MARIA JULIETA MENDES DIAS
& PAULO MENDES PINTO

Maria de Magdala
a Mulher – a construção
do Culto – o caminho dos Mitos

8.4. O livro

Mas os símbolos em torno de Maria Madalena, ainda tornaram possíveis outras leituras herméticas. Talvez a mais bem conseguida seja a do livro que, em muitas pajelas, a acompanha.

Esteja Madalena em posição de prostração, ou de reflexão, ajoelhada, caída pelo chão, ou sentada, hirta, a partir do século XVII torna-se generalizada a representação da santa com um aparente volume impresso.

No seguimento de um alinhamento mais normativo das representações da santa em relação à estrutura doutrinária do catolicismo, como vimos para a contemplação do cálice, este livro é normalmente tido como um conjunto de regras, de ditames que teriam por ela sido seguidos aquando do seu longo retiro.

Neste sentido, estava-se mais uma vez perante um acto de bem montada catequese, nomeadamente numa época em que se começam a difundir e a vulgarizar as publicações que pretendem levar os leitores a práticas de piedade. Madalena encaixava, e não era a primeira vez, na evolução da religiosidade católica.

Mas, tal como em relação a outros elementos e atributos dados a entidades ambíguas como Maria Madalena, as leituras que destes símbolos se foi fazendo foi diversa e, por vezes, muito distante da funcionalidade que eventualmente estaria subjacente a início.

Podendo este livro ser ainda o Novo Testamento, ou os Evangelhos, estaríamos então perante uma personagem que rememorava a sua própria acção, a vida, morte e ressurreição de Jesus. Estando ela por dentro dessa mesma narrativa sagrada, era fácil e uma grande tentação imaginar que, não se tratariam de Evangelhos alguns, no sentido dos textos assumidos pelo catolicismo, mas sim dos seus, dos apócrifos, de escritos gnósticos.

Mais uma vez, o que se procurava transportar a santa para u horizonte de plena integração nos ditames da época, tornava a empurrá-la para fora desses mesmos horizontes, havendo sempre quem visse nessas simbologias uma forma encapotada de, afinal, manter viva informação oculta.