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REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências

ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE

 

 







Maria Estela Guedes
Foto: Ed. Guimarães

Richard Khaitzine e os mistérios da palavra
 
São sempre chocantes as notícias da morte de alguém, sobretudo quando não estamos à sua espera. Assim aconteceu ontem com a da morte de Richard Khaitzine, um velho companheiro do Triplov e dos colóquios de Alquimia organizados com José Augusto Mourão.

Ainda não fez um mês que Olivier Lima, nos conduziu, a mim, à mãe e a duas amigas, numa visita guiada à Paris noturna, e de súbito, em Montmartre, lembrei-me de Richard Khaitzine, por causa do cabaré Chat Noir. E isso mesmo lancei na conversa dentro do automóvel, ficando a saber que um Chat Noir ainda existia, podendo não ser o original. Pedi para ver, fotografei, do lado de cá da vidraça, mas só o interior do carro ficou na foto, o resto, uma fachada com letreiro luminoso e um gato preto em logotipo, passou à ordem das coisas que, mesmo a serem fotogénicas, não valia a pena ver.

Nos seus tempos áureos, reuniam-se no Chat Noir escritores, músicos, artistas de ramos vários, a exemplo de Erik Satie, Claude Debussy, Paul Verlaine, August Strindberg, e aqueles a quem Khaitzine mais atenção dedicou, na sua peregrinação pelo interior da "linguagem velada", a dos alquimistas, dos diplomatas, dos espiões, mas também dos poetas, e especialmente dos poetas surrealistas, se bem que já em Rabelais, que não foi poeta, Richard Khaitzine tivesse decifrado subcódigos. Embora o seu interesse fosse o discurso hermético, Khaitzine acabou por prestar um bom serviço à literatura, uma vez que alquimistas e poetas usam o mesmo sistema de linguagem, um simbolismo de que o autor fala como sendo uma corrente artística.

Traduzo o primeiro parágrafo do seu artigo "Les mystères de Montmartre" (1):

"No último quartel do século XIX, Montmartre, qualificado pelos artistas como a Nova Atenas, foi um alto lugar do simbolismo, e em especial do Hermetismo, mais conhecido do público pelo nome de Alquimia. Esta corrente artística, como todas as qualificadas como esotéricas, alimentava-se do pensamento dos antigos e sobretudo da arte grega. Os artistas gregos, com Homero à cabeça, não se privaram de temperar as suas obras com o sal ático (de Atenas) ou, dito de outra maneira, com a graça fina ou espírito. Ora espírito era aquilo que a Montmartre não faltava!".

Quem, do lado de Khaitzine, ou seja, do lado hermético, frequentava o Chat Noir? Pois, precisamente, o maior alquimista dos nossos tempos, aquele que Khaitzine tanto estudou e cuja identidade verdadeira descobriu, debaixo do pseudónimo que nós conhecemos bem, das duas obras publicadas em Portugal, com os títulos: "As mansões filosofais" e "O mistério das catedrais" - Fulcanelli, exatamente. Recordo-me de um dia, no curso de um dos colóquios "Discursos e Práticas Alquímicas", ter confessado a Khaitzine: "Fulcanelli é o único alquimista que consigo ler!" Ao que ele redarguiu, com a maior sinceridade: "Mas eu também!" E no entanto, diferentemente de mim, que da Alquimia só conheço algumas ferramentas de exegese, Richard Khaitzine era aquilo que eu consideraria um alquimista. Um alquimista moderno, intelectual, homem de vasta cultura e erudição, cujas retortas e cadinhos eram as palavras e suas combinações.

No TriploV, Khaitzine tem um diretório (2) e na Revista TriploV, de um lote de artigos oferecidos por ele, sairam já os seguintes (3):

  - Alchimie, Gnose, Religions et Physique

 - Argot et langue verte / De Vermot aux mots verts

 - De l’ésotérisme, en général, et de l’alchimie en particulier 

 - Apocalypse now?

 - De l’ère des Poissons à l’ère du Verseau - Pour comprendre l’avenir de l’humanité 

 - La colère de Mère Nature 

 -  Un roi de l’humour noir : Ambrose Bierce 

 - Les confidences d’Arsène Lupin… Des mystères de Rennes-le-Château à l’énigme Fulcanelli

 - Le Vol de la Joconde  

 - Du Da Vinci code aux secrets de Leonardo da Vinci

 - De l’Art  en général et du langage en particulier

 - Gaston Leroux (1868, Paris – 1927, Nice) 

 -  Raymond Roussel - La marche du fou… littéraire

 - La Joconde

  - Du Passepartout, ou Rossignol, à la Langue des Oiseaux 

 - L’affaire de Philadelphie -  Info ou intox?

O reportório de livros publicados pelo autor está atualizado na Wikipédia, e dá conta da importância do trabalho dedicado à literatura, a propósito do discurso velado subjacente a certas obras:

