011; "Risco da terra", Lisboa,
Apenas Livros, 2011; "Brasil", São Paulo, Arte-Livros, 2012; "Um
bilhete para o Teatro do Céu", Lisboa, Apenas Livros, 2013;
Folhas de Flandres, Lisboa, Apenas Livros, 2014.
ALGUNS COLECTIVOS
"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de
Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom
homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte.
“O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual.
Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”.
Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009.
Entrada sobre a Carbonária no Dicionário Histórico das Ordens e
Instituições Afins em Portugal, Lisboa, Gradiva Editora, 2010; «A
minha vida vista do papel», in Ana Maria Haddad Baptista & Rosemary
Roggero, Tempo-Memória na Educação. São Paulo, 2014.
TEATRO
Multimedia “O
Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação
Calouste Gulbenkian, com direcção de Alberto Lopes e interpretação
de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de
Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de
Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando
Alvarez e interpretação de Maria Vieira.
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