  • La langue des oiseaux, tome 2 : Georges Perec de l'alchimie du verbe à la permutation des mots - Dervy poche - 2012
  • Notre-Dame-de-Paris - de la Colombe du Saint-Esprit à la langue des oiseaux, éditions E/dite, 2011
  • Peter Pan - Approche symbolique, maçonnique et hermétique du conte de fées, éditions La Pierre Philosophale, 2011
  • Le Petit Chaperon Rouge - Approche symbolique, maçonnique et hermétique du conte de fées, éditions La Pierre Philosophale, 2011
  • Le Chat Botté - Approche symbolique, maçonnique et hermétique du conte de fées, éditions La Pierre Philosophale, 2011
  • La petite histoire et la légende de Robin des Bois - Culte de la fertilité et Franc-maçonnerie de la forêt, édition Slatkine,2011
  • Jack London - Vagabondages entre Terre et Ciel, éditions E/dite, 2011
  • Galeries et passages de Paris - A la recherche du temps passé, Le Mercure Dauphinois, 2010
  • Le Syndrome de la pie voleuse, (Roman policier en hommage à Michel Audiard) Médiadit éditions, 2008
  • Le Comte de Saint-Germain, hypothèses et affabulations, Médiadit éditions, 2008
  • Paroles de Messie (roman), Médiadit éditions, 2008
  • Comprendre l'alchimie, Médiadit éditions, 2008
  • La Langue des oiseaux, éditions Dervy poche - version augmentée de deux chapitres inédits
  • Quand la terre gronde…, MCOR, 2006
  • Transformez vos désirs en réalité (guide de visualisation) MCOR – réédition considérablement augmentée de l’édition Presses-Pocket
  • Les Faiseurs d’or de Rennes-le-Château (MCOR) réedition augmentée, 2006 * Marie- Madeleine et le Grand Œuvre, (en collectif- éditions le Miel de la Pierre)-2001, réédité en 2006 à La Table d’émeraude
  • Les Jardins de bagatelle à Paris, (guide histoire et symbolisme), Le Mercure Dauphinois, 2006
  • Marie-Madeleine et Jésus, ce que le Code da Vinci ne vous a pas dit, (M.C.O.R) 2005
  • Paris, secrets et mystères, (guide) – Le Mercure Dauphinois, juin 2004
  • La Joconde, histoire, énigmes et secrets, Le Mercure Dauphinois 2003
  • De la parole voilée à la Parole Perdue, Le Mercure Dauphinois, 2001, réédité en 2003
  • L’Alchimiste la Rose et la Croix, (roman), Éditions Rebis, au Québec sous le pseudonyme de Peter Livingstone 2001
  • Marie- Madeleine et le Grand Œuvre, en collectif, Éditions le Miel de la Pierre 2001
  • Discursos E Pratica Alquimicas II -2001- ouvrage collectif reprenant le colloque de 1999- Lisbonne
  • Ces hommes qui ont fait l'alchimie du XXe siècle, (ouvrage collectif), Éditions Geneviève Dubois, 1999
  • Fulcanelli et le cabaret du Chat noir, Ramuel 1997. En cours de réédition
  • Le Symbolisme maçonnique et hermétique du Petit Chaperon Rouge, 1997
  • Le Symbolisme maçonnique et hermétique de Peter Pan, Ramuel, 1996
  • La Langue des oiseaux, Dervy, 1997
  • Cours d’Alchimie du docteur Alphonse Jobert, Ramuel, 1996.en cours de réédition
  • Avoir ou être. J.C.I, 1995
  • Les Faiseurs d’Or de Rennes le Château, A.J, 1994
  • Le Magnétisme curatif, Dervy, 1994
  • Le Secret de l’éternelle jeunesse, Trédaniel, 1993
  • Guide de la visualisation, Montorgueil, 1992
  • Le Huitième Sceau, Montorgueil, 1991
  • Transformez vos désirs en réalité, Presses-Pocket, 1990
  • Le Ginseng, Veyrier, 1989
  • Le Porteur, le Thaumaturge et autres nouvelles, Éditions Debresse, 1971
 
(1) http://triplov.com/surreal/khaitzine.html
(2) http://www.triplov.com/khaitzine/
(3) http://novaserie.revista.triplov.com/autores/index.html
 
 
 
 
 
 

Maria Estela Guedes (1947, Britiande / Portugal). Diretora do Triplov

Membro da Associação Portuguesa de Escritores, da Sociedade Portuguesa de Autores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV.

LIVROS

“Herberto Helder, Poeta Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979;  “SO2” . Guimarães Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler Editora, Lisboa, 1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”, Guimarães Editores, Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial Presença, Lisboa, 1985; “O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa, 1987; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”. Galeria Almada Negreiros, Lisboa, 1987 (colaboração e co-organização); “À Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores e Associação Portuguesa de Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”. Lisboa. Museu Nacional de História Natural-Museu Bocage, 1993; “Carbonários : Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica Bocage, 1864”. Em colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto Editora, 1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2005; “A_maar_gato”. Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la Carbonara”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C. Cabanel & Silvio Luis Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2007; “Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A poesia na Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de papel”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Geisers”. Bembibre, Ed. Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas modernos em Portugal”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010. “Tango Sebastião”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2010. «A obra ao rubro de Herberto Helder», São Paulo, Editora Escrituras, 1010; "Arboreto». São Paulo, Arte-Livros, 2011; "Risco da terra", Lisboa, Apenas Livros, 2011; Trabalhos da Maçonaria Florestal Carbonária. Lisboa, Apenas Livros, 2012; Brasil, São Paulo, Arte-Livros, 2012. "As Rosas do Freixo", Apenas Livros, Lisboa, 2012; "Brasil", São Paulo, Arte-Livros, 2012; "Um bilhete para o Teatro do Céu", Lisboa, Apenas Livros, 2013.

ALGUNS COLECTIVOS

"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte. “O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual. Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”. Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009. Entrada sobre a Carbonária no Dicionário Histórico das Ordens e Instituições Afins em Portugal, Lisboa, Gradiva Editora, 2010. "Munditações", de Carlos Silva, 2011. "Se lo dijo a la noche", de Juan Carlos Garcia Hoyuelos, 2011; "O corpo do coração - Horizontes de Amato Lusitano", 2011.

TEATRO

Multimedia “O Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação Calouste Gulbenkian, com direcção de Alberto Lopes e interpretação de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando Alvarez  e interpretação de Maria Vieira.